NA REDE PÚBLICA, DOS 85 LEITOS DISPONÍVEIS EM SEIS HOSPITAIS, 69 JÁ ESTÃO OCUPADOS, INCLUSIVE NO HUSE; NA REDE PRIVADA JÁ SÃO OCUPADOS ATÉ LEITOS RESERVADOS PARA CONTINGENCIAMENTO
UTIs de hospitais sergipanos lotam e entram em risco de colapso
Publicado em 27 de maio de 2020
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com leitos exclusivos para casos de pacientes com coronavírus podem entrar em colapso a qualquer momento no Estado. Alguns hospitais da capital já estão com a capacidade esgotada e estão tendo que recorrer a leitos disponíveis no interior ou a vagas do próprio hospital destinadas a outros tipos de doença. Dados da própria Secretaria de Estado da Saúde (SES) já apontam para a possibilidade de colapso no sistema de saúde, com o crescimento rápido dos casos da doença e dos pacientes que dão entrada em estado grave.
De acordo com o boletim divulgadoanteontem (o mais recente divulgado até o fechamento desta edição), 299 pacientes com coronavírus estavam internados, sendo 139 em leitos de UTI e 160 em leitos clínicos. O Estado tem hoje 161 vagas de UTI, com 81,2% de ocupação na rede pública e 92,1% na rede particular. A situação mais grave era a do Hospital São Lucas, um dos principais da rede particular de Aracaju, que tinha 28 pacientes em estado grave para 26 leitos de UTI, o que a colocou com taxa de ocupação de 107,7%. A explicação é de que a unidade intensiva do São Lucas tinha 26 vagas destinadas a casos de Covid-19, sendo 20 para adultos e seis pediátricas, e que o excedente foi alocado em leitos de contingenciamento.
Já no final de semana, a situação se repetiu no Hospital de Cirurgia, que abrigou 12 pacientes na ala reservada aos pacientes de convênios e do Ipesaúde (servidores públicos do Estado e dependentes), mesmo tendo ela 10 vagas, o que equivale a 120% de ocupação. No último boletim, os pacientes excedentes foram transferidos e a taxa caiu para 100%, mesmo índice alcançado pelo Hospital Gabriel Soares (da rede Hapvida), que estava com todos os cinco leitos de UTI ocupados. E os hospitais Primavera e da Unimed estavam, cada uma, com apenas com duas vagas disponíveis para pacientes com coronavírus.
Na rede pública, a situação não é diferente. O Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), em Aracaju, alcançou os 100% de ocupação em sua UTI, com 28 pacientes internados. Já o Cirurgia, em sua ala destinada ao Sistema Único de Saúde (SUS), a ocupação foi de 95%, com apenas uma vaga disponível e nove ocupadas. As unidades com mais vagas de UTI disponíveis eram o Hospital Regional Jessé Fontes, em Estância, com cinco leitos; e os hospitais universitários de Aracaju (quatro leitos) e Lagarto (cinco).
Uma situação que acendeu o sinal de alerta nesse sentido aconteceu neste domingo, quando dois idosos, tiveram que ficar seis horas em ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), esperando a liberação de vagas em UTIs. Um senhor de 91 anos e a filha dele, de 63, apresentaram sintomas de coronavírus foram socorridos em casa, na Avenida Carlos Burlamarqui (Centro da capital), onde várias ambulâncias de suporte básico e avançado se revezaram no atendimento. A agonia durou até às 19h30, quando eles acabaram transferidos para o Hospital de Estância e foram internados em estado grave, mas estabilizado. Pai e filha testaram positivo para coronavírus.
Já na segunda-feira, um terceiro paciente, de 80 anos, ficou cerca de oito horas dentro de uma ambulância à espera de uma vaga de UTI, que só conseguiu em Estancia. O idoso sofreu uma convulsão ainda em sua casa e foi levado para uma unidade de saúde no Mosqueiro, zona de expansão da capital. Lá, o Samu foi acionado por volta das 9h, colocou o paciente na ambulância às 11h e a transferência para Estância só aconteceu às 19h32.
A SES informou que os leitos de estabilização das duas urgências da Capital (Fernando Franco e Nestor Piva) estão totalmente ocupados, e com pacientes graves, aguardando transferências para leitos de UTI, que estão ocupados. A secretaria informou ainda que os pacientes em ambulâncias só podem ser recebidos em hospitais quando as vagas de UTI forem surgindo. A pasta informou ainda que está finalizando para esta semana a montagem de novos leitos de UTI, dentro do planejamento que estava previsto no começo da pandemia, mas a distribuição destes leitos também está em definição e será divulgada posteriormente. Esta montagem está condicionada à compra de insumos e de equipamentos, como respiradores que estão em falta no mercado e precisam ser buscados até fora do país.
Já na área de retaguarda, que são casos clínicos de observação, são 348 leitos de enfermaria. Na rede privada, são 98 vagas, com69,4% de ocupação. Já na rede pública, a ocupação é de 36,8%, graças ao reforço de leitos do hospital de campanha implantado pela Prefeitura de Aracaju, no Estádio João Hora. A PMA oferece 146 leitos, contra 104 da rede estadual.