Milton Alves Júnior
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Dois operários mor-reram e mais seis ficaram feridos na tarde de ontem após desmoronamento de guindaste utilizado na construção de prédios para um condomínio residencial, em Aracaju. O colapso foi registrado por volta das 15h45 pela construtora responsável pela obra que acontece no bairro Santa Lúcia, zona Oeste da capital sergipana. Por meio de nota encaminhada pela construtora, no momento do sinistro todos os trabalhadores estavam devidamente equipados com utensílios de segurança, porém a violência do desabamento foi superior aos cuidados com a vida dos profissionais. Para analisar os motivos que teriam ocasionado os óbitos, uma equipe de peritos já deu início às investigações e deve apresentar o resultado do laudo em até 30 dias úteis.
Na tentativa de salvar a vida dos dois operários com ferimentos graves e prestar a devida assistência médica para os demais funcionários a Secretaria de Estado da Saúde (SES), encaminhou para o local seis ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu); duas motolâncias; e duas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Segundo a superintendência do Samu, o primeiro contato solicitando o apoio foi registrado às 15h51, e às 16h07 todas as equipes de socorro já se encontravam no local. Todas as vítimas foram encaminhadas para o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). As seis vítimas resgatadas com vida permanecem internadas, sem previsão de alta médica e sem apresentar risco de morte.
Os operários foram identificados como Orisvaldo Oliveira Dantas Filho; Edmilson Corrêa Santos, de 32 anos; Rivaldo dos Santos, também de 32 anos; Vandir Quitiliano, de 42 anos. Os óbitos foram confirmados por volta das 16h30 e correspondem aos trabalhadores Erisvaldo Freitas de Oliveira, de 44 anos; José Conceição Aráujo, de 28 anos.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Construção Civil, Raimundo Reis, segundos antes de o equipamento tombar, estalos foram ouvidos pelos operários que chegaram a tentar evitar o sinistro. "Ao ser informado dessa fatalidade vim direto para cá a fim de ter conhecimento dos fatos. Infelizmente são mais dois colegas de profissão que perdem a vida de forma trágica. Vamos analisar todos os fatos para saber se houve displicência funcional ou precariedade do equipamento", declarou.
O sindicalista também ressaltou a agilidade do atendimento realizado pelo Samu e pediu a colaboração dos operários que testemunharam o desabamento do guindaste. Para o presidente, a colaboração da categoria é essencial para prosseguir com as investigações. "Não podemos de forma alguma fechar os olhos para situações como essas, então, pedimos que os colegas não temam possíveis perseguições por parte da empresa em que prestam serviços e relatem de fato o que ocorreu nos minutos que antecederam essa situação lamentável. Precisamos agir para evitar que outros colegas percam a vida por falhas muitas vezes que não correspondem à competência do operário, e sim da construtora", pontuou Raimundo Reis.
Ainda abalado com a ocorrência, o auxiliar de obras Fernando dos Santos, amigo de uma das vítimas fatal, disse que a realidade enfrentada por milhares de trabalhadores ligados à construção civil é dura. "Precisamos ficar unidos mesmo e botar a boca no trombone. Já trabalhei em várias empresas e a situação de risco é sempre a mesma. Há anos estamos lutando por maior investimento na nossa segurança, mas essa reivindicação geralmente não é atendida. Não quero dizer nem afirmar que foi o caso de hoje, mas muitas vezes essas máquinas não recebem nenhum tipo de manutenção", lamentou.
Fiscalização – No último domingo, 19, completou um ano do desabamento de um prédio residencial em construção de quatro andares no bairro Coroa do Meio. Na ocasião, quatro pessoas ficaram soterradas por mais de 30 horas, foram resgatadas ainda com vida, mas uma criança de oito meses não suportou o impacto enquanto recebia os atendimentos. De acordo com Leandro Ramos, auxiliar de pedreiro há mais de 20 anos, muitas construtoras não visam a segurança dos trabalhadores como prioridade. "Quem não lembra daquele desabamento trágico na Coroa do Meio e que foi repercutido em todo o Brasil? Infelizmente nossa realidade é essa. Enquanto o lucro for a principal causa dos empresários, e não houver maior investimento na segurança e manutenção desses guindastes, infelizmente as mortes vão continuar", destacou.
Outras vistorias estão previstas para acontecer na manhã de hoje. Órgãos de fiscalização só devem se manifestar publicamente após a colheita das informações.