Fé na mudança
Publicado em 31 de dezembro de 2020
Por Jornal Do Dia
O ano da graça de 2020 foi, de longe, o mais turbulento da história recente em âmbito glo- bal. No caso particular dos brasileiros, contudo, a pandemia ainda em curso acentuou uma crise econômica já antiga. Pior ainda: A falta de comando no primeiro escalão da República acrescentou à urgência do momento, marcado por desafios de ordem fiscal e sanitária, uma crise de princípios. Eleito nas urnas, o presidente Jair Bolsonaro faz de tudo para esgarçar o tecido democrático.
Diante de tudo o que foi aqui exposto, tão brevemente, alguém poderia perder a fé no futuro. De fato, a perspectiva não é das mais animadoras. Mas é preciso lembrar que a história do Brasil jamais teve como cenário um céu de brigadeiro. A democracia tupiniquim foi forjada por uma sucessão quase ininterrupta de fraturas, lapsos, suspensões. Um presidente de baixa estatura moral, como Bolsonaro, mesmo em colaboração com uma pandemia, não terá força para suplantar as instituições da República, como deseja.
Em 2021, apesar de todos os pesares, chegará a vacina. Os processos que pesam sobre os filhos do presidente seguirão o seu curso. A julgar pela consistência das suspeitas, condenações não podem ser descartadas. O poder judiciário, o legislativo, a imprensa acompanharão tudo. Justiça há de ser feita.
Para o cidadão comum, entretanto, há urgência. Milhões de desempregados esperam por oportunidades imediatas, independente das controversas reformas estruturais alardeadas pelo ministro Paulo Guedes. O governo federal os ignora. Para estes, a esperança talvez chegue mais tarde. Não há expectativa razoável de recuperação no mercado de trabalho em curto e médio prazos. Mas, nas democracias, governos bons ou ruins não duram para sempre, os projetos de poder dos mais poderosos também podem ser frustrados.
2021 pode ser o início de uma mudança ansiada por milhões de braseiros. A esperança tarda, mas há de chegar.