DA REPÚBLICA DO GALEÃO A REPÚBLICA DO PARANA
Publicado em 08 de abril de 2018
Por Jornal Do Dia
Em agosto de 1954, oficiais da Aero-náutica instalaram na Base Aérea do Galeão, nos fundos da baia da Guanabara, um Inquérito Policial Militar, IPM. O motivo foi o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, na calçada do prédio na rua Toneleros, em Copacabana, Rio de Janeiro. Lacerda voltava, tarde da noite depois de fazer uma palestra em tom extremado, pregando a derrubada do presidente Getúlio. O major – aviador Rubens Tolentino Vaz acompanhava o jornalista, foi atingido por tiros e morreu. Lacerda escapou apenas ferido no pé. O pesado clima político criava o ambiente propício para um incendiário como Lacerda, com sua inteligência, força de convencimento pela oratória brilhante, tocasse fogo no combustível social que estava à sua disposição. E era isso que ele fazia, quase sempre de forma muito personalista, e sem nenhum senso de equilíbrio ou moderação. O Brasil voltaria a viver página semelhante nos idos do inicio da década dos sessenta, o que resultou na entrada em cena dos militares, com o regime autoritário que durou 21 anos.
Getúlio Vargas, estava no último ano do seu mandato, que fora conquistado pelo voto, cinco anos após a sua deposição pelo exército, que por quinze anos lhe dera pleno aval, até para instalar o Estado Novo, a cara de um Estado fascista, a partir de 1937. Getúlio era um personagem forte, carismático, que da mesma forma que Lula hoje, polarizava as massas. Naquele tempo, ¨as massas¨ ainda eram algo amorfo, e muito fácil de ser explorado. Getulio inaugurou a era do rádio na politica brasileira. Naquele agosto de 54, ele estava encurralado no palácio do Catete, enquanto crescia a arrogância indisciplinada da República do Galeão. Os oficiais-aviadores praticamente já haviam feito desmoronar a autoridade do presidente, e as suas bases de apoio os trabalhadores, estavam se voltando contra ele próprio, por causa da inflação, a ¨carestia¨, como se chamava na época. A república do Galeão convocava para depor, prendia quem não comparecia, e já havia desvendado o crime, por trás do qual estava o mando de Gregório, um negro espadaúdo que era chefe da guarda pessoal de Getúlio, que aquela altura já desfizera a guarda.
Gregório foi preso, torturado, o mesmo aconteceu com o pistoleiro Climério, que confessou o crime, mas não havia nenhum traço de ligação do fato com o presidente. A República do Galeão porém, tudo podia, e tudo fazia.
Baixou o pano do espetáculo de desordem, desmontagem institucional, indisciplina nos quarteis, virulência nas tribunas, ódio estampado nas páginas dos jornais, quando o presidente deu um tiro no peito e deixou o legado da carta histórica aos brasileiros.
Um detalhe a ser considerado: a República do Galeão simbolizava a desconsideração total ao Estado Democrático de Direito. No episódio não se enxerga a presença de um magistrado, de um promotor, de um ministro do Supremo, de inquéritos policiais legalmente produzidos, da acusação e da defesa, enfim, era o próprio atropelamento das liberdades.
A República de Curitiba é uma confraria plenamente constitucional de togados. Nela, não chegou, ou a ela foi levado, alguém, que não estivesse acompanhado por um advogado. Condenado por ela, não houve um só que antes não fizesse percorrer pelos tribunais os seus recursos. Dela não saiu um só condenado que não houvesse deixado as marcas dos próprios dedos, ou da omissão ou conivência com o maior assalto aos cofres públicos já ocorrido no Brasil, ou até, dizem: no mundo.
Uma observação: Na República de Curitiba, nasceu, por mais que se goste ou desgoste do juiz Sérgio Moro, o protagonismo, ou ativismo, como queiram denominar , nasceu o marco da entrada da Justiça, do Ministério Público, da Policia Federal, naquele esgoto que a politica brasileira escondia, e o seu mal cheiro incomodava os brasileiros, agredia o conceito de ética, de cidadania. O esgoto acabou ?
Absolutamente não. Pelo contrário, merece agora um espaço enorme dentro do palácio que simboliza a República Federativa do Brasil.
Na República de Curitiba chega agora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Que pena, seria ele o nosso primeiro Prêmio Nobel da Paz, se não houvesse pisado nas águas turvas do esgoto.
E aqui surge a pergunta crucial: Sem pisar no esgoto é possível governar o Brasil?
Caberá proximamente aos eleitores dar a devida resposta. E ela não acontecerá se o voto se perder na atração pelos extremismos, simbolizados hoje em duas vertentes opostas: o que exibe um fuzil como arma para endireitar tudo,( o poder das armas ), ou o que agita bandeiras, derrubando cercas , fechando estradas, incendiando pneus, ( o poder popular ).
Outra observação : Lula, antes de dirigir-se a Curitiba, rezando missa por Dona Mariza e tendo ao lado o cardeal Humes, sem algemas, por decisão expressa do Juiz Moro, que nem a isso precisaria se referir, porque o uso está vedado, pelo Supremo Tribunal Federal; naquela foto, deveriam estar, por solidariedade, ou como colegas de prisão, por terem sido parceiros de todas as cenas anteriormente acontecidas, Michel Temer, Jucá, Padilha, Moreira Franco, Aécio Neves, Jose Serra, Rocha Loures, coronel Lima, advogado Yunes, e por ai vai, a lista é longa…
Mas Lula no seu discurso antes de seguir para Curitiba perdeu a grande oportunidade de dirigir ao país um apelo pela pacificação, pela tolerância, pela concórdia. Parece que não pensou no país, afundou no seu egoísmo, desapareceu na dimensão do seu gueto. Pena, ele que foi presidente da República duas vezes do Brasil, não parece ter pensado no Brasil, nos pobres, aos milhões, que ele retirou da miséria. De arrogância e radicalismos guerreiros é do que, hoje, menos precisamos.