Francisco Dantas não troca a fazenda Lajes Velha por nenhum lugar no mundo
Sucesso internacional Serigy
Publicado em 24 de abril de 2018
Por Jornal Do Dia
Espantosa, a facilidade dos sucessos procla- mados pelos colegas de imprensa. O sujeito viaja com uma tela lambuzada de tinta embaixo do braço e, de regresso, é adulado como se fosse um Jenner Augusto perdido no tempo. Súbito. De mãos beijadas. Nem a Tieta de Jorge Amado foi à forra tão rápido assim.
Nas províncias da mais obstinada mesquinharia só a ponte aérea consagra. Nem a crítica, nem a fortuna, nem o aplauso. O sucesso é um passaporte carimbado.
Em 14 anos de jornalismo cultural, jamais topei com o dito cujo sucesso. Há, por aqui, farto, valor e talento. A satisfação plena, o feito inapelável de uma obra-prima, entretanto, eu nunca vi.
De todo modo, os nossos artistas viajam. Há um tal de Gildecio Costaeira, leio a notícia em um semanário distribuído pela internet, que de uma hora pra outra mereceu o predicado de "sucesso internacional". Ainda chora as dificuldades próprias do ofício, então não se dobra às cascatas de leite e mel vertidas pelo mercado de arte, movimentado por cifras de muitos milhões. Mas funga o cangote da Glória, o viajado "gênio" sergipano.
Há, por outro lado, quem não arrede o pé da aldeia. Esta semana, por exemplo, Joésia Ramos e o Teatro do Cordel da Rabeca apresenta espetáculo inspirado na obra de Francisco Dantas em praça pública. O escritor não troca o chão da fazenda Lajes Velha, onde renovou o Romance de 30, por nenhum lugar no mundo. E, talvez por isso, jamais conheceu a celebridade duvidosa, fedendo a peixe, anunciada em letra de jornal.
Viajem, portanto, artistas sergipanos. De preferência, à Europa. A imprensa da terrinha lhes aguarda de plantão no Aeroporto Internacional Santa Maria, indiferente a méritos e teorias estéticas, disposta a cortejos e micaretas, com um cetro e uma coroa de cartolina à mão.