Faceta populista
Publicado em 09 de setembro de 2020
Por Jornal Do Dia
Seria cômico, não fosse trágico. A fim de conter o preço do arroz nas prateleiras dos supermercados, o presidente Jair Bolsonaro pediu patriotismo aos grandes empresários do varejo. O apelo, claro, não vai surtir efeito nenhum. O presidente joga para a plateia.
A faceta populista de Bolsonaro não se intimida ante o ridículo. É sabido que o preço do arroz está atrelado ao dólar. Lei de mercado. Com a balança comercial oscilando ao sabor do humor internacional, sobrou para os mais pobres.
As exportações de arroz beneficiado saltaram 260% entre março e julho deste ano, para 300 mil toneladas. Para piorar, também houve redução de 59% nas importações do produto no período, para 48,3 mil toneladas. O resultado da balança comercial levou a uma menor oferta do produto no mercado brasileiro.
Interessante é notar que o presidente capaz de apelar ao coração frio dos capitalistas, se recusou a intervir nas transações comerciais em benefício do consumidor doméstico.
A semana passada, o setor se reuniu para discutir a Tarifa Externa Comum (TEC), que implica a cobrança de uma taxa de 16% sobre o arroz importado do Mercosul. Se a tarifa fosse revista, a quantidade de arroz no mercado interno poderia aumentar, levando à queda dos preços. Este, sim, seria o momento de o presidente se pronunciar, pedir sacrifícios. Afinal de contas, a alta era previsível, em função da demanda extraordinária do mercado externo, provocada pela pandemia. Na ocasião, contudo, Bolsonaro não disse uma palavra.