A descoberta proposta pelo gesto
A dança como reflexo da vida
Publicado em 04 de outubro de 2012
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
A Cubos Companhia de Dança iniciou seus trabalhos em 2007, e ao longo dos últimos cinco anos realizou quatro montagens coreográficas, além de participar de diversos Festivais de Dança no Brasil e conquistar os prêmios Funarte de Dança Klauss Vianna (2008) e "O Capital", pelo espetáculo "Reverso" (2011).
Esta semana, a Cubos retorna ao palco do Teatro Atheneu, onde ata as pontas de uma trajetória pontuada por ousadias reapresentando sua primeira montagem, "Brincando" (sábado, às 16 horas), além de apresentar sua empreitada mais recente, o espetáculo "Particular" (sábado, às 20h30).
O Jornal do Dia aproveitou a oportunidade para conversar com o diretor da Companhia. Segundo Rodolpho Sandes, as montagens da Cubos pretendem o sorriso, a reflexão e uma compreensão profunda dos sentimentos que permeiam a vida.
Jornal do Dia – A apresentação de dois espetáculos no mesmo dia sugere um repertório bem razoável para uma companhia sediada em uma cidade como a nossa, com pouca tradição na dança. Como a Cubos consegue alcançar o público que se dispõe a essa experiência? A dança exige alguma espécie de bagagem para a sua fruição?
Rodolpho Sandes – Realmente, apresentar dois trabalhos em um único dia é bem complicado em termos de logística, pois cada trabalho necessita de uma arrumação de palco diferente e um projeto de luz específico. No caso deste sábado, os espetáculos são em horários diferentes, situação que facilita a montagem e desmontagem dos cenários.
Sobre a questão do público, a Cubos trabalha há mais de cinco anos apresentando espetáculos e ministrando oficinas, que são frequentados por um outro tipo de plateia, aquela que não dança. Os nossos espetáculos buscam sempre levar a plateia a sorrir e refletir sobre suas vidas, resgatar situações e sentimentos vividos por cada um.
JD – Qual a intenção dos espetáculos que serão apresentados esta semana, no Atheneu? A dança também constrói discurso, ou se trata de uma experiência restrita ao universo sensível?
Sandes – Os espetáculos desta semana foram construídos em épocas diferentes. "Brincando" é o espetáculo mais antigo do nosso repertório, ele estreou em outubro de 2007 e de lá pra cá já fez dezenas de apresentações. A ideia central dele é mostrar que a nossa criança interior existe e que continua brincando dentro de nós. "Particular" é a mais nova produção, estreou mês passado no próprio teatro Atheneu. É um trabalho mais autoral, repleto de significados para os bailarinos, que de certa forma reverberam na plateia que irá descobrir o nosso particular e se descobrir com os gestos propostos pelo elenco. Foi o espetáculo que mais demorou a estrear, levou vinte e dois meses.
JD – A ficha técnica dos espetáculos é formada por profissionais de diversos segmentos. A gente pode deduzir, a partir de tal informação, que a produção cultural sergipana está finalmente alcançando um certo grau de profissionalização?
Sandes – Sim. Quando produzimos "Reverso", espetáculo que ganhou o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna em 2008, começamos esse diálogo com os outros segmentos artísticos. Foi a primeira vez que convidamos alguém de fora para dirigir, elaborar a trilha sonora e o nosso figurino.
Para "Particular" buscamos o mesmo. A única diferença é que o espetáculo foi dirigido pela própria companhia, deixando o processo mais íntimo e só fomos chamar Iris Rocha (figurinista) faltando quatro meses para a estreia. A Trilha Sonora começou a ser composta em Novembro do ano passado e ficou pronta no mês de junho, com muitas idas e vindas até chegar no ponto necessário.
A cada dia que passa a cena se torna mais profissional, nota-se a qualidade dos trabalhos apresentados pelos grupos sergipanos, que sempre são selecionados para festivais fora do Estado.
JD – Quais os maiores desafios inerentes à montagem de um espetáculo como esse? É possível vislumbrar na ousadia da Cubos a ciência do respaldo conquistado na cena local?
Sandes – O maior desafio ainda é o apoio. A falta de Lei de Incentivo a Cultura no Estado faz com que tenhamos que buscar a apoio em editais federais, ou mesmo a Lei Federal de Incentivo a Cultura. Outro ponto que dificulta é a falta de produtor para capitação de recursos para os projetos, infelizmente os produtores locais trazem os espetáculos de fora e não levam para fora os espetáculos locais, desta forma não geram a ampliação dos trabalhos produzidos por aqui.
Ser ousada é uma marca da companhia, que sempre quis voar longe. Em menos de um ano de formada, fomos estrear no Festival Internacional de Dança em Rio Preto/SP. "Reverso" dançou em cinco cidades fora de Sergipe, ano passado quando todo mundo queria ir para o palco, pedimos a sala de ensaios do Teatro Tobias Barreto para apresentar nosso processo de criação, no final de 2011 demos um passo gigantesco, abrimos nossa sede, o Centro Cubos de Cultura e Artes, local onde ensaiamos, damos e fazemos aula. Recebemos artistas locais e nacionais com o projeto "Cubos Convida", desta forma tentando ampliar as discussões a cerca da dança no Estado e contribuindo para a formação de bailarinos e artistas de dança.