A guitarra berra alto
10 anos de ‘Sina’
Publicado em 21 de setembro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
Mesmo de cara lavada, os Baggios têm um quê de Black Bloc. Ao eleger a figura de Agapito para encarnar as feridas riscadas na palma das próprias mãos, Julio Andrade (guitarras e voz) mais Gabriel Perninha (bateria) deram um grito de guerra, resolvidos a defender o seu lugar na base da pedrada. Fora do eixo. Fora do beiço de Capilé. E este é só o resumo da ópera.
Impossível assimilar todas as nuances de Sina (2013) sem situar o registro na discografia da banda. Ali, reafirma-se intenções aparentes já no primeiro demo dos Baggios, quando a humanidade enterrada no cu do mundo acendeu os contornos de São Cristóvão no mapa. O melhor de tudo é que Julico não se deu por satisfeito, nem parou por aí.
Diferente do cachorro que persegue o próprio rabo e passa a vida inteira dando voltas no mesmo lugar, a coerência dos Baggios não os impediu de explorar todas as possibilidades expressivas ao alcance de um duo de blues/rock. Submetido ao propósito, o conceito – uma bandeira de trapos fincada no umbigo imundo de paixões passageiras, alheias à geografia -, já tinha se prestado à levada flamenca de “Oh, Cigana”. Em ‘Sina’,contudo, a ousadia os levou ainda mais longe.
Além de carregar as influências evidentes no pretérito da banda (Hendrix, muito stoner rock e Raul Seixas, notadamente), as novas canções parecem arredias às amarras da forma. É possível identificar elementos estranhos à seara cultivada ao longo da década anterior – do funk ao xote. No entanto, os motivos pouco importam. A guitarra de Julico berra alto como nunca. Tudo o mais é firula, contemporização.
O show celebrando 10 anos de ‘Sina’ já foi anunciado pela banda. No próximo dia 14, em espaço a ser divulgado, The Baggios subirá ao palco para reproduzir o segundo álbum de uma discografia impecável de cabo a rabo.