População acompanha o velório do capitão em ginásio de Porto da Folha
Salva de tiros no momento do enterro do Capitão Oliveira
Publicado em 06 de abril de 2018
Por Jornal Do Dia
População acompanha o velório do capitão em ginásio de Porto da Folha
Salva de tiros no momento do enterro do Capitão Oliveira
Uma cerimônia carrega- da de emoção marcou a despedida da população de Porto da Folha (Sertão) ao capitão Manoel Oliveira, comandante da Companhia Independente de Operações Policiais em Área de Caatinga (Ciopac), que foi assassinado na noite de quarta-feira. O corpo do oficial foi levado à cidade onde ele nasceu, durante o início da manhã de ontem, em cortejo que saiu do velatório Piaf, em Aracaju, e, durante mais de quatro horas, percorreu várias cidades, como Feira Nova, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Dores, Monte Alegre de Sergipe. Por todo o caminho, o militar recebeu demonstrações de reconhecimento da população.
Na chegada em Porto da Folha, por volta das 9h30, o corpo foi levado ao Ginásio de Esportes Eloy Poderoso, onde aconteceu uma missa de corpo presente celebrada pelo capelão da Polícia Militar, padre Juarez Santos Lima. O ginásio ficou lotado de moradores, autoridades locais e estaduais, e policiais civis e militares de Sergipe e de outros estados, como Bahia e Alagoas. Ao longo da missa, muitas homenagens foram prestadas diante do caixão colocado no centro do ginásio. Oficiais da PM alagoana, que fizeram o curso de formação junto com Oliveira na Academia de Polícia Militar Arnon de Mello, em Maceió, prestaram continência diante do corpo.
Em seguida, os soldados do Ciopac, comandados por ele por mais de 10 anos, deram-se os braços e rezaram uma oração ensinada pelo próprio comandante, destacando a coragem e os valores de um soldado adaptado ao ambiente inóspito da caatinga. "Vejo quão generoso fostes a nós guerreiros de caatinga. Deste-nos a resistência ao sol, a sapiência para da natureza tudo aproveitar, a força de vontade para continuar a lutar, e ante o inimigo jamais recuar. Obrigado, Senhor Deus, porque criastes um ambiente onde um ser humano comum não possa sobreviver, pois só os perseverantes e os fortes de espírito aqui conseguem lutar. Brasil! Sertão! Ciopac!", gritaram os militares, sem segurar as lágrimas.
Outro momento emocionante foi a homenagem dos índios xocós, que habitam a região de Porto da Folha e dos quais Manoel Oliveira era descendente. Com os cocares e paramentos característicos, eles cantaram e dançaram o toré, um tradicional ritual fúnebre da tribo. Comunidades quilombolas da região também se despediram do capitão e destacaram sua presença ativa nas lutas e no dia-a-dia das comunidades locais. O corpo foi retirado do ginásio por volta das 11h20 e levado lentamente pelas ruas da cidade, acompanhado por uma multidão. Na chegada do cortejo ao cemitério São Joaquim, um helicóptero do Grupamento Tático Aéreo (GTA) prestou suas honras ao capitão, sobrevoando o cortejo com a bandeira do estado de Sergipe estendida. O caixão foi carregado por colegas do Ciopac, enquanto outros soldados da unidade, aos gritos de ‘Sertão!’, dispararam a salva de 21 tiros de fuzil. Após a despedida dos familiares, o corpo do militar foi enterrado sob um toque de clarim e a oraçãorepetida pelos soldados da companhia. A Prefeitura de Porto da Folha decretou luto oficial de três dias e uma moção de pesar foi apresentada pela Câmara de Vereadores da cidade.
Investigações – As investigações do crime contra o capitão continuam sob sigilo, comandadas pelo delegado DernivalEloi, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). Ontem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) fez mais uma perícia no carro dirigido por Oliveira, que foi atingido por dezenas de tiros, ao passar pelo trevo de acesso a Monte Alegre de Sergipe. Segundo a assessoria do órgão, a polícia quer identificar o tipo de arma usado pelos assassinos e a quantidade de tiros que atingiram o veículo. Estima-se que foram mais de 40 disparos. O veículo está sob custódia do Cope e o resultado das análises nesta nova perícia será anexado ao inquérito policial do caso.
A SSP voltou a afirmar que tem a convicção que o crime foi executado e planejado por um grupo bem articulado, atuante na criminalidade, mas não citou se há relação com ameaças de morte recebidas pelo capitão e denunciadas pela família. Alguns parentes afirmaram que traficantes ligados a uma facção de São Paulo teriam feito essas ameaças, pois estariam descontentes com a atuação incisiva de Oliveira e do Ciopac contra o tráfico de drogas no sertão sergipano. A SSP, no entanto, não confirma e nem desmente a existência de tais ameaças.