O pai e a criança que morreu
Carpinteiro se mata após envenenar os dois filhos
Publicado em 24 de setembro de 2013
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
Uma tragédia familiar chocou os moradores do bairro Jardim Centenário (zona norte de Aracaju), na noite deste domingo. O carpinteiro André Gomes Menezes, 30 anos, morreu na Rua E, depois de ingerir um veneno para matar ratos e oferecer a mesma substância a seus dois filhos, que passaram mal e foram socorridos ao Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). O menino mais novo, que tem um ano e sete meses, conseguiu sobreviver e foi logo liberado. Já o mais velho, Andrey Rian Silva Menezes, seis anos, não resistiu e morreu a caminho do hospital. Os garotos, filhos do primeiro casamento de André, moravam no Jardim Centenário com a mãe, Cláudia Regina da Silva, de quem ele estava separado há cerca de sete meses – e ambos disputavam a guarda dos meninos na Justiça.
Tudo veio à tona por volta das 20h30, quando André deixou os garotos na casa da ex-mulher, após passar o fim de semana com eles em Itabaiana (Agreste), onde morava com sua atual companheira – um acordo judicial deu a guarda das dos filhos à mãe, mas permitia ao pai passar um fim de semana com eles a cada 15 dias. Testemunhas relatam que André entregou as crianças e começou a discutir com Cláudia, mas foi apartado pelos outros parentes. Minutos depois da discussão, ele caminhou por cerca de 15 metros e caiu no meio de uma esquina, contorcendo-se de dor e vomitando.
Uma vizinha viu a queda e ao socorrê-lo, teria ouvido o que realmente acontecera. "Chame o Samu, porque eu fiz uma besteira muito grande. Eu dei chumbinho aos meus filhos e depois tomei", teria dito o carpinteiro. Na tentativa de salvá-lo, os parentes e vizinhos chegaram a dar leite, mas o rapaz morreu antes da chegada do socorro. Quase ao mesmo tempo, Andrey apresentou os mesmos sintomas, levando os parentes ao desespero. Os meninos foram levados ao Huse, onde a morte do mais velho foi constatada por volta das 21h30. O mais moço chegou a morder um alimento com veneno, mas não o engoliu por causa de uma deficiência que lhe criou dificuldades para comer.
Conflitos – As versões apresentadas por parentes de André e de Cláudia dão a ideia do grande conflito existente na família. Apesar de divergentes em vários pontos, ambos os lados confirmam que o relacionamento do ex-casal não era bom e que a situação foi agravada com a disputa judicial pela guarda dos meninos.
Patrícia da Silva Santos, tia dos meninos e irmã de Cláudia, afirma que o carpinteiro não aceitava a separação e perseguia a ex-mulher a todo o tempo, chegando a agredi-la algumas vezes e até ameaçar matar os filhos. "Ficava atrás dela, ameaçando. Ela já deu queixa dele, entrou com ação [pela Lei] Maria da Penha, ele não podia chegar perto dela. Depois, ela voltou pra Justiça porque ele pegava os meninos e ameaçava de forma constante, dizendo que ia tirar a vida dos meninos e a vida dela. E antes que a Justiça fizesse alguma coisa, ele cumpriu a ameaça", disse Patrícia.
Já a atual mulher do carpinteiro, Maria Edvânia Teles de Almeida Menezes, com quem o carpinteiro estava há quatro meses, afirmou que ele sempre foi carinhoso com os filhos, mas andava chateado por conta dos atritos com a ex-esposa e até comentou que poderia se matar por causa disso. "Eu sei que eles brigavam muito no juiz, ela não deixava ele ver os meninos, teve que entrar com uma ação para ele poder ver os meninos. Se uma pessoa maltratasse ou falasse mal dos filhos dele, ele ficava doente. Ele tinha uma revolta muito grande porque ele passou um tempo sem pegar as crianças. Ele até ficava sempre falando que ia fazer isso com as crianças. E eu dizia: ‘Rapaz, deixe isso pra lá. Não pense nisso, Vá no juiz, pra ele lhe dar a guarda’", sustenta Edvânia.
As causas das mortes de André e Andrey foram registradas como "indeterminadas" pelo Instituto Médico-Legal (IML). Os laudos de necropsia que vão apontar tal causa devem ficar prontos em 30 dias. O caso será apurado em um inquérito aberto ontem à tarde pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Na mesma tarde, os corpos foram enterrados, sendo o de Andrey no Cemitério São João Batista, em Aracaju, e o de André no Cemitério Campo Grande, em Itabaiana.