A imagem do Lula
Publicado em 05 de abril de 2025
Por Jornal Do Dia Se
* Emir Sader
Os ataques ao Lula buscam debilitar sua imagem, para favorecer o retorno da direita ao governo. Sabem que, sem essa ação sobre a imagem do Lula, não há possibilidades do retorno da direita.
Lula representa os governos democráticos e populares que lograram, no começo do século, resistir e derrotar o neoliberalismo. Depois da adesão ao neoliberalismo pelo governo tucano do FHC, restou apenas o Lula e o PT como alternativas de esquerda.
Foram governos que privilegiaram as políticas sociais, como contraponto à prioridade do ajuste fiscal, pregado pelo neoliberalismo. O Brasil, o país mais desigual do continente mais desigual do mundo, conseguiu diminuir as desigualdades, não apenas sociais, mas também regionais, com o Nordeste, antes a região mais pobre do país, tendo o maior desenvolvimento econômico e se transformando na região mais dinâmica do Brasil.
O PSOL, que tinha nascido como eventual alternativa ao PT, perdeu essa possibilidade e passou a ser um aliado à esquerda do PT. A polarização no país ficou restrita àquela entre a direita e a extrema direita, de um lado, e o PT, do lado da esquerda.
O PT faz um bom governo, mas não tem conseguido que isso se reflita na opinião pública. Embora o Bolsonaro esteja derrotado, o bolsonarismo sobrevive, com um apoio difícil de compreender, dado que o governo deles não deixou nenhuma herança positiva no país.
É o maior enigma que é necessário compreender. É certo que se forjou um forte sentimento anti-Estado e antipolítica, que termina recaindo sobre o PT, por ter o governo e por se valer do Estado para implementar suas políticas.
O desgaste da imagem do Lula provém daí. Ele é o presidente, representa a política e o Estado diante da sociedade. Resta ainda a sistemática campanha anterior de acusações – todas infundadas – de vinculação do PT à corrupção.
A combinação desses fatores ajuda a entender o desgaste da imagem do Lula. Embora sem nenhuma proporção com as absurdas pesquisas que tentam fazer com que o apoio ao presidente seja ridiculamente baixo. Fosse assim, bastaria o Lula sair às ruas para ser vaiado, o que, caso acontecesse, seria imediatamente aproveitado pela mídia, o eixo da oposição de direita ao governo.
O empenho da mídia é tão militante contra o governo, que a Folha de S.Paulo chegou a desconhecer a importante venda de aviões da Embraer que o Lula conseguiu no Japão. O que faz desconfiar de manipulação das pesquisas do Datafolha. (Recordar que a Folha chegou a emprestar seus carros para os órgãos repressivos da ditadura, o que revela o grau de comprometimento dela com a direita e a extrema direita no país.)
Em suma, a disputa em torno da imagem do Lula está carregada de uma série de fatores e consequências. Quem ataca o Lula, por uma ou outra razão, faz o jogo da direita, queira ou não. Ele representa a esquerda e o obstáculo ao retorno da direita ao governo. Quem trata de debilitar sua imagem, favorece a direita. Não há alternativa.
A imagem do Lula está tão ligada à do Brasil, que o destino dos dois está igualmente conectado. O que suceda com o Brasil tem efeito direto sobre o Lula, assim como o futuro do Lula tem a ver diretamente com o destino do Brasil, e vice-versa.
* Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros