Desigualdade engorda
Publicado em 19 de julho de 2020
Por Jornal Do Dia
A renda básica universal é realidade em boa parte do mundo civilizado, independente de pandemia. No Bra sil, onde a rede de proteção social bem ou mal estendida pelo Estado ainda é encarada sob a perspectiva do custo, foi necessária a ameaça de uma derrocada econômica sem precedentes ganhar contorno para o tema ser debatido.
Próxima terça-feira, na Câmara dos Deputados, será criada a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica, formada por deputados e senadores. A renda básica de cidadania e programas assemelhados tem entusiastas oriundos de diversos espectros ideológicos. Os defensores do Estado de bem-estar social entendem que a riqueza nacional deve ser desconcentrada e redistribuída, de modo a diminuir a desigualdade social. Os liberais enxergam as vantagens que o dinheiro no bolso da população mais pobre é capaz de gerar na economia como um todo.
A iniciativa chega tarde. O Brasil anda na contra não do desenvolvimento social. Mundo afora, a desigualdade arrefece. Aqui, ela se mantem firme e forte, como que engorda. E com a pandemia, o fosso cavado entre os mais ricos e os mais pobres, tende a se aprofundar.
Mesmo agora, em plena crise, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes só falam em economizar recursos. O dogma liberal tem tanta influência sobre os dois, a ponto de o governo federal desprezar os números levantados pelo IBGE. Segundo o Instituto, ao fim do ano passado, 13,5 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 145 por mês. Mesmo sem o corona, a população empobrecia. A situação não era tão drástica desde 2012.
Já foram apontadas diversas razões para explicar a existência da pobreza extrema em um país tão rico quanto o Brasil. Do clima tropical, à miscigenação, derivada de um drama histórico desumano como a escravidão, tudo já foi usado como desculpa para justificar a indignidade da fome. A verdade, no entanto, é mais imediata: Falta sensibilidade aos poderosos. Nos palácios de Brasília, pobre não entra.