As apreensões foram feitas pela Polícia Federal no Estrela do Mar
Agiotas da Colômbia extorquiam pequenos comerciantes no Estado
Publicado em 11 de julho de 2015
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
A Polícia Federal inves-tiga quadrilhas de agi-otas colombianos que agem em Aracaju, emprestando dinheiros a juros muito acima do valor de mercado, equivalentes a até 300% ao ano. Na manhã de ontem, equipes do órgão deflagraram a "Operação Banco da Colômbia" e fizeram buscas em apartamentos de cinco condomínios da zona sul de Aracaju. O objetivo foi cumprir quatro mandados de prisão temporária e cinco de busca e apreensão, expedidos pela Comarca de Nossa Senhora do Socorro. O grupo emprestava dinheiro a pequenos comerciantes, fazendo cobranças diárias e ameaças de roubo e depredação aos que não pagavam suas dívidas.
Os quatro colombianos foram investigados pela PF durante três meses, a partir de escutas telefônicas feitas em outra investigação. Apenas um dos acusados foi preso até o fechamento desta edição: Jhon Edinson Galvis Salazar, o "Pablo", que estava no condomínio Barramares, na Farolândia. Segundo a PF, ele estava em um apartamento alugado com outro colombiano que trabalhava com ele, mas foi liberado porque não tinha prisão decretada e nem estava em situação de flagrante. Outros três colombianos acusados: Ricardo Castaño Mejía, Ferney Jhohany Ríos Gallego, o "Júlio", e Richard Andres Correa Rubino, o "Leonardo", apontado como chefe da quadrilha. Todos, no entanto, não foram encontrados e são considerados foragidos.
De acordo com o delegado federal Márcio Alberto Gomes, que coordenou as investigações, as buscas pelos outros suspeitos aconteceram em endereços que foram monitorados pelos investigadores, nos bairros Atalaia e Coroa do Meio, mas os acusados têm a tática de mudar constantemente de endereço, para não serem localizados. "Eles, sabendo da sua situação irregular a respeito do que fazem, eles terminam mudando de endereço e partido pra outros lugares de Aracaju", disse o delegado, informando que todas as polícias estaduais e os setores de controle de imigração e fronteiras da PF foram avisados sobre a possível fuga dos foragidos.
Nos mesmos apartamentos, a polícia apreendeu documentos, cadernos, agendas, cadernetas e boletos de cobrança, cartões de visita, panfletos, e computadores com o registro dos negócios da quadrilha. "Pablo", por sua vez, foi flagrado com telefones celulares, documentos, uma motocicleta e mais de R$ 7 mil em dinheiro. Salazar agia por conta própria e, segundo a polícia, se preparava para tentar novos clientes no comércio. "Ele confessou de forma tranquila que está no Brasil apenas para negociar empréstimos a juros extorsivos, não apresentou nenhuma outra fonte de renda ou ocupação lícita, e encontramos na casa dele outro colombiano que também que trabalhava com ele na cobrança e no controle de quem pagava e quem devia", explicou.
Como funcionava – A maior parte dos empréstimos investigados foi dada pelo grupo que tinha Castaño e Gallego/"Júlio" como cobradores do chefe Richard/"Leonardo". Geralmente, eles buscavam pequenos comerciantes de vários bairros de Aracaju, oferecendo empréstimos rápidos de quantias entre R$ 1 mil e R$ 5 mil.
"A pessoa precisava ter um pequeno negócio e essa era uma exigência dos colombianos, que faziam uma triagem. Esses empréstimos eram feitos em média a uma taxa de juros de 20% em 20 dias. Os pagamentos eram diários e a pessoa tinha que, todos os dias ou semanalmente, pagar a eles valores pequenos. Se somados, esses valores somam a taxa de 20% de acréscimo sobre o valor emprestado", explicou Alberto. Um exemplo: se uma pessoa tomasse R$ 1 mil emprestados, eles cobravam pagamentos diários de R$ 60, que deveriam ser feitos dentro de 20 dias, perfazendo uma soma de R$ 200 em juros.
As cobranças dos acusados aos que não pagavam as parcelas sempre eram acompanhadas de ameaças graves. "Existia a ameaça de levar produtos de lojas, depredar o patrimônio do comerciante… Tivemos notícias de que teve lojas com vidros quebrados e produtos levados", disse o delegado, afirmando ainda que o total de vítimas dos agiotas ainda não foi contabilizado, mas pode ser "muito grande". "Não podemos mensurar quantas exatamente, porque esses cartões eram repassados indistintamente no centro da cidade e cartazes eram colados na rua, e as pessoas eram atraídas por essa promessa de crédito fácil, sem comprovação ou burocracia. Tinha lojas de toda a Grande Aracaju fazendo a solicitação [de empréstimo] e sendo ‘cliente’ deles", completou.
Salazar, Castaño, Gallego e Richard serão indiciados pelos crimes de agiotagem, extorsão, associação criminosa (formação de quadrilha) e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, eles moram em Sergipe há mais de um ano e estão em situação legal no Brasil, com visto temporário de permanência. Após responderem ao processo judicial, os acusados podem ser expulsos do país e deportados para a Colômbia.