Causa mortis
Publicado em 10 de abril de 2019
Por Jornal Do Dia
No Brasil, a cor da pele mata. O alto índice de letalidade policial tem vítima conhecida: a população negra. Os episódios se sucedem. Num dia, uma família vira alvo de oitenta tiros, no Rio de Janeiro. No outro, um designer de interiores é abatido sem chance de defesa, na periferia de Aracaju. Entre um incidente e outro, apenas uma coincidência: o biotipo das vítimas.
Não existem dados quantificando o número de cidadãos abatidos por policiais no exercício do ofício em Sergipe. Mas ninguém duvida que abusos sejam cometidos todos os dias. No caso local aqui em tela, por exemplo, a Secretaria de Segurança Pública ainda reluta em responsabilizar os policiais civis que efetuaram os disparos. A impunidade é regra.
Embora os dados nem sempre estejam à mão, a letalidade policial é uma realidade conhecida da população negra em qualquer cidade do Brasil. Para os pretos e pobres, policial fardado e bandido são dois lados da mesma moeda, inspiram o mesmo receio, tudo farinha do mesmo saco.
Não é para menos. As explicações para o assassinato de um cidadão em pleno gozo dos seus direitos no bairro Bugio não devem tardar, por mais nebulosas que sejam as circunstâncias. A questão de fundo, no entanto, é mais abrangente. A letalidade policial, eufemismo adotado pelas autoridades para tentar abafar os casos de abusos resguardados pela farda, deveria ser tomado como uma medida do despreparo policial no diálogo com a população. E, no entanto, os dados muitas vezes não chegam nem mesmo a ser reconhecidos e computados.