Ainda na ativa, apesar de todos os modismos e pesares
20 anos de rock nas costas
Publicado em 06 de março de 2018
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Uma banda de rock com vinte anos de estrada nas costas e riffs de dar no couro, firme e forte, à revelia do apetite faminto do tempo. Eis aqui uma boa descrição do poder de fogo reunido sob o propósito da Plástico Lunar. Ainda na ativa, apesar de todos os modismos e pesares, os músicos mais viajandões da cena Serigy voltam a dar a cara a tapa em cima do palco, anunciando um novo trabalho. Contra todas as previsões, estão aí mandando brasa.
O disco mais recente da Plástico sucedeu anos de especulações e alguma ansiedade. Após o seu lançamento, no entanto, ‘Dias difíceis no Suriname’ (2015) nada fez além de confirmar a expectativa mais razoável. Até hoje, nunca se ouviu do quarteto algo com efeito diverso do mais puro veneno.
Barbas de molho, portanto. Quando geral começa a dar a Plástico por morta, os malucos metem o pé na porta e lembram aos desavisados como é que se faz barulho.
Dias difíceis no Suriname – Um fruto nunca cai longe do galho. O desacreditado ‘Dias difíceis no Suriname’, segundo disco oficial da Plástico Lunar, não faz muito arrodeio antes de reivindicar o status conquistado em alguns dos palcos mais importantes do País. O riff rasgado na faixa de abertura entrega o ouro logo de cara. Tratamos aqui de uma banda de rock orgulhosa e consciente da própria condição.
Desacreditado porque o relativo ostracismo dos últimos tempos e o hiato prolongado entre os dois registros oficiais da banda deram margem a toda a sorte de especulações. Coleção de Viagens Espaciais (2009), artigo obrigatório na discografia de qualquer cabeludo com um pingo de juízo na cachola, extraiu o sumo da tradição psicodélica para trabalhar os códigos em voga até meados dos anos 70 sem nenhuma condescendência. Descartada a pieguice colorida do Flower Power, restaram guitarras, desbunde e chapação.
Fez a cabeça de muita gente. Geral queria mais. Agora, no entanto, o tom da conversa é diferente. ‘Dias difíceis no Suriname’ conserva algum senso de humor, mas o sorriso provocado aqui é quase sempre amargo. A altura da viagem é aqui calculada pelos estragos da queda. Composições como ‘Mar de leite azedo’, ‘Labirinto’ e ‘Persona non grata’ têm gosto de ressaca. É como se as composições cobrassem em espécie os tributos gerados pelas dores do crescimento.
Na forma, contudo, a Plástico segue essencialmente a mesma. Um certo frescor pode surpreender os incautos, mas as guitarras não vão decepcionar a seu ninguém.