A PM FOI CHAMADA LOGO APÓS A NOVA FUGA
Internos trancam agentes e fogem da Usip
Publicado em 12 de setembro de 2013
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
Mais uma fuga aconteceu na Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (Usip), no bairro Capucho (zona oeste de Aracaju), por volta das 6h30 de ontem. Os adolescentes detidos nas alas 3 e 4 escaparam depois de, respectivamente, trancarem dois agentes de segurança em uma cela e quebrarem a grade de outra. O Sindicato dos Agentes Socioeducativos de Sergipe (Sindasse) afirma que nove internos fugiram, mas a Fundação Renascer, responsável pela Usip, confirmou a fuga de oito. Dois deles foram recapturados durante a manhã durante rondas e buscas feitas pela Polícia Militar.
Tudo aconteceu durante a "destranca", momento em que os adolescentes são liberados para o café da manhã e as atividades do dia. Dois agentes faziam a liberação dos que estavam na Ala 3 quando foram rendidos e ameaçados com armas brancas que os menores portavam. De acordo com os agentes, tratava-se de chuços e facas improvisadas com ferros de grades quebradas e revestimentos das janelas das alas, feito com policarbonato. Os funcionários não ficaram feridos, mas foram obrigados a entrar na cela e acabaram trancados pelos internos, que escalaram o telhado e pularam para a área externa da Usip usando "teresas" (cordas improvisadas com lençóis).
A movimentação da fuga excitou os ânimos dos quatro menores que estavam na Ala 4 e passaram a quebrar a grade do compartimento e também fugiram pelo telhado. A Polícia Militar foi chamada para reforçar a segurança, enquanto os agentes trancados na Ala 3 eram liberados pelos colegas. Mesmo com o reforço, internos das outras alas começaram a bater nas grades em protesto, o que aumentou muito a tensão dentro da unidade. Apenas quatro servidores estavam de plantão na Usip durante a fuga, porque a categoria está em greve há 36 dias e, desde então, trabalha com apenas 50% do efetivo – em dias normais, o número de agentes varia entre oito e 10. Já os internos da unidade somavam 64 antes da fuga – até o fechamento desta edição, havia 58.
Esta proporção diminuta é apontada como uma das causas da fuga de ontem. Um dos agentes rendidos disse a jornalistas que, com poucos agentes, procedimentos diários como o da "destranca" deixaram os servidores mais vulneráveis à ação dos menores, que aproveitam a existência de qualquer descuido para começar uma fuga. A preocupação é a mesma do sindicato da categoria. "O Sinase [Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas] preconiza que seja no máximo um agente pra cada 5 internos. Nós nos acostumamos a trabalhar com o dobro disso. Neste momento em que estamos em greve, estamos com 64 internos, mas já tivemos momentos de ter 102 internos na unidade, sendo que ela foi projetada para 44 internos. A superlotação dificulta bastante o nosso trabalho nas unidades", aponta o presidente do Sindasse, Sidney Guarani.
Além do efetivo, outros serviços ficaram prejudicados com a greve, incluindo o da visita aos internos, em todas as unidades administradas pela Fundação Renascer – entre elas, o Centro de Atendimento ao Menor (Cenam) e a própria Usip. Os agentes reclamam dos baixos salários, das más condições de trabalho e da falta de um plano de carreira.
Por meio da assessoria, a Secretaria Estadual de Inclusão e Desenvolvimento Social (Seides) informou que uma sindicância será aberta para investigar as circunstâncias da fuga de ontem e de que forma os internos tiveram acesso às armas brancas usadas no incidente. Já o problema da falta de efetivo não foi negado. De acordo com a chefe da assessoria, Joyce Peixoto, muitos agentes aprovados no último concurso da Fundação deixaram os cargos e que não há mais excedentes para substituí-los. Para contornar o problema, a Seides deve abrir ainda neste mês uma seleção excepcional para contratar 50 novos agentes, buscando assegurar que não haja mais sobrecarga de trabalho. Atualmente, são 114 agentes para 170 internos distribuídos pelas quatro unidades socioeducativas.