Sessão da Câmara de Vereadores para votar emendas ao Plano Diretor: favorecimento às empreiteiras
Plano Diretor das empreiteiras
Publicado em 07 de outubro de 2012
Por Jornal Do Dia
Kátia Azevedo
Tudo indica que os aracajuanos possivelmente terão que esperar mais um ano para a aprovação do novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Sustentável (PDDUS). Alvo de críticas e polêmicas, a principal ferramenta de ordenamento da cidade deverá ser adiada mais uma vez, se tornando o grande desafio da próxima gestão municipal.
A revisão do próximo PDDUS, em processo de votação na Câmara Municipal Aracaju (CMA), vem sendo marcada por críticas entre vereadores e representantes da sociedade civil organizada, que apontam o descumprindo de normas regimentais e normas da lei orgânica municipal.
Das mais de 170 emendas votadas pelo legislativo municipal, 102 já foram anuladas por apresentarem problemas na forma de votação. Ainda esta semana, a justiça estará se posicionando sobre ação movida pelo vereador Émerson Ferreira (PT) contra a CMA. Segundo o parlamentar, o processo de votação tem vícios formais, que "atropelam o regimento" interno da Casa. "Houve desrespeito ao processo legislativo formal", conclui o vereador, ao acrescentar que a anulação das emendas no atual contexto é importante para preservar a qualidade dos debates para que a cidade não seja prejudicada.
Votações – Por enquanto, a CMA mantém a previsão de retomar a votação das emendas na próxima terça-feira, 9. A decisão foi tomada pelo presidente da Casa, Emmanuel Nascimento (PT). "A nossa intenção é evitar polêmicas, pois alguns vereadores e segmentos da sociedade estavam cobrando que fizéssemos a votação logo e outros queriam que aguardássemos. Então resolvemos adiar para depois da eleição", justificou.
O presidente da Casa destacou ainda que, se houve qualquer desacordo com o Regimento do Plano Diretor nas emendas já apreciadas e votadas, o processo será anulado e toda a discussão vai ser retomada. "Desde a realização das audiências públicas, buscamos elaborar um plano de consenso, com a participação de entidades, da sociedade em geral e de órgãos. E apesar de alguns defenderem que a votação das emendas seja feita logo, entendemos que este período que antecede a eleição pode causar grandes reflexos nesse processo", destacou.
Emmanuel reafirmou que, se algum item feriu o que determina o regimento do PDDUS, será revisto. "Defendemos o interesse do povo de Aracaju e não iremos fazer nada que possa prejudicar a cidade. Se algo estiver em desacordo poderá ser revisto sem nenhum problema", declarou.
Em um ano eleitoral, o documento acabou perdendo força e as votações ficaram comprometidas. Uma boa parte da atual legislatura tenta a reeleição e não teve interesse em votar um tema tão polêmico durante a campanha eleitoral. Enquanto isso, há projetos em tramitação que poderão engessar o próximo plano.
Para representantes da sociedade civil, o que está em jogo é muito mais que o mérito do Plano Diretor em si, mas o próprio papel da Câmara de Vereadores, cuja missão institucional tem sido colocada em xeque ao longo dos anos. Segundo eles, há demora em votar o plano.
O plano seria votado depois do período extraordinário em julho, mas inexplicavelmente deixou de ser votado durante todo o mês de agosto. Após insistentes pedidos dos vereadores da minoria as votações foram retomadas na segunda semana de setembro, mas com um ritmo muito lento. Repentinamente, faltando poucos dias para a eleição, nos dias 25 e 26 de setembro, a maioria decidiu acelerar os trabalhos realizando duas sessões diárias, se estendendo até altas horas da noite, quando o regimento estabelece como horário máximo 19 horas, e votando mais de 100 emendas nos dois dias, quando a média diária até então não superava 8 emendas por dia.
Sob protesto dos vereadores da minoria, que se retiraram do plenário perante o flagrante desrespeito do regimento, a maioria votou essas emendas sem uma leitura e análise prévia, impossível de ser feita porque as emendas foram entregues no início das sessões, e sem debate ou discussão alguma, até em função da justa ausência dos vereadores da minoria.
A CMA chegou a informar o planejamento de duas sessões diárias, de manhã e de tarde, para os dias 01 e 02 de outubro com o objetivo de votar mais emendas. Os representantes da sociedade civil organizada aprovaram a decisão da presidência da CMA em postergar as discussões para depois das eleições e a intenção de anular as votações feitas nas sessões noturnas.
O processo de revisão do PDDUS começou em 2005 e atravessou duas gestões municipais sem sair do papel. Continuou em 2009 no Conselho do Desenvolvimento Urbano e Ambiental do Município de Aracaju (Condurb) e seguiu em 2011 e 2012 com 33 audiências públicas promovidas pelo legislativo. Nelas foram discutidos problemas como a carência de áreas verdes, aumento dos congestionamentos, falta de estacionamentos, calçadas estreitas, desconforto térmico, degradação ambiental e outros.