Aluno agride e fere diretora de escola após ser comunicado de suspensão
Publicado em 03 de julho de 2015
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
Mais uma educadora foi vítima de um incidente grave ocorrido dentro de uma unidade da rede pública estadual de ensino. Por volta das 16h30 de ontem, um estudante de 16 anos agrediu e feriu a professora Carla Valéria de Oliveira, 41 anos, diretora da Escola Estadual Senador Lourival Fontes, no bairro Santo Antônio (zona norte de Aracaju). A vítima foi atacada dentro da escola e, além de levar socos e chutes pelo corpo, teve a testa e a nuca cortadas com uma caneta esferográfica que foi quebrada em sua cabeça. Carla foi socorrida por uma equipe do serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levada para o Pronto-Socorro Nestor Piva, no 18 do Forte (zona norte).
A Polícia Militar informou que o autor da agressão tentou fugir, mas foi encontrado em um terreno nos fundos da escola e apreendido por uma equipe do 8º Batalhão (8º BPM), que fazia uma patrulha no entorno da escola e foi chamada pelos alunos da escola. Ele foi levado para a Delegacia Especial de Proteção à Criança e Adolescente (Depca), no Capucho (zona oeste), e autuado em flagrante por lesão corporal grave.
De acordo com a própria diretora, o menor atacou-a por causa de um episódio ocorrido nesta quarta-feira, quando uma bomba explodiu no banheiro masculino do Lourival. Carla explicou aos jornalistas o agressor fazia parte do grupo que detonou o artefato. "Explodiram uma bomba e o mesmo [aluno] de ontem foi expulso, só que ele [o agressor] estava envolvido, mas ele soube que ia ser expulso. Foi só por isso", relatou.
A agressão aconteceu no momento em que o estudante, então matriculado no EJA (Educação de Jovens e Adultos), foi chamado à sala da diretoria e comunicado que receberia uma suspensão por causa do incidente de anteontem. Valéria contou que o ataque aconteceu de surpresa. "Tomei muito murro e acredito que foi uma caneta [que lhe perfurou]. Se fosse uma faca, eu estaria morta", disse a diretora, ainda tensa e chocada, mesmo depois de receber os primeiros socorros. "É difícil demais, é lamentável, é angustiante. Dá medo [ser professor] hoje em dia", lamentou a vítima.
Mesmo depois da chegada da PM, ainda permanecia a tensão entre professores e alunos da Lourival Fontes, que relataram outros casos de violência ocorridos na escola. Entre os relatos, estão invasões de estranhos na escola, consumo de drogas e alunos que circulam com facas no local. Há relatos de que a mesma diretora já teria sido ameaçada por outros alunos e chegou a recusar uma proposta de transferência para outra unidade de ensino. A tensão foi compartilhada por uma irmã e uma cunhada de Carla Valéria, que também estiveram na escola e se revoltaram com o incidente. Ambas relataram que deixaram seus empregos às pressas quando souberam da notícia e ficaram bastante aflitas.
A Secretaria Estadual de Educação (Seed) informou que a professora levou alguns pontos no couro cabeludo e vai ficar um período em repouso, recebendo assistência do órgão. Disse também que as aulas no Lourival Fontes serão retomadas amanhã, mas acompanhadas por uma equipe dos programas Qualivida e Cidadania e Paz nas Escolas, feitos pela Seed em parceria com a Secretaria da Segurança Pública (SSP). A vigilância na escola também deve ser reforçada por uma equipe terceirizada. A unidade de ensino tem hoje 46 servidores efetivos – incluindo quatro vigilantes – e atende a 283 alunos do Ensino Fundamental.
Outros casos – O crescimento da violência em escolas da rede estadual foi discutido em maio deste ano, durante um seminário provido por Seed e SSP, as quais definiram um "protocolo de contingência" para intervir em situações como esta. Na ocasião, o coordenador do Comitê Sergipano de Desarmamento (Desarme-SE), Fábio Costa, admitiu ao JORNAL DO DIA que a incidência de violência escolar em Sergipe é alta, principalmente no que diz respeito aos furtos e arrombamentos, ameaças e consumo de drogas. "Os dados estatísticos ainda são muito difíceis de ser coletado, porque alguns professores têm medo de passar esses dados, mas visualmente, até pela imprensa isso é colocado, o número da violência na escola ainda está alto, tendo em vista a falta de implantação desse protocolo de contingência", afirmou.
Um dos casos mais graves aconteceu em agosto de 2014, quando o professor de biologia Carlos Christian de Almeida Gomes foi ferido com cinco tiros disparados por um aluno de 16 anos, dentro da Escola Estadual Olga Barreto, em São Cristóvão (Grande Aracaju). Christian sobreviveu e se recuperou, depois de 78 dias internado. Já o adolescente se entregou à polícia e cumpriu medida socioeducativa.