ISMAEL PEREIRA – IMORTALIZADO PELA ARTE E PELA POESIA
Publicado em 25 de outubro de 2020
Por Jornal Do Dia
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
A vida nos ensina, quase sempre a duras penas, que o reconhecimento nem sempre é justo e preciso. Que a imortalidade não se encerra nos umbrais das academias, dos fardões, dos discursos grandiloquentes e na vaidade à toda prova. Entretanto, a arte e a poesia, em sua saga criativa, elevam aos mais altos postos da memória, aqueles cuja trajetória movem-se e pautam-se pelo bem representar os seus e firmar-se na marca identitária de seu povo.
O pequenino Estado de Sergipe, além de ser um celeiro de imortalidades, notabiliza-se por ter o melhor metro quadrado de talentos, em todos os níveis e campos da cultura. Figuras que além de representar o que há de melhor na arte de escrever, compor, pintar, cantar, dançar, entre outros saberes, enchem de entusiasmo as novas gerações, ainda tão carentes de referenciais qualificados.
Povoado de academias por todos os seus rincões, Sergipe ainda não entendeu a importância de reunir sujeitos e notoriedades em um espaço e fazer deste um lugar para além do garbo e da acepção de pessoas. A pulverização desses espaços nos últimos anos para além de agregar valor, nem sempre cumpre um papel de engajamento social e educacional, de promoção da arte e do saber, em grande medida resumido a convenções.
Nesse sentido, um sujeito natural de Capela-SE destaca-se por construir uma trajetória de vida de oito décadas, cuja imortalidade é latente e natural, não se constrói e nem se eleva, salvo pela arte que produz. Ismael Pereira Azevedo é filho de Pedro Joaquim de Santana e Joana Pereira de Azevedo, nascido no dia 1 de outubro de 1940. Seus irmãos: Iolanda, Terezinha, Alexandre, Leonardo e Carlos, É artista plástico, político, escritor e poeta, autor do livro Poemas, que reúne 150 versos, lançado em 2018.
Viveu a maior parte de sua infância com a mãe, migrando para Aracaju nos anos 50, onde foi trabalhar na Art-foto, do alemão Wolgang. Alcançando a vida adulta, passou um tempo em Salvador na carreira militar, na Aeronáutica. Ainda na capital baiana, despertou seus dotes artísticos, trabalhando como desenhista, numa empresa de arte e propaganda. Ao retornar para a capital sergipana, montou seu próprio negócio, vivendo do ofício das artes até mudar-se para Arapiraca-AL, aos 35 anos. Suas exposições foram sempre concorridas, tendo em seu currículo passagens pelo México e por Lisboa.
Para as pesquisadoras Alessandra Ferreira Dias, Izabel Cristina Melo dos Santos e Luciana de Jesus Sousa: "Ismael Pereira é um artista multifacetado, pois expressa-se através dos pincéis em telas e cerâmicas e através da caneta, em charges e crônicas. Suas obras, tidas como regionalistas por representarem objetos, personagens e temas do folclore local, tornam-se universais pelos sentimentos humanos típicos que expressam" (Letras, UNIT-SE, p. 4).
Em terras alagoanas, além de constituir família (casado duas vezes, viúvo e pai de seis filhos), se notabilizou na política, tendo sido eleito vereador e deputado estadual pelo então Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Na longa carreira política, tornou-se um grande orador e até hoje cultiva a palavra com garbo, riqueza semântica e elegância. Pelos valiosos serviços prestados, em novembro de 2019, foi agraciado com o título de Cidadão Alagoano.
De volta à Sergipe, em Aracaju, realizou o sonho de concluir o Curso de Direito pela UNIT, aos 74 anos de vida, em dezembro de 2014. Hoje, com 80 anos, Ismael Pereira é membro da Associação Internacional de Artes Plásticas (com sede em Paris), da Academia Alagoana de Cultura, da Associação Alagoana de Imprensa, da Casa do Poeta de Sergipe, membro da Ordem dos Bacharéis do Brasil e da Academia de Letras e Artes de Capela. Recentemente, tentou ingressar na Academia Sergipana de Letras, tendo seu trabalho reconhecido por sete acadêmicos. Ao que pareceu ter sido um infortúnio, foi-lhe, na verdade, o cumprimento de uma de suas conhecidas máximas: "O desprendimento da minha Interioridade alargou meus Horizontes". Que a História lhe seja, então, seu crepúsculo, na tela da eternidade, nas letras e nos pincéis da arte e da poesia.