LA MANO DE DIOS
Publicado em 29 de novembro de 2020
Por Jornal Do Dia
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Até 1986, vascaíno de nascença e de coração, jamais imaginava torcer por outro time de futebol, sequer por outra seleção que não fosse a Canarinho. Mas, a Copa do Mundo daquele ano me fez crer que um sujeito poderia mudar essa máxima. Eliminada para a França de Michel Platini, nos pênaltis, a Seleção Brasileira veio embora pra casa nas Quartas-de-Final daquele torneio.
Era o dia 21 de junho. No dia seguinte, a minha tristeza pela desclassificação da Seleção Brasileira (era a segunda Copa que eu acompanhava em minha vida, pela TV) foi compensada por um jogo magnífico e inesquecível: Argentina x Inglaterra, também pelas Quartas-de-Final. Naquele dia, Diego Armando Maradona só não fez chover. O jogo foi realizado no Estádio Azteca, na Cidade do México, ao meio-dia, com um público de mais de 100 mil pessoas, fora os telespectadores do mundo inteiro.
A rivalidade política entre os dois países foi levada para dentro de campo desde O Reino Unido entrou em Guerra contra a Argentina entre os dias 2 de abril e 14 de junho de 1982, pela posse de um arquipélago nas Ilhas Malvinas. Derrotada, a nação latino-americana foi à forra naquele jogo da Copa de 1986.
A Seleção Argentina vinha de uma campanha no Grupo A, com vitórias sobre a Coréia do Sul e a Bulgária, e um empate contra a Itália. Na primeira fase, Maradona só havia balançado as redes uma única vez. Mas, na reta final, foi decisivo, sobretudo naquele lendário e histórico jogo do dia 22 de junho.
O primeiro tempo terminou com o placar zerado. Aos seis minutos do segundo tempo, Maradona subiu para dividir uma bola com o goleiro inglês, Peter Shilton. Num lance muito rápido, Dieguito colocou a mão na bola e marcou o gol para a Argentina, sob protestos da Seleção da Inglaterra. O árbitro da partida, Ali Bin Nasser, validou o gol.
Se à época tivesse o VAR, a história poderia ter sido outra. Mas, o episódio entrou para a eternidade do futebol mundial como o gol da mão de Deus. Uma das cenas mais marcantes de todos os tempos, que rendeu inúmeras contendas, mas também belíssimas imagens e causos os mais diversos.
Não bastasse isso tudo, Maradona, 4 minutos depois, pegou a bola no campo da Argentina e driblou, em alta velocidade, seis jogadores da Inglaterra, marcando o segundo gol do jogo e considerado um dos mais espetaculares da História das Copas. Uma pintura, uma obra de arte, como se diz no jargão dos narradores esportivos.
Lineker ainda descontou para a Inglaterra nos minutos finais, mas não foi suficiente. Vingada, a Argentina se encaminhou para a final da Copa de 1986, vencendo a Bélgica na Semifinal por 2 a 0 e a Alemanha da Final por 3 a 2, sagrando-se Bicampeã Mundial de Futebol. O gol decisivo não foi feito por Maradona, mas ele deu um passe magistral para Burruchaga dar números finais à partida.
Depois de uma carreira meteórica de muitos altos e baixos, ser idolatrado como uma divindade na Argentina, Diego Armando Maradona nos deixou no último dia 25 de novembro do corrente ano, aos 60 anos de idade. O mundo inteiro lamentou muito a sua morte, inclusive o maior jogador de futebol de todos os tempos, o brasileiro Édson Arantes do Nascimento, o Pelé.
Maradona, com sua perna esquerda habilidosíssima, pode não estar à altura de Pelé, grande discussão que se faz até hoje, mas seu legado para o futebol internacional é inquestionável. Dieguito deixará uma lacuna no mundo, sobretudo neste ano de 2020 de tantas e tão sentidas perdas. Que Deus receba "deus" com a sua mão e faça do céu um grande campo de futebol para que ele possa alegrar os anjos e os santos com seu talento imortal.