A COVID-19 EM MINHA CASA: UM ACIDENTE DE PERCURSO?
Publicado em 30 de agosto de 2020
Por Jornal Do Dia
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
No último dia 26 de agosto de 2020, o Brasil completou cinco meses de infecção por COVID-19, se considerarmos que oficialmente o primeiro caso foi registrado em 26 de fevereiro. Até o fechamento do presente texto, 3.717.156 pessoas haviam sido acometidas pelo vírus, incluindo eu, minha esposa e minha filha. Meu filho testou negativo. Em que pese este cenário, uma pergunta até então consome meus pensamentos: porque chegamos a este nível? Uma outra agora se soma a ela: como a doença atingiu a minha família?
Durante todos esses meses, cumprimos rigorosamente todas as recomendações: distanciamento social, higienização, atenção redobrada à imunização e uso de máscara. Nossas saídas foram estritamente necessárias. Até as compras, todas devidamente higienizadas, estavam sendo feitas por delivery. Quando saíamos, todos os protocolos foram fielmente cumpridos, inclusive ao retornar.
Nas saídas eventuais, verifiquei diversos cenários que me preocuparam e me revoltaram profundamente. Pessoas aglomeradas, em pequenos grupos, consumindo bebidas alcoólicas, sem o uso da máscara (com o estabelecimento semiaberto); uma senhora com a máscara pendurada na orelha, experimentando amendoim vendido na rua, por ambulante; minimercados com funcionários atendendo sem máscara; pessoas desrespeitando o distanciamento em lojas e supermercados; pessoas com máscara no queixo ou abaixo do nariz. E uma infinidade de aberrações.
Sem falar nos soberbos que acham que nunca serão acometidos pela doença. Arrotando ignorância, agredindo as pessoas gratuitamente, seja fisicamente ou lhes dando carteiradas de "autoridades constituídas e ilibadas", esbanjando uma pseudo saúde porque se apresentam como atletas e confiantes em ideologias que negam o inegável, que propugnam curas milagrosas de um remédio sem validade científica.
Às favas todos vocês! Eu fui contaminado e também a minha família, sobretudo pela ignorância e pela falta de empatia. Mais do que governos e um governantes que não assumiram até agora uma política de saúde séria e comprometida com o combate e contenção do avanço dessa doença desgraçada, uma população, em sua maioria, grosseira e deseducada, que só enxerga o próprio umbigo, o consumo desenfreado e as futilidades.
Nesse cenário de guerra, palmas e minhas homenagens, todas possíveis, aos profissionais de saúde e às Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde. Lutando contra todas as adversidades, têm prestado o melhor que podem para salvar vidas e evitar a propagação do contágio. Se na condição de não contaminado, já tinha essa consciência, agora fazendo parte das estatísticas, entendo que só não estamos totalmente à deriva porque estamos nas mãos de Deus e de homens e mulheres, verdadeiramente e cientificamente preparados e dedicados, comprometidos com a saúde e com o bem-estar dos brasileiros. Sem falar no amor da família e dos amigos. O amor que imuniza, que cura e que acalenta o medo e as lágrimas.
Em geral, numa pandemia as coisas se dão como nas normas de trânsito. Uns cumprem as regras e procuram salvar suas vidas, preservando também as dos outros; outros, além de colocarem em risco as pessoas, irresponsavelmente, retiram-nas o direito de viver. Por enquanto, espero, com a mercê de Deus, que eu e minha família tenhamos escapado de um acidente. Enquanto outras pessoas, mais de 117 mil, seguem prateando a ausência dos seus.