No auge
**PUBLICIDADE
Moraes, menino
Publicado em 14 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
Um amigo, professor do Instituto Federal de Sergipe, doutor em Filosofia da Religião, conta de Empédocles. Segundo ele, ao ser informado da morte súbita de um filho, o filósofo reage com a maior naturalidade do mundo:
– Eu não o julgava eterno, não o queria para semente!
Bem assim…Ao contrário de Empédocles, no entanto, a maioria dos homens não acredita sinceramente na própria finitude. O sujeito faz planos, faminto de alvoradas, apostano jogo do bicho. Daí o espanto, ao receber notícia da indesejada das gentes.
Ontem foi Moraes Moreira, amanhã pode ser o leitor, este jornalista que vos escreve.A inconveniência da morte, no entanto, não é desculpa para uma vida passada em branco. Quando Rimbaud inventou a poesia moderna, não era mais do que um fedelho com as calças curtas molhada sde mijo.
Acabou Chorare – Em certa medida, Moraes Moreira foi tão longe quanto o poeta, antes de esnobar as musas e pular do colo de Verlaine, para tratar de ganhar dinheiro. Os Novos Baianos não inventaram a música popular brasileira de inflexão hiponga. Mas os dois melhores discos da banda, realizados sob uma nuvem doce de maconha, passaram na maior de todas as provas, indiferentes à voragem do tempo.
‘Acabou chorare’ (1972) e ‘Novos Baianos F.C.’ (1973), ápice criativo do conjunto, podem ser ouvidos hoje,par a par com qualquer lançamento da hora, sem prejuízo do barato. Lá se vão quase 50 anos. Música boa não envelhece.
Velhos, mais das vezes, ficam os homens. E nem sempre melhoram com o tempo, como ocorre aos vinhos. Compreende-se: Ninguém alisa os próprios cabelos brancos com as mãos limpas de uma criança. Às vésperas de acertar as contas com Deus, a maioria encareta.
Felizmente, não foi o caso de Moraes Moreira. Morreu aos 72, tinindo, trincando. Foi e será sempre um malandro, um moleque do Brasil, livre, leve e solto, sem sacola.