Domingo, 12 De Janeiro De 2025
       
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Eleições racistas


Publicado em 18 de novembro de 2020
Por Jornal Do Dia


 

Na esmagadora maioria, os eleitos são candidatos brancos, do sexo masculino
* Jaime Sautchuk
A esquerda está presente e até reconquista alguns espaços relevantes, mas o resultado geral das eleições municipais aponta pra direita. Uma tendência espraiada nessa enorme variedade de partidos que está aí, com as agremiações criadas pra usufruir do dinheiro público do Fundo Partidário. Mas, é bom que se diga, das 59 indicações do atual presidente da República, 47 não se elegeram.
O grande resultado, contudo, está estampado nas fotos dos candidatos já eleitos ou ainda na disputa – no caso de prefeitos. Na esmagadora maioria, são candidatos brancos, do sexo masculino. Muito longe de representarem a verdadeira composição da sociedade brasileira. A população negra e feminina – em especial as mulheres negras – só aparece pra fazer número ou gerar algum benefício.
Nem se fala de outros cidadãos e cidadãs que fazem parte de chamadas minorias, como indígenas e asiáticos, também relegados a planos inferiores. E casos isolados, bem localizados chamam atenção justamente por colocarem algum candidato em lugares onde deveria haver milhares, caso as regras fossem outras, mais justas.
Em Goiás, por exemplo, um quilombola da etnia Kalunga foi eleito prefeito de Cavalcanti, cidade englobada pela reserva daquela comunidade negra, que tem cerca de seis mil habitantes e vive numa reserva quilombola. Consta que, nessa área, exista muitos kalungas que nem falam o Português.
Os escolhidos irão dizer, com razão, que ganharam a disputa no voto, mas em verdade a trama já foi montada lá atrás, quando os partidos definiram seus candidatos. Em geral, as chapas de vereadores e prefeitos são montadas a dedo, com pouca ou quase nenhuma chance de interferência das massas de moradores de periferias e grotões onde o povo está.
O PT demonstra está bem vivo, contrariando a expectativa daqueles que moveram a massacrante campanha anti-petista na grande mídia e em todos os outros meios possíveis. Mas o Psol surge com um novo vigor, talvez herança do PT, e pode eleger Boulos prefeito da maior cidade do País na disputa do 2º turno com o atual prefeito, Bruno Covas, do PSDB.
Esses são, no entanto, casos isolados que, mesmo se tratando da maior cidade do País, não interfere em todo o processo eleitoral, que é bem demarcado. O fato é que as elites nacionais não querem negros e outras minorias comandando muitas cidades ou marcando presença nas câmaras municipais país afora. Deixar algumas beiradas faz parte da encenação, pra fingir que de fato há uma tal democracia racial no Brasil.
* Jaime Sautchuk trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.

Na esmagadora maioria, os eleitos são candidatos brancos, do sexo masculino

* Jaime Sautchuk

A esquerda está presente e até reconquista alguns espaços relevantes, mas o resultado geral das eleições municipais aponta pra direita. Uma tendência espraiada nessa enorme variedade de partidos que está aí, com as agremiações criadas pra usufruir do dinheiro público do Fundo Partidário. Mas, é bom que se diga, das 59 indicações do atual presidente da República, 47 não se elegeram.
O grande resultado, contudo, está estampado nas fotos dos candidatos já eleitos ou ainda na disputa – no caso de prefeitos. Na esmagadora maioria, são candidatos brancos, do sexo masculino. Muito longe de representarem a verdadeira composição da sociedade brasileira. A população negra e feminina – em especial as mulheres negras – só aparece pra fazer número ou gerar algum benefício.
Nem se fala de outros cidadãos e cidadãs que fazem parte de chamadas minorias, como indígenas e asiáticos, também relegados a planos inferiores. E casos isolados, bem localizados chamam atenção justamente por colocarem algum candidato em lugares onde deveria haver milhares, caso as regras fossem outras, mais justas.
Em Goiás, por exemplo, um quilombola da etnia Kalunga foi eleito prefeito de Cavalcanti, cidade englobada pela reserva daquela comunidade negra, que tem cerca de seis mil habitantes e vive numa reserva quilombola. Consta que, nessa área, exista muitos kalungas que nem falam o Português.
Os escolhidos irão dizer, com razão, que ganharam a disputa no voto, mas em verdade a trama já foi montada lá atrás, quando os partidos definiram seus candidatos. Em geral, as chapas de vereadores e prefeitos são montadas a dedo, com pouca ou quase nenhuma chance de interferência das massas de moradores de periferias e grotões onde o povo está.
O PT demonstra está bem vivo, contrariando a expectativa daqueles que moveram a massacrante campanha anti-petista na grande mídia e em todos os outros meios possíveis. Mas o Psol surge com um novo vigor, talvez herança do PT, e pode eleger Boulos prefeito da maior cidade do País na disputa do 2º turno com o atual prefeito, Bruno Covas, do PSDB.
Esses são, no entanto, casos isolados que, mesmo se tratando da maior cidade do País, não interfere em todo o processo eleitoral, que é bem demarcado. O fato é que as elites nacionais não querem negros e outras minorias comandando muitas cidades ou marcando presença nas câmaras municipais país afora. Deixar algumas beiradas faz parte da encenação, pra fingir que de fato há uma tal democracia racial no Brasil.

* Jaime Sautchuk trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.

 

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