Loucamente apaixonada
Publicado em 12 de junho de 2012
Por Jornal Do Dia
Houve um tempo em que o amor do
outro era imprescindível a minha esti
ma. Necessitava que os olhos de outrem
demorassem por sobre minha pele, movimentos,
olhos, sons, trejeitos. O desejo de
ser amado está muito ligado ao desejo de ser
adorado. Queremos sê-lo por alguém embora
saibamos que o outro igualmente precisa do
mesmo remédio, ambos com efeitos destrutivos.
Mas o homem e a mulher não são apenas
guerreiros que não desistem. Somos uma multidão
de teimosos que insistimos em encaixar
um parafuso numa madeira que nem sempre
é de lei. O motivo do sofrimento dos humanos
com os humanos está na insistência de querer
que dois universos diferentes pensem
uníssono. E a desculpa é que o amor
pode tudo. Pode mesmo. Desde que
pautado no bom senso.
Por muitos anos este meu coração
inquieto não sabia viver sem um
"amor". Passar o dia dos namorados
sem alguém que despertasse meu
espírito consumista seria o mesmo
que um desastre do tipo "meu mundo caiu".
Mas a beleza da vida está inserida na conjuntura
dos anos que compõem as experiências,
muitas delas esculpidas na dor e que nos ensinam
que o outro, definitivamente não nos
pode dar o que não tem para si mesmo.
Há quem ame o amor exibicionista, aquele
que é desenhado para exposição em lugares
públicos; há quem ame o amor intimista – o
que a gente sente na alma e o outro é capaz
de desconhecer por décadas. Há também o
amor amizade que é construído pelo prazer
de estar juntos, pelas afinidades ou pelas cumplicidades,
que parecem a mesma coisa, mas
não é. Enfim, o amor não tem fim nesta lista…
Mas, depois de ter passado por tantas experiências
intensamente amorosas, e como
tive sorte nesta área, vejam só!, finalmente
cheguei num ponto crucial da vida em entender
que eu não preciso me escravizar no
outro para amá-lo. Posso inclusive amá-lo
intensamente sem tê-lo, sem precisar me
submeter aos seus hábitos que ferem, a sua
natureza traiçoeira, aos embates emocionais
da mentira que ousam esconder a verdade
estampada na face. Aprendi a amar a pessoa
mais importante da minha vida: eu mesma,
evidente. Quando Jesus nos ensinou
para amarmos o outro como a nós mesmos,
estabeleceu uma base de sentimento fundamental
ao alcance de quem está além de
nós. Ser feliz é ser singular. A pluralidade,
cedo ou tarde irá se decompor e cada um
voltará ao seu ponto original. Entregar a
própria vida nas mãos do outro é não amar
a vida que tem. Não se dá o coração por
inteiro a quem tem um coração fragmentado.
O coração do homem é feito para
Deus, e os outros vão se encaixando como
peças de um quebra cabeças que não pode
ser o motivo principal para bombear seu
funcionamento emocional. Porque se o
outro acordar de mau humor, o que será de
mim? Entender a independência de cada
universo é fundamental para o amor sobreviver.
E o amor precisa de dois cúmplices:
maturidade (saber o que quer) e caráter
(saber o que escolhe).
Neste dia dos namorados, lamento, (mas
não muito) em dizer que não tenho nenhum
para presentear, embora saiba que
será por enquanto. Costumo ter sorte
(ou seria azar?), já disse. Só preciso
de norte, e eu sei (Mas a loucura
do sul, leste e oeste me entonteia!).
Mas enquanto este amor não vem
continuarei aqui e apaixonada por
mim, encantada com minha independência
emocional, fascinada
com o que Deus me ensina sobre a vida, e
segura, muito segura que meu amor já chegou.
A gente apenas não marcou um encontro
para combinarmos como nos encaixaremos
um no outro em meio a tantas tribulações.
*Cantora, jornalista.