O ESTILO “CARCARÁ” DO SINTESE E DA DEPUTADA (3)
Publicado em 14 de junho de 2015
Por Jornal Do Dia
"O tempo passou na janela e só Carolina não viu". O professor Chico Dantas vai buscar na música emblemática de outro Chico, o Buarque de Holanda, a simbologia para definir o que estaria a acontecer com setores que se deixaram suplantar pela rapidez das mudanças ocorridas no organismo social. Nas sociedades abertas, onde não há controles autoritários, e o protesto ou a indignação acontecem sem que os seus protagonistas se transformem em vítimas, a percepção de como essas formas de ativismo se identificam com os sentimentos da sociedade é essencial. Da parte dos ativistas é preciso demonstrar sensibilidade para as reações da sociedade. Quando o autoritarismo perseguia, fazia vítimas, a simpatia com as causas dos excluídos ou perseguidos e injustiçados, era quase automática.
Quando há democracia plena e ampla liberdade de expressão, esses mecanismos de luta precisam ser exercitados de uma forma que não venham a afetar o ritmo normal de vida das pessoas. Assim, uma greve nos transportes é tormento insuportável para os que se vêm privados da locomoção.
Uma greve de agentes da segurança pública deixando a população exposta ainda mais à violência, é algo despropositado, que até incita à violência os que dela se tornam vítimas.
As greves frequentes dos professores que o SINTESE promove e a deputada Ana Lúcia tanto defende, correm na contramão das expectativas da sociedade. Escola fechada é prejuízo social, é desconforto para as famílias, é desesperança em relação ao futuro. Os pais se consideram duplamente vítimas; primeiro, porque são pobres, se não o fossem, estariam com seus filhos nas escolas particulares; segundo, porque enxergam ou enxergavam o ensino púbico como instrumento de uma ascensão social, que perde sentido na medida em que não existe a segurança, pelo menos, de que os anos letivos obedeçam a um calendário definido e confiável. Tempo perdido, as aulas suprimidas na realidade nunca são repostas, e tempo não se recupera. Faz-se um corre-corre, um arremedo de compensação. Alunos fingem que aprenderam, professores fingem que ensinaram. Completa-se a farsa. O ensino público se esfarela.
Pais e mães constatam que ganham menos do que os professores, e que eles e os seus filhos são as vitimas de um processo radicalizado, onde o interesse corporativo fortemente politizado e eleitoreiro, impede a reflexão sensata sobre as consequências sociais das greves.
Os primeiros efeitos da aversão da sociedade já podem ser registrados. Um deles é a estagnação absoluta de uma anunciada candidatura da deputada Ana Lúcia à Prefeitura de Aracaju. As pesquisas mostram que ela não chega aos 5% das intenções de voto. Por sua vez, o Sintese não é um sindicato visto com um mínimo de simpatia no espaço além da orbita restrita dos seus militantes ativistas.
Em vez de um confronto com o governo, o que seria legítimo e perfeitamente normal, o Sintese e a professora Ana Lúcia foram desafiar o senso comum. Começam a ficar isolados, perderam a solidariedade popular indispensável a qualquer movimento social, a qualquer reivindicação de categorias.
Nesse momento delicado em que as teses conservadoras e até claramente reacionárias e antipopulares começam a ganhar espaço, principalmente no Congresso, onde o nefasto Eduardo Cunha comanda o retrocesso social, já se começa em falar na privatização do ensino público. Existe quem assegure que, se isso acontecesse, os gastos cairiam cerca de 30%, e, desde que as agencias controladoras e a sociedade exercessem uma boa fiscalização, não haveria, na merenda escolar, broa mofada e achocolatado podre. (Continua no próximo domingo)