AS NEGOCIAÇÕES PARA A DESOCUPAÇÃO DA ÁREA INVADIDA NA COROA DO MEIO COMEÇARAM NO INÍCIO DA MANHÃ DE SÁBADO. POR VOLTA DAS 11 HORAS, AS FAMÍLIAS COMEÇARAM A DEIXAR O LOCAL
Após tiros e muito tumulto, acordo permite a transferência de invasores
Publicado em 13 de maio de 2018
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
Um incidente ocorri-do na noite desta sexta-feira acirrou a tensão entre a Prefeitura de Aracaju e integrantes de uma ocupação do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), no bairro Coroa do Meio (zona sul de Aracaju). Uma integrante da ocupação, Natanele Pereira dos Santos, 18 anos, foi atingida com um tiro no peito durante uma abordagem de guardas municipais a um grupo que chegava de carro à ocupação, chamada ‘Marielle e Anderson Vivem’. Houve tumulto durante a abordagem, que de acordo com a Prefeitura, foi para verificar uma suspeita de que pessoas portavam drogas na ocupação.
A garota foi socorrida pelos manifestantes e levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Fernando Franco, no conjunto Augusto Franco. Ali, ela foi operada e transferida para o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), onde passou por avaliação de uma equipe de cirurgia torácica. A paciente recebeu alta na manhã de sábado. Um dos médicos que a atendeu informou que um projetil de uma arma de fogo foi retirado do corpo da garota e que rastros metálicos foram achados no ferimento sofrido pela por ela. "Ele ficou alojado na região esternal, entre a pele subcutânea e o osso do esterno. Por milagre, esse projetil não penetrou a caixa torácica. Se penetrasse, a bala iria atingir a aorta do coração", disse o médico do posto, na gravação.
Inicialmente, informou-se que o tiro teria sido dado com balas de borracha, o que acabou negado depois queos integrantes do MTST gravaram e divulgaram um vídeo que mostra os médicos e enfermeiros retirando o projétil do peito da vítima. Os dois guardas envolvidos na ocorrência foram afastados das funções e tiveram as armas apreendidas para investigação. "Não há ainda nenhuma confirmação de que o ferimento na vítima Natanaele dos Santos tenha sido causado por projétil de arma de fogo disparado por algum integrante da corporação, porém a direção da Guarda Municipal já recolheu as armas dos guardiões envolvidos no evento para a realização de perícia", informou a PMA, em nota.
O conflito de versões aparece ainda na explicação de como os tiros foram disparados. Tudo aconteceu após a abordagem de dois integrantes da ocupação que chegavam a um dos barracos. Enquanto os dois eram detidos, um grupo de sem-teto se aproximou dos guardas e questionou a prisão, dando início ao incidente. A PMA afirma que eles portavam maconha e cocaína, o que levou a GMA a detê-los. "Ao notar que eles seriam presos, dezenas de pessoas da ocupação começaram a atirar pedras e pedaços de madeira, além do disparo de rojões contra a guarnição. Foram efetuados disparos de contenção deflagrados para o alto com o propósito de afastar a turba e abrir caminho para a condução dos suspeitos à delegacia", diz a Prefeitura.
A advogada do MTST, Isadora Brito, negou a versão e afirma que ela é uma tentativa de "crimiknalizar um movimento social". Em entrevista à rádio CBN, ela alegou que os disparos dados pelos guardas acertaram os barracos montados na ocupação, e que Natanaele estava na cozinha, preparando o jantar que seria servido às famílias do acampamento. "Ela foi atingida na cozinha. A guarda disparou os tiros de dentro do carro. Foram mais de cinco tiros e um atingiu essa mulher. Não havia nenhum confronto e nenhuma manifestação por parte do movimento, não houve afronta e nem desrespeito [da parte dos sem-teto]. Foi um ato covarde, foi assustador, brutal", acusou Isadora.
Com a confusão, dois dos que foram abordados conseguiram fugir. Os outros três foram encaminhados à Delegacia Plantonista Sul, no Augusto Franco. Duas queixas foram registradas, sendo uma pela GMA e outra pelo MTST. O incidente deve ser investigado pela 4ª Delegacia Metropolitana (4ª DM).