A alcunha de Power Trio poucas vezes fez tanto sentido
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Uma sangria desatada
Publicado em 28 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
Os discos do trio Taco de Golfe soam sempre como uma sangria desatada.Há algo ali de um vulcão em erupção, uma represa que arrebenta, uma boiada que estoura.
‘Nó sem ponto II’, lançado há poucos dias, segue a mesma linha dos primeiros registros. Os temas alinhados em um ‘crescendo’ sem descanso fazem alusão a um sentido mais ou menos vago de caos e urbanidade. Em termos estritamente musicais, no entanto, a vibração é a mesma de antes. A música como que jorra, uma profusão de notas inflamadas, aos borbotões, em golfadas.
Desta vez, Gabriel Galvão (guitarras), Filipe Williams (baixo) e Alexandre Damasceno (bateria) descem a munheca em dez faixas autorais, com pendor histriônico,dando corpo a uma longa suíte deformada.A vibração é incandescente.Peles e pratos reverberam,um pulso bem marcado. Os amplis berram ainda mais alto.
Nunca será demais repetir que se trata aqui de instrumentistas de mãos cheias. O que fazem em cima do palco, entre as quatro paredes do estúdio, tanto emociona quanto impressiona. Virtuoses sem pose, os três músicos extrapolaram certas convenções da música instrumental, amparadas em evoluções harmônicas com intervalos demarcados para improvisos e números solo. Pois a assinatura da Taco de Golfe pode ser identificada justamente na alquimia de uma sonoridade singular. A alcunha de Power Trio poucas vezes fez tanto sentido.
Difícil imaginar um aficionado por música passar incólume pelas faixas de ‘Nó sem ponto II’. Por certo, desde a primeira nota, um fluxo contínuo de energia transborda das caixas de som, impregnando tudo, com urgência irrefreável.