Painel de cerâmica de Eurico Luis no Parque dos Cajueiros está abandonado
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Novo comando
Publicado em 08 de abril de 2018
Por Jornal Do Dia
Belivaldo Chagas assumiu o governo do Estado, sábado de manhã, depois de uma semana muito conturbada na política brasileira. No mesmo momento em que ele discursava na Assembleia Legislativa, a Polícia Federal se preparava para prender o ex-presidente Lula, que participava de missa em homenagem a Marisa Letícia, em São Bernardo do Campo/SP.
Belivaldo é um homem de estilo apaziguador, o contrário do governador que saiu, Jackson Barreto, acostumado nos embates populares e que não tem papas na língua. Alias, JB em seu último discurso como governador, na noite de sexta-feira durante inauguração da duplicação da Avenida Euclides Figueiredo e do calçadão da Zona Norte, deixou claro: a partir de agora não deixará nada sem resposta e vai mostrar todas as contradições dos adversários.
Belivaldo tem um perfil de lealdade que surpreende na política dos dias atuais. Cria do conterrâneo Antonio Carlos Valadares desde a época em que foi governador do Estado (1987-1990), ficou no grupo até o momento em que foi praticamente expulso, em 2015, por ter decidido permanecer ao lado de Jackson Barreto. Foi vice-governador de Marcelo Déda e tem uma sólida ligação com a Assembleia Legislativa, onde exerceu quatro mandatos de deputado estadual.
De estilo conciliador, mas exigente no cumprimento de metas e determinações, Belivaldo terá que apagar muitos incêndios antes de partir para a sua candidatura à reeleição, depois do São João. O primeiro passo é sentar para negociar com os exigentes sindicatos dos servidores públicos que, com razão, reclamam dos atrasos freqüentes nos salários desde o final de 2016. Apesar de participação direta no governo JB como secretário da Casa Civil, a condição de governador impõe outras condições numa negociação.
No rápido discurso de posse que fez ontem de manhã na Assembleia Legislativa, Belivaldo Chagas ressaltou a sua passagem pela Secretaria da Educação nos governos Déda e primeira fase de JB, uma das áreas mais conflituosas do governo. "Nos governos Marcelo Déda e Jackson Barreto ocupei a pasta da Educação. Pelo diálogo, consegui pacificar o entendimento de que os confrontos não devem ultrapassar os limites do interesse público. Pudemos nos dedicar ao processo de atualização pedagógica do nosso sistema de ensino e aparelhamos a estrutura física do sistema educacional.", destacou.
Belivaldo mostrou que não pensa em culpar Jackson Barreto pelas dificuldades econômicas enfrentadas pelo Estado. "Creio ter sido Jackson o governador sergipano que enfrentou, durante o seu mandato, a maior soma de dificuldades, a maior avalanche de inesperados problemas. Nesse tempo de uma convivência político-administrativa que se transformou em amizade e grande respeito mútuo, pude conhecer melhor a figura humana de um político e a sua absoluta fidelidade ao ofício a que se dedicou e continuará se dedicando: o ofício nobre de usar o poder para servir ao povo com a característica exemplar de não usá-lo em beneficio próprio. Ao lado de Jackson Barreto, enfrentamos os piores momentos da crise brasileira e os seus perversos efeitos em Sergipe. Não fosse a pertinácia do governador para superar os problemas e os obstáculos dessa alongada quadra de incertezas e equívocos, não fosse a sua luta constante, Sergipe teria sofrido muito mais."
Deixou claro que a sua condição de candidato à reeleição não fará com deixe de adotar medidas duras exigidas pela situação financeira do Estado. "A crise financeira que Sergipe atravessa resulta, basicamente, de um modelo de previdência que está esgotado e precisa ser revigorado. Trata-se de um desafio a ser urgentemente enfrentado, mas, para isso, é preciso que se estabeleça um nível de sintonia e consenso em torno das medidas indispensáveis. Costuma-se dizer que essas são questões inapropriadas em época de eleições. Ao contrário, acredito que o debate político se fará valorizado e produtivo na medida em que aprofundar a discussão sobre questões urgentes e que têm sido, historicamente, relegadas a um segundo plano."
Belivaldo foi ovacionado após o discurso e festejado por lideranças sindicais e dos movimentos sociais. A sua primeira semana como governador de fato, no entanto, não será nada fácil, a começar pelo pagamento da folha salarial dos servidores referente ao mês de março, que deve começar na quarta-feira após o repasse do Fundo de Participação, cada vez menor.
A despedida de JB
Na noite de sexta-feira, durante a cerimônia de entrega da duplicação da avenida Euclides Figueiredo e do calçadão e da área de lazer erguidos no bairro Porto Dantas, o ainda governador Jackson Barreto fez um discurso emocionado. "Fiz as obras que precisava; não fiz mais porque não tivemos condições. Fizemos um governo com ética. Não existe nódoa na nossa administração. Podem não gostar de mim, mas ninguém vai me acusar de ladrão", afirmou ao dizer que está de volta à luta pela defesa do estado de direito democrático ao observar que o País está passando por um momento muito delicado, com risco de perder a sua democracia.
E enfatizou: "Parece que os tempos difíceis da ditadura querem voltar. O Brasil está correndo risco com o aumento da pobreza e a falta de liberdade. Os combatentes, os que tiveram coragem de combater a ditadura estão sendo convocados a voltar para defender o País, a liberdade, o estado de direito democrático. Quem enfrentou a ditadura e um tribunal militar não tem medo da luta. Eu pensava em ir para casa, mas a democracia está ameaçada. Estou de volta à luta. Só sairei quando o povo me mandar para casa".
Jackson destacou ainda que toda sua trajetória na vida pública foi dedicada a cuidar das comunidades mais carentes. "A cidade cresceu, mas fico feliz quando observo que fui o primeiro prefeito a pavimentar o Porto D’Anta com paralelepípedo. A trajetória da minha vida pública foi cuidar da população pobre e carente das periferias de Aracaju. Fui o prefeito que começou o calçamento na ponta da Asa. Estive aqui na véspera da eleição de Edvaldo e uma moradora falou ‘eu acredito nele porque ele trouxe pavimentação no Alto da Jaqueira’. Minha vida foi assim", acentuou.
Ele lembrou também que, como prefeito da capital, fez a pavimentação, praça, escola no Santos Dumont e em todos os bairros da zona norte e periféricos da capital sergipana. "Nunca fui governador e prefeito das elites, mas do povo porque eu vim do povo. Quem pensa que o povo é tolo está se enganando. Nunca perdi minha vinculação com o povo, porque respeito as minhas raízes. Sei que governei com dificuldades, enfrentando uma crise sem tamanho, mas levamos obras a todos os municípios sergipanos pensando em melhorar a qualidade de vida da população", concluiu.
De fato, obras marcantes.
Será mesmo candidato?
Em 2014, a família Amorim e o seu grupo político entraram na disputa pelo governo do Estado como favoritos, garantiram uma robusta aliança política, esbanjaram dinheiro e chegaram a anunciar a composição do secretariado antes da eleição. Perderam por 123 mil votos para Jackson Barreto.
Em 2018, o grupo perdeu musculatura – a exceção de André Moura, que agora é o principal líder da oposição -, e Edvan Amorim, que era o braço político e financeiro da família, suspendeu suas atividades empresariais e se desfez da chamada "Rede Ilha de Rádio", que agia como a antiga "Rede Cabaú de Notícias" da década de 1980, denegrindo os adversários.
Mesmo assim o senador Eduardo Amorim se apresenta como candidato a governador. Será?
O secretário do Sintese
O professor Josué Modesto dos Passos Subrinho assume nesta segunda-feira o comando da Secretaria da Educação, com apoios de peso: o Sintese, a deputada estadual Ana Lúcia e o vereador Iran Barbosa.
Ex-reitor da UFS e secretário da Fazenda na última etapa do governo Jackson Barreto, Josué tem histórica ligação com o grupo, foi do PT e tem uma visão de Educação completamente diferente da do ex-secretário Jorge Carvalho, de quem foi adversário na disputa interna na UFS, inclusive quando disputou o seu primeiro mandato para reitor.
Uma curiosidade: o mesmo Sintese que na sexta-feira usou sal grosso, criolina e arruda para lavar a calçada do Palácio de Despachos numa forma de comemoração pelo fim do governo JB, é quem promove a ascensão do novo secretário da Educação, num governo tipicamente de continuidade. O novo governador sempre teve voz ativa na administração anterior e Josué era o dono do cofre.
A posição de Edvaldo
A presença do prefeito Edvaldo Nogueira ao ato de filiação de Belivaldo ao PSD, na tarde de sexta-feira, deu uma basta nos boatos de que nestas eleições ele seguiria o deputado federal André Moura (PSC), líder do governo Temer no Congresso Nacional. Edvaldo é grato a Moura pelo apoio que tem recebido para a captação de recursos juntos a órgãos do governo federal e tende a apoiá-lo na disputa para o Senado – votará também em Jackson. Mas para o governo apóia Belivaldo, candidato do grupo político do qual sempre fez parte.