Domingo, 26 De Janeiro De 2025
       
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2019 é fato consumado


Publicado em 24 de dezembro de 2019
Por Jornal Do Dia


Madame empobreceu e mudou de lado

Rian Santos
riancalangodoido@yahoo.com.br
Para todos os efeitos, o ano já acabou. O leitor habituado a sujar as mãos com a tinta dos jornais pode até virar as páginas, ávido por informação, dados e escândalos. Tal relato não mudará nada, entretanto. 2019 é desde já um fato consumado.

Até o dia 31 de dezembro estaremos todos, jornalistas e assinantes, obrigados a um teatro sem muito sentido, sujeitos à formalidade dos calendários. Retrospectivas tentarão tapar o sol com a peneira, contar mais uma vez o já sabido. As listas de melhores do ano não tardam.
Eu, de minha parte, confesso a fadiga derivada de tais artifícios. É certo que Nelson Rodrigues tinha razões muito práticas para defender a validade das reedições, último remédio contra a memória pouca dos consumidores de notícias apressadas. Vivesse na era do streaming, contudo, o meu reacionário favorito talvez não desse conta de tanta lorota divulgada em letra de imprensa. Ele talvez renunciasse à tarefa de redigir a crônica destes dias, estupefato.

2019 nos deixou mais velhos, a mim e a Nelson. A madame das passeatas, um dos tipos surpreendidos nas deliciosas colunas do polemista, por exemplo, viveu o bastante para empobrecer e mudar de lado. Há quem diga que começou a transpirar. Se, antes, atraídas pelos olhos claros de Chico Buarque, as moças de família desafiavam a ordem e engrossavam as fileiras democráticas, elas hoje vão às ruas pedir o fim do Supremo Tribunal Federal e a dissolução do Congresso. Ninguém esperava.
‘Bacurau’ e ‘Parasita’ (não vou nem mencionar o Coringa de Joaquin Phoenix), os filmes mais comentados do ano, causaram um furor mais ou menos previsível, dada a sensibilidade latente nesta altura dos acontecimentos. Eu vi o último no Cine Vitória e gostei bastante, mas não pelas razões alegadas pelos cinéfilos mais engajados, refugos mais ou menos conformados da eterna luta de classes.
365 dias, noves fora nada. Francisco Dantas publicou um livro inédito, mas ninguém disse uma palavra. 2019 foi embora. E já foi tarde.

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