Seis presos por sumiço de estudante na Serra da Miaba
Publicado em 20 de outubro de 2020
Por Jornal Do Dia
A Polícia Civil e Instituto Médico Legal (IML) de talharam ontem, em entrevista coletiva on-line,a ‘Operação O Poder da Esperança’, deflagrada para apurar as circunstâncias do desaparecimento da universitária Joana Gabriela Coutinho Soares, 21 anos, que ficou perdida cerca de cinco dias na Serra da Miaba, em São Domingos (Agreste). As investigações resultaram na prisão de seis homens que foram responsabilizados pelas nas lesões sofridas pela vítima e no tempo em que ela passou perdida na vegetação da serra, entre o final de setembro e início do mês de outubro.
Dos seis detidos, quatro foram indiciados pelos crimes de sequestro, tentativa de homicídio, possibilidade de estupro e tráfico de drogas: Rayan Vinicius Lima da Silva, Maycon Douglas Nunes, Lucas Diego Bustos e o argentino Alfredo Maria Ruiz. Outro envolvido, Domingos dos Santos, foi detido pela venda de bebida alucinógena, também caracterizada como tráfico de drogas. E um sexto envolvido, o também argentino Ruiz Matias, foi preso por tráfico de drogas.
Joana foi resgatada no último dia 4 e internada com um edema na cabeça, acompanhado de uma miíase (doença causada pela infestação com larvas). De acordo com o delegado Wilkson Vasco, da Delegacia de Campo do Brito, São Domingos e Macambira, as investigações apontaram que a lesão na cabeça da vítima foi decorrente de uma agressão sofrida pelas costas. Ela caiu desacordada e foi abandonada em uma trilha extremamente íngreme, de difícil acesso. Dois dias depois, a jovem acordou desorientada e desceu, rastejando, até chegar ao ponto em que foi encontrada. Joana foi localizada a partir de um livro ‘O Poder da Esperança’, que marcava o local onde ela foi deixada.
"As investigações duraram 18 dias de forma ininterrupta. Três inquéritos policiais foram realizados, foram mais de 200 páginas de oitivas, relatórios de investigações e relatórios de fotos e imagens. Mais de 30 oitivas foram realizadas. O caso termina, em resumo, com a subida da jovem com o Rayan, que conheceu 15 dias antes por rede social. No meio do caminho, Rayan compra bebida alucinógena. Já na subida, ele oferece LSD, mas ela recusa. Ela acredita que foi drogada involuntariamente", detalhou.
Também segundo o delegado, a partir de um dado momento, desconfiada, a vítima passou a só comer e beber os produtos que havia levado. "Rayan, os dois argentinos e outro brasileiro falam que havia um processo de cura na Serra da Miaba. Então acredita-se que ela foi drogada através de água e pela comida. Quando ela acorda na manhã da quarta-feira, ela elabora um plano de fuga e passa a ser ameaçada pelos suspeitos, dizendo que ela não poderia sair do local. Ela tem um apagão, passa dois dias desacordada e mais dois dias se rastejando", complementou o delegado.
Ainda conforme o delegado, mesmo com as sete horas de reconstituição, que contou com a perícia e unidades policiais, não foram encontrados os pertences da jovem no local. O procedimento investigativo apurou inconsistências entre as versões dos envolvidos no desaparecimento da estudante. As investigações apontaram que Rayan levou os grupos de busca para um ponto que não tinha correlação com o desaparecimento, além de ter retirado o livro do local, por não saber que o item já havia sido encontrado. As versões dos envolvidos também destoam sobre a visualização da jovem desaparecida. Ainda no decorrer das investigações, a jovem contou que acordou em uma vegetação diferente da que estava quando caminhava com Rayan.
O diretor do IML, Victor Barros, explicou que a perícia constatou vários ferimentos e realizou diversos exames que contribuíram para a conclusão das investigações. "No dia seguinte em que a vítima foi resgatada, o IML se dirigiu ao Huse. A vítima foi resgatada no domingo e, na segunda-feira pela manhã, uma equipe com agentes técnicos de perícia compareceram ao hospital, onde fizemos uma análise minuciosa. Coletamos amostras de sangue, de urina, larvas, para que assim o trabalho pericial não fosse prejudicado. Tiveram muitas agressões físicas. Além disso, um ferimento contuso em que já estava presente elementos de larvas, que denotavam pelo menos cinco dias de lesão", evidenciou.
As prisões foram feitas pela Coordenadoria de Operações e Recurso Especiais (Core) e pela Delegacia de Campo do Brito, São Domingos e Macambira. As investigações e a reconstituição também contaram com o apoio do Instituto Médico Legal (IML), Instituto de Criminalística (IC), Coordenadoria Geral de Perícias (Cogerp), Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), Divisão de Inteligência (Dipol), Coordenadoria de Polícia Civil do interior (Copci), Delegacia de Frei Paulo e Ribeirópolis e 1ª Delegacia Metropolitana (1ª DM).