Sexta, 10 De Janeiro De 2025
       
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Festejos juninos… os antigos


Publicado em 01 de julho de 2020
Por Jornal Do Dia


 

* Raymundo Mello
(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)
 
Neste tempo de festejos juninos ‘virtu-
ais’, transmitidos pela televisão ou por 
"lives" nas redes sociais, longe do calor da fogueira e do abraço, abster-me-ei de qualquer preâmbulo. Trago para os caros leitores um texto de meu pai publicado aqui no ‘Jornal do Dia’, edição de 16 de junho de 2015, intitulado "Junho, festas… ontem e hoje", uma memória sobre os festejos juninos em Aracaju. Boa leitura pra todos!
Assim escreveu Raymundo Mello:
"O mês de junho sempre foi um período muito animado na região nordeste do Brasil, influência das festas religiosas dedicadas aos santos Antônio, João e Pedro. Em 13, 24 e 29 de junho reverenciam-se, respectivamente, estes grandes nomes do Cristianismo, cada um com seu carisma e destaque, especialmente na Igreja Católica (…).
No plano material, o junho de hoje é muito mais festeiro que aqueles anteriores, vividos até meados dos anos sessenta do século passado. Explica-se: junho era o mês das férias escolares, o mês inteiro, e, por isso, os (as) jovens estudantes, especialmente ‘internos’ dos tradicionais colégios – Tobias Barreto, Jackson de Figueiredo, Patrocínio de São José e Colégio Nossa Senhora de Lourdes -, em férias, deslocavam-se para suas residências fixas, em cidades do interior do estado e de estados vizinhos, o mesmo acontecendo com alunos (as) externos (as) dos colégios citados e do Atheneu Sergipense, Escola Normal, grupos escolares com grande número de estudantes, etc.
Assim, a cidade de Aracaju tinha uma baixa considerável de jovens, mas o entusiasmo era o mesmo, pois os que por aqui ficavam sabiam aproveitar os festejos. Iguais aos de hoje? Não! Eram simples, espontâneos, bailes juninos nos clubes, "arraiás" em vários bairros (cada um com seu esquema), ‘fogueiras’ em todas as ruas – em sua maioria ‘empiçarradas’, muitas na areia mesmo e algumas com calçamento em paralelepípedos. Asfalto, apenas nos três trechos da rua João Pessoa, entre as praças General Valadão e Fausto Cardoso, onde, até o final dos anos cinquenta, era calçamento de paralelepípedos, trilhos de bondes e postes no meio da rua.
A animação organizada mesmo era a da ‘rua São João’, bairro Santo Antônio; ali, tinha de tudo: quadrilhas bonitas, mas simples, trios ‘pé-de-serra’, cantores e cantoras locais acompanhados (as) de conjunto regional, e, sobretudo, o desfile do ‘casamento caipira’, em carroças ornamentadas, sob o comando do famoso seu Calazans, por muitos chamado ‘seu Calazansa’. O animal que puxava sua carroça era obediente e atendia prontamente o comando do dono. Todas as carroças eram ornamentadas e seus ocupantes vestiam trajes bem à ‘tabaréu’. Faziam a festa a seu modo, percorriam toda a cidade, e iam festejar o ‘casamento matuto’ na rua São João, onde os festejos iam até o amanhecer.
Tranquilos, alegres, brincando o São João, como se dizia. Totalmente diferente de hoje (…).
Bebidas, tinham muitas, e muita gente ‘virava o copo’, mas, brigas violentas, não se registravam. Drogas e drogados, se existiam, era muito reservado. Era ‘coisa de gente ruim’. Diferente de hoje, que faz parte da cidade, levando inquietação e insegurança, mas dando ‘status’. Maconha, hoje é ‘chique’, usa-se abertamente, são simplesmente "usuários". O traficante, é outra coisa, se apanhado, negociando ou transportando mais do que a ‘cota de usuário’, cadeia nele. São as interpretações legais de hoje. Mas, há quem pense que só existe "traficante" se houver "usuário". Lógico!
Os diferentes "arraiás", montados em ‘tablados com cobertura de palhas de coqueiro’, em sua maioria, eram ‘movidos’ sonoramente pelos ‘discos de acetato – 78 rotações’, uma música em cada face, onde despontavam Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Carmélia Alves, Marinês e sua gente, e, … pasmem! … , Yvon Cury, que, apesar de sua linha de cantante integrado ao "clássico popular", inclusive com interpretações de canções e ‘bolerões’ em espanhol, inglês e francês, não se furtava em gravar xotes e baiões bem estilizados, como o famoso "Xote das Meninas", que ainda hoje se acha em velhos ’78’ ou remasterizado e incluído em CDs bem atuais, som ‘desentoado’, mas muito bonito – "Ela só quer, só quer, só quer, só quer, só quer, só quer, só quer, só pensa em namorar".
Como ‘o som’, locado para festas (especialmente populares), àquela época, era a base da ‘Empresa de Propaganda Guarany’ (Augusto Luz e Cláudio Silva), ‘sempre sempre’ as aparelhagens (toca-discos, amplificador e alto-falantes) eram requisitadas em aluguel para os "arraiás" e levavam os operadores incluídos, sempre com um dos membros da família de seu Cláudio de lado; inclusive eu, acompanhado por Luciano (da família Silva), participei da equipe de música de um ‘arraiá’, então montado em uma ‘rua-areial’ que existia atrás da ‘Caixa d’água’, hoje Centro de Criatividade. Animamos o "arraiá" por umas duas noites de São João. ‘Cachê-zero’, mas, em compensação, assistia filmes no ‘Cinema Guarany’ (da família Luz/Silva) sem pagamento de ingressos. O proprietário do "arraiá" era um cidadão moreno que pesava 120 kg chamado seu Antônio – popularmente, entre ‘cochichos’ de amigos, "Antonho Grosso" – assim mesmo! -, fortão, delicado, mas que sabia como manter o respeito nas danças. Bons tempos!
Os festejos do mês de junho, por aqui, eram e são até hoje alimentados com uma gastronomia especial e a maioria de seus pratos são feitos com milho. Cito alguns: canjica, pamonha, mungunzá, milho cozido, milho assado, pipoca, cuscuz, ‘manauê’, bolo de milho e muitos outros.
O milho é tão importante que é plantado no dia de São José (19 de março) para colheita nos festejos juninos. É tão importante que Luiz Gonzaga cantava: "Eu plantei meu mio (milho) todo, no dia de São José, se me ajudá (ajudar) a providença (providência), vamo (s) ter mio (milho) a grané (a granel), vô cuiê (vou colher) pelos meus calcos (cálculos) vinte espiga (s) em cada pé, por meus calcos (cálculos) vô cuiê (vou colher) 20 espiga (s) em cada pé".
Ah!, São João, "São João do Carneirinho"…
Este texto é um pouco do que poderia dizer sobre o mês de junho, suas festas religiosas solenes e populares, alma de um povo ordeiro, trabalhador, de fé e cheio de "Esperança".
Devo voltar ao tema. Falta muito a dizer, em escrita popular. Mas acredito que é assunto para análise sociológica, por quem entende".
* Raymundo Mello é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br

* Raymundo Mello

(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)

Neste tempo de festejos juninos ‘virtu- ais’, transmitidos pela televisão ou por  "lives" nas redes sociais, longe do calor da fogueira e do abraço, abster-me-ei de qualquer preâmbulo. Trago para os caros leitores um texto de meu pai publicado aqui no ‘Jornal do Dia’, edição de 16 de junho de 2015, intitulado "Junho, festas… ontem e hoje", uma memória sobre os festejos juninos em Aracaju. Boa leitura pra todos!
Assim escreveu Raymundo Mello:
"O mês de junho sempre foi um período muito animado na região nordeste do Brasil, influência das festas religiosas dedicadas aos santos Antônio, João e Pedro. Em 13, 24 e 29 de junho reverenciam-se, respectivamente, estes grandes nomes do Cristianismo, cada um com seu carisma e destaque, especialmente na Igreja Católica (…).
No plano material, o junho de hoje é muito mais festeiro que aqueles anteriores, vividos até meados dos anos sessenta do século passado. Explica-se: junho era o mês das férias escolares, o mês inteiro, e, por isso, os (as) jovens estudantes, especialmente ‘internos’ dos tradicionais colégios – Tobias Barreto, Jackson de Figueiredo, Patrocínio de São José e Colégio Nossa Senhora de Lourdes -, em férias, deslocavam-se para suas residências fixas, em cidades do interior do estado e de estados vizinhos, o mesmo acontecendo com alunos (as) externos (as) dos colégios citados e do Atheneu Sergipense, Escola Normal, grupos escolares com grande número de estudantes, etc.
Assim, a cidade de Aracaju tinha uma baixa considerável de jovens, mas o entusiasmo era o mesmo, pois os que por aqui ficavam sabiam aproveitar os festejos. Iguais aos de hoje? Não! Eram simples, espontâneos, bailes juninos nos clubes, "arraiás" em vários bairros (cada um com seu esquema), ‘fogueiras’ em todas as ruas – em sua maioria ‘empiçarradas’, muitas na areia mesmo e algumas com calçamento em paralelepípedos. Asfalto, apenas nos três trechos da rua João Pessoa, entre as praças General Valadão e Fausto Cardoso, onde, até o final dos anos cinquenta, era calçamento de paralelepípedos, trilhos de bondes e postes no meio da rua.
A animação organizada mesmo era a da ‘rua São João’, bairro Santo Antônio; ali, tinha de tudo: quadrilhas bonitas, mas simples, trios ‘pé-de-serra’, cantores e cantoras locais acompanhados (as) de conjunto regional, e, sobretudo, o desfile do ‘casamento caipira’, em carroças ornamentadas, sob o comando do famoso seu Calazans, por muitos chamado ‘seu Calazansa’. O animal que puxava sua carroça era obediente e atendia prontamente o comando do dono. Todas as carroças eram ornamentadas e seus ocupantes vestiam trajes bem à ‘tabaréu’. Faziam a festa a seu modo, percorriam toda a cidade, e iam festejar o ‘casamento matuto’ na rua São João, onde os festejos iam até o amanhecer.
Tranquilos, alegres, brincando o São João, como se dizia. Totalmente diferente de hoje (…).
Bebidas, tinham muitas, e muita gente ‘virava o copo’, mas, brigas violentas, não se registravam. Drogas e drogados, se existiam, era muito reservado. Era ‘coisa de gente ruim’. Diferente de hoje, que faz parte da cidade, levando inquietação e insegurança, mas dando ‘status’. Maconha, hoje é ‘chique’, usa-se abertamente, são simplesmente "usuários". O traficante, é outra coisa, se apanhado, negociando ou transportando mais do que a ‘cota de usuário’, cadeia nele. São as interpretações legais de hoje. Mas, há quem pense que só existe "traficante" se houver "usuário". Lógico!
Os diferentes "arraiás", montados em ‘tablados com cobertura de palhas de coqueiro’, em sua maioria, eram ‘movidos’ sonoramente pelos ‘discos de acetato – 78 rotações’, uma música em cada face, onde despontavam Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Carmélia Alves, Marinês e sua gente, e, … pasmem! … , Yvon Cury, que, apesar de sua linha de cantante integrado ao "clássico popular", inclusive com interpretações de canções e ‘bolerões’ em espanhol, inglês e francês, não se furtava em gravar xotes e baiões bem estilizados, como o famoso "Xote das Meninas", que ainda hoje se acha em velhos ’78’ ou remasterizado e incluído em CDs bem atuais, som ‘desentoado’, mas muito bonito – "Ela só quer, só quer, só quer, só quer, só quer, só quer, só quer, só pensa em namorar".
Como ‘o som’, locado para festas (especialmente populares), àquela época, era a base da ‘Empresa de Propaganda Guarany’ (Augusto Luz e Cláudio Silva), ‘sempre sempre’ as aparelhagens (toca-discos, amplificador e alto-falantes) eram requisitadas em aluguel para os "arraiás" e levavam os operadores incluídos, sempre com um dos membros da família de seu Cláudio de lado; inclusive eu, acompanhado por Luciano (da família Silva), participei da equipe de música de um ‘arraiá’, então montado em uma ‘rua-areial’ que existia atrás da ‘Caixa d’água’, hoje Centro de Criatividade. Animamos o "arraiá" por umas duas noites de São João. ‘Cachê-zero’, mas, em compensação, assistia filmes no ‘Cinema Guarany’ (da família Luz/Silva) sem pagamento de ingressos. O proprietário do "arraiá" era um cidadão moreno que pesava 120 kg chamado seu Antônio – popularmente, entre ‘cochichos’ de amigos, "Antonho Grosso" – assim mesmo! -, fortão, delicado, mas que sabia como manter o respeito nas danças. Bons tempos!
Os festejos do mês de junho, por aqui, eram e são até hoje alimentados com uma gastronomia especial e a maioria de seus pratos são feitos com milho. Cito alguns: canjica, pamonha, mungunzá, milho cozido, milho assado, pipoca, cuscuz, ‘manauê’, bolo de milho e muitos outros.
O milho é tão importante que é plantado no dia de São José (19 de março) para colheita nos festejos juninos. É tão importante que Luiz Gonzaga cantava: "Eu plantei meu mio (milho) todo, no dia de São José, se me ajudá (ajudar) a providença (providência), vamo (s) ter mio (milho) a grané (a granel), vô cuiê (vou colher) pelos meus calcos (cálculos) vinte espiga (s) em cada pé, por meus calcos (cálculos) vô cuiê (vou colher) 20 espiga (s) em cada pé".
Ah!, São João, "São João do Carneirinho"…
Este texto é um pouco do que poderia dizer sobre o mês de junho, suas festas religiosas solenes e populares, alma de um povo ordeiro, trabalhador, de fé e cheio de "Esperança".
Devo voltar ao tema. Falta muito a dizer, em escrita popular. Mas acredito que é assunto para análise sociológica, por quem entende".

* Raymundo Mello é Memorialistaraymundopmello@yahoo.com.br

 

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