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O voto em Linda Brasil
Publicado em 24 de novembro de 2020
Por Jornal Do Dia
* Antonio Passos
As urnas enganam aos que odeiam e aos que amam. Já fui candidato a vereador duas vezes em Aracaju e vivenciei o processo eleitoral por dentro, agora o observo de fora, como atento eleitor.
Um amigo foi candidato este ano e esperava, como a maioria dos que se lançam ao gosto do eleitorado, ter uma grande votação e ser eleito. Recebeu em torno de 300 votos e na manhã seguinte ao pleito me enviou um desabafo pelo WhatsApp. Entre outras coisas disse estar decepcionado com uma população que escolheu eleger "uma transexual como protesto"- palavras dele.
Não vou entrar na discussão, porém, trouxe o desabafo até estas linhas para discordar de uma avaliação ali expressa. Em minha opinião a eleição de Linda Brasil não teve vínculo algum com o chamado voto de protesto (que talvez fosse mais apropriado receber a designação voto de escárnio).
A votação de protesto é caracterizada por ser atribuída a alguém com muita exposição pública e que demonstra despreparo evidente ou mesmo desdém pela política. Um típico caso de voto de protesto ou de escárnio, por exemplo, foram as votações em Tiririca, em pleitos recentes, no estado de São Paulo.
Em primeiro lugar Linda Brasil não é uma pessoa amplamente conhecida em Aracaju. E por não conhecê-la a opinião pública não estaria em condições de colar nela o rótulo de pessoa desqualificada para a política. Portanto, ela não tem os pré-requisitos para receber uma enxurrada de votos de protesto ou de escárnio.
Linda Brasil é uma ativista bastante conhecida e respeitada entre militantes e simpatizantes das ações em favor da liberdade de gênero. Daí vieram os 5773 votos que a elegeram. O voto em Linda Brasil foi sobretudo o voto da representatividade identitária, uma entre as diversas motivações que promoveram o êxito eleitoral este ano em Aracaju.
Só mesmo a partir do início do exercício do mandato na Câmara de Vereadores de Aracaju Linda Brasil passará a ter uma exposição mais ampla para toda a cidade. Como é representante de uma minoria que enfrenta oposição moral severa, será alvo preferencial de muitos ataques. Precisarão portanto, ela e o PSOL, de muitas virtudes para atravessarem de modo satisfatório esse novo desafio.
* Antonio Passos é jornalista
* Antonio Passos
As urnas enganam aos que odeiam e aos que amam. Já fui candidato a vereador duas vezes em Aracaju e vivenciei o processo eleitoral por dentro, agora o observo de fora, como atento eleitor.
Um amigo foi candidato este ano e esperava, como a maioria dos que se lançam ao gosto do eleitorado, ter uma grande votação e ser eleito. Recebeu em torno de 300 votos e na manhã seguinte ao pleito me enviou um desabafo pelo WhatsApp. Entre outras coisas disse estar decepcionado com uma população que escolheu eleger "uma transexual como protesto"- palavras dele.
Não vou entrar na discussão, porém, trouxe o desabafo até estas linhas para discordar de uma avaliação ali expressa. Em minha opinião a eleição de Linda Brasil não teve vínculo algum com o chamado voto de protesto (que talvez fosse mais apropriado receber a designação voto de escárnio).
A votação de protesto é caracterizada por ser atribuída a alguém com muita exposição pública e que demonstra despreparo evidente ou mesmo desdém pela política. Um típico caso de voto de protesto ou de escárnio, por exemplo, foram as votações em Tiririca, em pleitos recentes, no estado de São Paulo.
Em primeiro lugar Linda Brasil não é uma pessoa amplamente conhecida em Aracaju. E por não conhecê-la a opinião pública não estaria em condições de colar nela o rótulo de pessoa desqualificada para a política. Portanto, ela não tem os pré-requisitos para receber uma enxurrada de votos de protesto ou de escárnio.
Linda Brasil é uma ativista bastante conhecida e respeitada entre militantes e simpatizantes das ações em favor da liberdade de gênero. Daí vieram os 5773 votos que a elegeram. O voto em Linda Brasil foi sobretudo o voto da representatividade identitária, uma entre as diversas motivações que promoveram o êxito eleitoral este ano em Aracaju.
Só mesmo a partir do início do exercício do mandato na Câmara de Vereadores de Aracaju Linda Brasil passará a ter uma exposição mais ampla para toda a cidade. Como é representante de uma minoria que enfrenta oposição moral severa, será alvo preferencial de muitos ataques. Precisarão portanto, ela e o PSOL, de muitas virtudes para atravessarem de modo satisfatório esse novo desafio.
* Antonio Passos é jornalista
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