Quinta, 23 De Janeiro De 2025
       
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Lembrando o Campo de Aviação


Publicado em 05 de fevereiro de 2019
Por Jornal Do Dia


 

* Raymundo Mello
(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)
 
Desde o final do ano passado, 
notícias nos chegam – atra-
vés dos diferentes meios de comunicação – informando que logo o ‘Aeroporto de Aracaju’ será privatizado.
Pois bem! Aviação foi sempre um dos assuntos prediletos de meu pai, o ‘Memorialista Raymundo Mello’, que começou a sua vida profissional trabalhando como despachante de aviões comerciais, não no atual aeroporto, o ‘Aeroporto Santa Maria’, mas no velho ‘Campo de Aviação’, situado na atual avenida Maranhão, no bairro Santos Dumont.
Por conta dos seus íngremes anos de trabalho na área, na última reforma do aeroporto a Infraero prestou-lhe uma homenagem, expondo num memorial sobre a aviação comercial em Sergipe uma notável fotografia sua em pleno exercício da função.
Esta semana, por conta destas notícias sobre privatização – não sabemos o que pode acontecer -, fui ao aeroporto e fotografei toda a mostra, a título de documentação da memória. E aproveitei para sorver um pouco sobre o meu velho pai nos anos da sua juventude.
Trago, então, hoje, para os caros leitores, uma das muitas memórias por ele escritas sobre a aviação comercial em Sergipe nos seus primórdios. O texto, originalmente publicado na ‘Gazeta de Sergipe’, foi republicado aqui no ‘Jornal do Dia’ na edição de 9 de setembro de 2015, sob o título "Lembrando o Campo de Aviação", que mantenho nesta publicação. Boa leitura pra todos!
Fala, Raymundo Mello!
– Do meu tempo de ‘despachante de aviões comerciais’ (DC-3/C-47) – no ‘Campo de Aviação de Aracaju’ – guardo muitas lembranças. Companheiros da Agência onde eu era empregado, principalmente a dupla de patrões – Sobral e Barbosa -, amigos, que viam em seus auxiliares, como eu, colaboradores da firma e não simples empregados (sai um, entra outro). O tratamento e relacionamento entre patrões e empregados era humanizado, e isso criava certos vínculos de amizade entre todos, como entre os ‘Mosqueteiros de Dumas’ – "um por todos, todos por um".
‘Ao correr da pena’ (hoje, bico da caneta esferográfica) eles vão repovoando a minha memória; vejo-os em suas atividades como se com eles eu ainda estivesse, na rua São Cristóvão n.º 79 – centro de Aracaju ou lá no velho campo de aviação, simples, sem conforto, poucas instalações, mas cheio de calor humano; passageiros que embarcavam ou desembarcavam aqui no "velho campo" eram acolhidos por funcionários alegres, cordiais, sempre prontos a atendê-los.
Na empresa à qual estive ligado por muitos anos, desfilavam – permitam-me, ladys first –   Virgínia, Enaura, Dilma (que ainda encontro vez por outra) e os rapazes da época, Carvalho, Cândido, Aguiar, Corbal, que, posteriormente, tomaram outros caminhos (formados, concursados no serviço público, etc.). Entre eles e elas, alguns compadres com afilhados que muito prezo. E tem ainda, João, Henrique, Protásio (na pista); Valença, Josete, Afonso, Enivaldo, radiotelegrafistas (dedo na tecla e fone nos ouvidos), sempre nos transmitindo tudo ligado à ‘Aviação Comercial’, à segurança de voo, e onde estava o avião (pousou aqui, pousou ali, decolou agora de tal lugar), enquanto nos preparávamos para estar no campo na hora certa, de 4 às 20 horas, diariamente, e, ocasionalmente, em outros horários, noites e madrugadas a dentro, em casos de atrasos ou voos extras que sempre aconteciam – aviões com média de 24 poltronas e Aracaju, sem outras vias de escoamento, o jeito era recorrer-se aos voos extras. Passageiros não faltavam para as companhias aéreas, tanto a que agenciávamos como as demais.
Por aqui transitavam diariamente, além da Transcontinental/Real, Lap (Linhas Aéreas Paulistas), Lab (Linhas Aéreas Brasileiras), Viabras (Viação Aérea Brasil), Aerovias Brasil, Aero Geral, Lan (Linhas Aéreas Nacional) e as empresas clássicas Panair do Brasil e Cruzeiro do Sul. Aos poucos foram-se incorporando uma à outra e, quando, afinal, no Governo Luiz Garcia, o ‘Aeroporto Santa Maria’ foi aberto ao tráfego, vieram Loide Aéreo Nacional, Vasp (Viação Aérea São Paulo), Itaú Linhas Aéreas, Varig (Viação Aérea Riograndense), com suas aeronaves maiores, grande porte e que também foram se incorporando uma à outra; a Panair foi fechada pelo governo e hoje temos um lote menor de empresas, mais eficientes (às vezes), atendendo ao movimento local.
Não posso deixar de citar Robson dos Anjos, Amaral, Valença, Mauro, Nivaldo, Resende e tantos outros que sustentaram, com boa vontade e coragem, o tráfego aéreo por aqui – incluo José Figueiredo, oriundo da Aerovias Brasil, que não aceitou a transferência que lhe foi oferecida pelo Consórcio que encampou sua empresa e foi trabalhar na Agência da Nacional Transportes Aéreos com o comerciante Tennysson Freire, do qual tornou-se sócio e, quando a Nacional Transportes Aéreos foi encampada pela Real, eles continuaram com sua grande empresa, ‘Casa da Lavoura’, desbravando novas áreas de negócio.
Figueiredo exerceu no Estado importantes cargos, inclusive, Presidente do Banese, [tendo lançado, posteriormente,] um livro sobre a sua vida. Não li o livro, mas acho que ele não relatou o que conto dele agora. Do despachante (como eu) Zé Figueiredo.
Era seu costume, ao fechar o ‘Relatório de Peso da Aeronave’, dirigir-se à estação da FAB (estação-rádio), onde conversava com o sargento radiotelegrafista de serviço. Quando voltava para o estacionamento onde atendia o avião, para não arrodear muito, ele saía da casa da FAB e pulava uma pequena cerca que separava a pracinha do estacionamento. Certa vez, ele não calculou bem a distância para o pulo, então, a bainha da calça enganchou no arame farpado. E aí, não deu outra: Figueiredo, preso pelo arame, caiu de cara no chão. Ele não tomou conhecimento – levantou, liberou a bainha, sacudiu uma mão na outra e dirigiu-se para seu trabalho, sem olhar pra trás. Depois, comentou com toda calma: "Foi um susto danado, mas já passou".
Outra interessante: estávamos despachando aviões juntos, eu o da Real, ele o da Aerovias Brasil. Época de lançamento dos slogans publicitários das companhias aéreas. "Aerovias Brasil – transporta o progresso", era o dele. E aí, ele, tendo terminado o despacho de seu voo antes do meu (da Real), fez a chamada para embarque de seus passageiros bem empolgado: "Ao embarque, senhores passageiros da Aerovias, a empresa que transporta o progresso". E eu, na mesma tonalidade dele: "E a Real transporta os passageiros". Quem ouviu e entendeu, riu. Sem ressentimentos, brincadeira de colegas amigos.
As lembranças do nosso velho campo de aviação – hoje ‘Aero Club de Sergipe’ – ainda têm muito a oferecer. Muito mesmo. (…).
* * *
E.T. – Dedico esta memória de hoje ao meu caríssimo ‘João da Cruz’, irmão, membro da ‘Fraternidade Santo Antônio (de São Cristóvão)’ da ‘Ordem Franciscana Secular’, que tenho o privilégio de integrar. Domingo último, na nossa reunião mensal, João me disse ser um leitor assíduo e ‘colecionador’ destes humildes artigos que publicamos! Na sua pessoa abraço todos/as os/as irmãos e irmãs da fraternidade com um caloroso "Paz e Bem!", assim como todos os sancristovenses. Meu pai, apesar de ter-se criado em Boquim, ali nasceu, na ‘Rua das Flores’.
* Raymundo Mello é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br

* Raymundo Mello

(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)

Desde o final do ano passado,  notícias nos chegam – atra- vés dos diferentes meios de comunicação – informando que logo o ‘Aeroporto de Aracaju’ será privatizado.
Pois bem! Aviação foi sempre um dos assuntos prediletos de meu pai, o ‘Memorialista Raymundo Mello’, que começou a sua vida profissional trabalhando como despachante de aviões comerciais, não no atual aeroporto, o ‘Aeroporto Santa Maria’, mas no velho ‘Campo de Aviação’, situado na atual avenida Maranhão, no bairro Santos Dumont.
Por conta dos seus íngremes anos de trabalho na área, na última reforma do aeroporto a Infraero prestou-lhe uma homenagem, expondo num memorial sobre a aviação comercial em Sergipe uma notável fotografia sua em pleno exercício da função.
Esta semana, por conta destas notícias sobre privatização – não sabemos o que pode acontecer -, fui ao aeroporto e fotografei toda a mostra, a título de documentação da memória. E aproveitei para sorver um pouco sobre o meu velho pai nos anos da sua juventude.
Trago, então, hoje, para os caros leitores, uma das muitas memórias por ele escritas sobre a aviação comercial em Sergipe nos seus primórdios. O texto, originalmente publicado na ‘Gazeta de Sergipe’, foi republicado aqui no ‘Jornal do Dia’ na edição de 9 de setembro de 2015, sob o título "Lembrando o Campo de Aviação", que mantenho nesta publicação. Boa leitura pra todos!
Fala, Raymundo Mello!
– Do meu tempo de ‘despachante de aviões comerciais’ (DC-3/C-47) – no ‘Campo de Aviação de Aracaju’ – guardo muitas lembranças. Companheiros da Agência onde eu era empregado, principalmente a dupla de patrões – Sobral e Barbosa -, amigos, que viam em seus auxiliares, como eu, colaboradores da firma e não simples empregados (sai um, entra outro). O tratamento e relacionamento entre patrões e empregados era humanizado, e isso criava certos vínculos de amizade entre todos, como entre os ‘Mosqueteiros de Dumas’ – "um por todos, todos por um".
‘Ao correr da pena’ (hoje, bico da caneta esferográfica) eles vão repovoando a minha memória; vejo-os em suas atividades como se com eles eu ainda estivesse, na rua São Cristóvão n.º 79 – centro de Aracaju ou lá no velho campo de aviação, simples, sem conforto, poucas instalações, mas cheio de calor humano; passageiros que embarcavam ou desembarcavam aqui no "velho campo" eram acolhidos por funcionários alegres, cordiais, sempre prontos a atendê-los.
Na empresa à qual estive ligado por muitos anos, desfilavam – permitam-me, ladys first –   Virgínia, Enaura, Dilma (que ainda encontro vez por outra) e os rapazes da época, Carvalho, Cândido, Aguiar, Corbal, que, posteriormente, tomaram outros caminhos (formados, concursados no serviço público, etc.). Entre eles e elas, alguns compadres com afilhados que muito prezo. E tem ainda, João, Henrique, Protásio (na pista); Valença, Josete, Afonso, Enivaldo, radiotelegrafistas (dedo na tecla e fone nos ouvidos), sempre nos transmitindo tudo ligado à ‘Aviação Comercial’, à segurança de voo, e onde estava o avião (pousou aqui, pousou ali, decolou agora de tal lugar), enquanto nos preparávamos para estar no campo na hora certa, de 4 às 20 horas, diariamente, e, ocasionalmente, em outros horários, noites e madrugadas a dentro, em casos de atrasos ou voos extras que sempre aconteciam – aviões com média de 24 poltronas e Aracaju, sem outras vias de escoamento, o jeito era recorrer-se aos voos extras. Passageiros não faltavam para as companhias aéreas, tanto a que agenciávamos como as demais.
Por aqui transitavam diariamente, além da Transcontinental/Real, Lap (Linhas Aéreas Paulistas), Lab (Linhas Aéreas Brasileiras), Viabras (Viação Aérea Brasil), Aerovias Brasil, Aero Geral, Lan (Linhas Aéreas Nacional) e as empresas clássicas Panair do Brasil e Cruzeiro do Sul. Aos poucos foram-se incorporando uma à outra e, quando, afinal, no Governo Luiz Garcia, o ‘Aeroporto Santa Maria’ foi aberto ao tráfego, vieram Loide Aéreo Nacional, Vasp (Viação Aérea São Paulo), Itaú Linhas Aéreas, Varig (Viação Aérea Riograndense), com suas aeronaves maiores, grande porte e que também foram se incorporando uma à outra; a Panair foi fechada pelo governo e hoje temos um lote menor de empresas, mais eficientes (às vezes), atendendo ao movimento local.
Não posso deixar de citar Robson dos Anjos, Amaral, Valença, Mauro, Nivaldo, Resende e tantos outros que sustentaram, com boa vontade e coragem, o tráfego aéreo por aqui – incluo José Figueiredo, oriundo da Aerovias Brasil, que não aceitou a transferência que lhe foi oferecida pelo Consórcio que encampou sua empresa e foi trabalhar na Agência da Nacional Transportes Aéreos com o comerciante Tennysson Freire, do qual tornou-se sócio e, quando a Nacional Transportes Aéreos foi encampada pela Real, eles continuaram com sua grande empresa, ‘Casa da Lavoura’, desbravando novas áreas de negócio.
Figueiredo exerceu no Estado importantes cargos, inclusive, Presidente do Banese, [tendo lançado, posteriormente,] um livro sobre a sua vida. Não li o livro, mas acho que ele não relatou o que conto dele agora. Do despachante (como eu) Zé Figueiredo.
Era seu costume, ao fechar o ‘Relatório de Peso da Aeronave’, dirigir-se à estação da FAB (estação-rádio), onde conversava com o sargento radiotelegrafista de serviço. Quando voltava para o estacionamento onde atendia o avião, para não arrodear muito, ele saía da casa da FAB e pulava uma pequena cerca que separava a pracinha do estacionamento. Certa vez, ele não calculou bem a distância para o pulo, então, a bainha da calça enganchou no arame farpado. E aí, não deu outra: Figueiredo, preso pelo arame, caiu de cara no chão. Ele não tomou conhecimento – levantou, liberou a bainha, sacudiu uma mão na outra e dirigiu-se para seu trabalho, sem olhar pra trás. Depois, comentou com toda calma: "Foi um susto danado, mas já passou".
Outra interessante: estávamos despachando aviões juntos, eu o da Real, ele o da Aerovias Brasil. Época de lançamento dos slogans publicitários das companhias aéreas. "Aerovias Brasil – transporta o progresso", era o dele. E aí, ele, tendo terminado o despacho de seu voo antes do meu (da Real), fez a chamada para embarque de seus passageiros bem empolgado: "Ao embarque, senhores passageiros da Aerovias, a empresa que transporta o progresso". E eu, na mesma tonalidade dele: "E a Real transporta os passageiros". Quem ouviu e entendeu, riu. Sem ressentimentos, brincadeira de colegas amigos.
As lembranças do nosso velho campo de aviação – hoje ‘Aero Club de Sergipe’ – ainda têm muito a oferecer. Muito mesmo. (…).

* * *

E.T. – Dedico esta memória de hoje ao meu caríssimo ‘João da Cruz’, irmão, membro da ‘Fraternidade Santo Antônio (de São Cristóvão)’ da ‘Ordem Franciscana Secular’, que tenho o privilégio de integrar. Domingo último, na nossa reunião mensal, João me disse ser um leitor assíduo e ‘colecionador’ destes humildes artigos que publicamos! Na sua pessoa abraço todos/as os/as irmãos e irmãs da fraternidade com um caloroso "Paz e Bem!", assim como todos os sancristovenses. Meu pai, apesar de ter-se criado em Boquim, ali nasceu, na ‘Rua das Flores’.

* Raymundo Mello é Memorialistaraymundopmello@yahoo.com.br

 

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