E daí?
Publicado em 10 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia
Não é à toa que mesmo os mais liberais entre os economistas torcem o nariz para o minis- tro Paulo Guedes. A confusão recorrente entre investimento e custo depõe contra o bom senso e a inteligência do Posto Ipiranga. No governo de turno, sensibilidade social é gasto.
Mesmo quando quer se mostrar disposto a remediar a dor dos mais vulneráveis, Guedes apela para o argumento falacioso. Garantias trabalhistas, por exemplo, impediriam a geração de empregos. A concessão de auxílio financeiro em caráter de emergência aos desamparados pela pandemia é tratada como desleixo fiscal. O vocabulário do ministro dá um banho na falta de trato do presidente. Em verdade, no entanto, os dois estão perfeitamente sintonizados. No fim das contas, Guedes afirma por meio de palavras mais rebuscadas: E daí? Repete, assim, a pergunta cruel do presidente Bolsonaro.
"Esse compromisso de sensibilidade social e de responsabilidade fiscal é justamente a marca de um Congresso reformista, de um governo determinado, e de lideranças políticas construtivas que temos hoje no Brasil".
É por essa e por outras que o País demora a sair do buraco. Guedes se manifesta em um contexto mais abrangente, quando se contam 14 milhões de brasileiros abandonados ao deus dará, desempregados e 230 mil mortos pela pandemia. A maior preocupação do ministro, no entanto, é cumprir o teto fiscal.
Neste particular, Guedes encarna a face mais saliente do governo Bolsonaro. Não há agenda. Afeito a chavões dissociados da realidade, preso a abstrações ideológicas distorcidas, de falso pendor liberal, alheio à urgência do momento presente, o ministro dá de ombros para a principal prerrogativa de qualquer gestor público. Dane-se o populacho.