CARNAVAL OU JUSTIÇA SOCIAL?
Publicado em 01 de março de 2019
Por Jornal Do Dia
Evidências anestesiadas no "carnaval da injustiça social", incapazes de quebrar os rígidos privilégios, as perpétuas diferenças e promover as rupturas. No menor estado brasileiro, o "bloco da injustiça social" acolhe em seu "cercado" duzentos e quarenta e um mil sergipanos em miséria absoluta, mais que dez por cento da população estadual
* Manoel Moacir Costa Macêdo
Carnaval ou justiça social? Os dois. Estruturas da história e identidade pátria. No dizer popular, nesse país, o ano inicia após o carnaval. Alegoria ao carnaval como espécie do gênero da cultura e da arte do povo brasileiro. Representação de alegria, ritmos, cores e faces do samba, maracatu, frevo, axé e da "fubica elétrica de Dodô e Osmar". Carnaval de três dias, das marchinhas comportadas de dúbios sentidos, das matinês, serpentinas, confetes, afoxés e igualdade antropológica e libertária na rua. Não é o carnaval de sete dias, da privatização dos espaços públicos, dos cercados por robustas cordas, dos lucros exorbitantes, dos trios elétricos estridentes, luxuosos e profissionalizados, da violência, dos exageros sexuais e drogas consentidas ou não, enfim de uma suposta anestesia social do panis et circenses (pão e circo).
O dia vinte de fevereiro, espremido no menor mês do ano, definido pela Organização das Nações Unidas – ONU, como o "Dia Mundial da Justiça Social". Carnaval com mais gente, menos fantasia e mais realidade, mais tropical e menos temperado, festa sem cordas onde cabe todos, inclusive os "barrados do baile". O objetivo não é estar "dentro ou fora dos blocos, atrás ou ao lado do trio elétrico", na Sapucaí ou fora dela, mas chamar a atenção do mundo, dividido de um lado, pelos que lutam pela vida abaixo da linha do equador – os desiguais. Do outro, os do hemisfério superior, as minorias da modernidade e avanços civilizatórios. Uma divisão entre humanos de primeira e terceira categorias, ricos e pobres, desenvolvidos e subdesenvolvidos, emergentes e emergidos, ou ainda, os postulantes ao "país do futuro", que nunca chega neles. Uma peleja noutro campo entre Brasil versus Alemanha.
A ONU propõe que o mundo nesse dia, concentre as suas mentes e alegrias sãs, na promoção do emprego, do trabalho digno, da igualdade de gênero, da erradicação da pobreza, do acesso ao bem-estar e a justiça social. Dignidade conquistada por minoritárias sociedades, algumas movidas pela exploração histórica do homem pelo próprio homem, a exemplo do "holocausto da escravidão negra".
O Brasil no passado, foi visto por visionários camaradas como o "País do Carnaval". No tempo de cinco séculos, essa jovem nação no calendário milenar da humanidade, permanece envelhecida em mazelas inaceitáveis no Século XXI. As marcas da colonização escravocrata, marcam o "carnaval de desesperados" em ruídos de exclusões, a maior delas, a desigualdade, afronta aos fundamentos de uma nação cristã. É inaceitável o desprezo aos filhos paridos num mesmo solo e ungidos pelo sinal da mesma fé, transformados em mercadorias de menor valor e excluídos do viver humano. Carecem do mínimo e indispensável à sobrevivência do corpo e da alma. Não tem justificativa, a aceitação embriagada das abismais diferenças entre brasileiros encarnados na Terra de Santa Cruz.
Evidências anestesiadas no "carnaval da injustiça social", incapazes de quebrar os rígidos privilégios, as perpétuas diferenças e promover as rupturas. No menor estado brasileiro, o "bloco da injustiça social" acolhe em seu "cercado" duzentos e quarenta e um mil sergipanos em miséria absoluta, mais que dez por cento da população estadual. Quase um quarto da população rural é analfabeta. O "país do carnaval e da injustiça social", alberga em seus "cordões, afoxés e blocos", trinta milhões de analfabetos em suas diversas definições, doze milhões de desempregados, assassina violentamente trezentos e cinquenta mulheres e ao menos um LGBT todos os dias. Isso ascende aos estandartes da "banalidade do mal". Rogamos ao "Deus brasileiro" que patrocine o "carnaval da justiça social", os blocos da fraternidade e os bailes dos incluídos. Quão bom e suave é viver unidos como irmãos na marchinha da paz, condenados a fatalidade do bem e da harmonia.
* Manoel Moacir Costa Macêdo, engenheiro agrônomo, advogado e PhD pela Sussex University, Brighton, Inglaterra