Domingo, 19 De Janeiro De 2025
       
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As imagens que perduram


Publicado em 10 de abril de 2018
Por Jornal Do Dia


Menos um homem, mais uma ideia

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Domingo eu fui à 
praia. E a juventu-
de dos corpos bronzeados, a alegria dos casais de olhos perdidos no horizonte, seduzidos pelo céu em fogo e o marulho, lavou-me as retinas inflamadas nas redes sociais. Ninguém odeia à beira-mar.
Há imagens que perduram, no entanto. O ano da graça de 2018 não será lembrado pelo incêndio de um pôr-do-sol ordinário na Cinelândia. Mas pela fotografia de um ex-presidente condenado em juízo, nos braços da multidão.
Reconhecer o feito, a síntese de um momento que ultrapassa as cismas, crenças, as simpatias e filiações individuais, é diferente de assinar embaixo, sem acrescentar nenhuma vírgula à legenda. A narrativa subjacente ao registro feliz de Francisco Proner Ramos serve, sim, à construção de uma grandeza impossível aos viventes de carne e osso. Ali, Lula é menos um homem, mais uma ideia.
Carregado em procissão, feito um santo de barro, o personagem já não é senhor dos próprios passos. Reunida em torno de sua figura adorada, uma força centrípeta, ao contrário, a massa anônima dá as cartas e desafia a ordem – um ritual de sagração.
Eu vejo amigos com o rosto pintado de vermelho, agitando bandeiras, prontos para pegar em armas, preparados para a guerra. E não os reconheço mais. Cada cabeça uma sentença. Eles carregam o seu líder nos braços, sem passado e afetos próprios, sujeitos da história. Eu compro uma briga diferente e, sem uma palavra de júbilo ou tristeza, molho os pés descalços na água salgada do mar.

Domingo eu fui à  praia. E a juventu- de dos corpos bronzeados, a alegria dos casais de olhos perdidos no horizonte, seduzidos pelo céu em fogo e o marulho, lavou-me as retinas inflamadas nas redes sociais. Ninguém odeia à beira-mar.
Há imagens que perduram, no entanto. O ano da graça de 2018 não será lembrado pelo incêndio de um pôr-do-sol ordinário na Cinelândia. Mas pela fotografia de um ex-presidente condenado em juízo, nos braços da multidão.
Reconhecer o feito, a síntese de um momento que ultrapassa as cismas, crenças, as simpatias e filiações individuais, é diferente de assinar embaixo, sem acrescentar nenhuma vírgula à legenda. A narrativa subjacente ao registro feliz de Francisco Proner Ramos serve, sim, à construção de uma grandeza impossível aos viventes de carne e osso. Ali, Lula é menos um homem, mais uma ideia.
Carregado em procissão, feito um santo de barro, o personagem já não é senhor dos próprios passos. Reunida em torno de sua figura adorada, uma força centrípeta, ao contrário, a massa anônima dá as cartas e desafia a ordem – um ritual de sagração.
Eu vejo amigos com o rosto pintado de vermelho, agitando bandeiras, prontos para pegar em armas, preparados para a guerra. E não os reconheço mais. Cada cabeça uma sentença. Eles carregam o seu líder nos braços, sem passado e afetos próprios, sujeitos da história. Eu compro uma briga diferente e, sem uma palavra de júbilo ou tristeza, molho os pés descalços na água salgada do mar.

 

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