Terça, 14 De Janeiro De 2025
       
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Gritar o palhaço


Publicado em 22 de janeiro de 2021
Por Jornal Do Dia


 

* Edson Ulisses de Melo
Quando um circo chegava nas pequenas comunida
des interioranas o palhaço era o encarregado de 
anunciar a sua chegada, bem como suas principais atrações.
Era então o comunicador do grande espetáculo. Tal evento deixava a garotada eufórica, ansiosa pelo esperado acontecimento.
Tudo começava quando o palhaço com suas roupas coloridas, chapéu amassado, em forma de cartola, pintado com as cores mais chamativas possíveis: vermelho, preto, azul, amarelo etc. As calças compridas, mas nunca até os sapatos, trepado em pernas de pau e um megafone na mão a gritar, rua acima rua abaixo, acompanhado pelos garotos, gritava:
Hoje tem espetáculo ??
Os meninos respondiam:
– Tem sim senhor.
As 07 horas da noite?
-Tem sim senhor
Hoje tem palhaçada?
– Tem sim senhor.
Hoje tem marmelada?
– Tem sim senhor.
Hoje tem gargalhada?
– Tem sim senhor.
Arrocha negrada.
– Ieeeeeeeeeeeeeeeee
O palhaço o que é?
– Ladrão de mulher
Oh lêlê, tia Chica!
– arremexe a canjica.
Zabelê cantou no mato
Mato cru pegando fogo.
Arrocha negrada.
Ieeeeeeeeeeeeeeeeeee
O palhaço o que???
– Ladrão de muie
Arrocha negrada
Ieeeeeeeeeeeeeeeee
Novos bordões
Novos gritos e prosseguia
Até percorrem as ruas que obviamente não eram tantas. Os garotos que gritavam o palhaço, eram marcados no pulso com um sinal feito com carvão para exibir na portaria, a fim de poder assistir ao espetáculo, sem pagar a entrada.
A cidade ficava atenta.
O público comparecia acomodando-se nas arquibancadas ou trazendo seus bancos ou cadeiras para ficar mais confortável.
No horário previsto, com algum atraso, porque o circo era brasileiro, ao declarar aberta a função (o nome era esse mesmo e não entendi porque) o palhaço anunciava que o circo era pequeno no tamanho, mas grande nas suas apresentações artísticas.
Após saudar a distinta plateia, começavam as brincadeiras do palhaço, normalmente uma pergunta de duplo sentido bem como a resposta, a exemplo: em que lugar a mulher cheira bacalhau, o seu interlocutor respondia: no nariz; ou eu pensei q….. Dizia o palhaço e a plateia delirava e aplaudia; em que lugar a mulher tem o cabelo mais duro, o seu interlocutor respondia na África e daí por diante; trapezista que mais das vezes caia na rede de proteção já bastante remendada e que por isso fazia a plateia aflita prender a respiração; o malabarista atrapalhado que sempre deixava cair os malabares e finalmente o anúncio empolgado de alguém ao microfone:
Senhoras e senhores e agora o ponto alto do espetáculo, a internacional, a famosa artista chegada recentemente dos Estados Unidos com passagem pelo Caribe, a erótica e tão esperada rumbeira, que faz abalar os corações dos homens apaixonados.
E aparecia a musa da dança requebrada, e rebolada, sempre precedida de uma rumba que deixava enlouquecida a plateia.
O biótipo daquela vênus: normalmente era uma coroa de mais de 30 anos com as nádegas já flácidas e abundante celulite, vestindo um saiote tipo abajur, uma meia-calça surrada, com alguns fios esgarçados, mas nada disso importava. O que interessava mesmo era aquele monumento anunciado que se rebolava e dava umbigadas para a plateia masculina já erotizada, ao som de calliente rumba cubana. Era essa a parte mais demorada do espetáculo em face dos gritos de bis da plateia.
E finalizava o espetáculo ovacionada. Uma verdadeira loucura.
* Edson Ulisses de Melo é Desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe. Membro das Academias Sergipana de Letras Jurídicas e de Letras na Cadeira 36. Autor dos livros: Reflexões Cidadãs, Sabedoria Popular, Sabedoria Popular II e de diversos artigos jurídicos, notadamente na área de Direitos Humanos.

* Edson Ulisses de Melo

Quando um circo chegava nas pequenas comunida des interioranas o palhaço era o encarregado de  anunciar a sua chegada, bem como suas principais atrações.
Era então o comunicador do grande espetáculo. Tal evento deixava a garotada eufórica, ansiosa pelo esperado acontecimento.
Tudo começava quando o palhaço com suas roupas coloridas, chapéu amassado, em forma de cartola, pintado com as cores mais chamativas possíveis: vermelho, preto, azul, amarelo etc. As calças compridas, mas nunca até os sapatos, trepado em pernas de pau e um megafone na mão a gritar, rua acima rua abaixo, acompanhado pelos garotos, gritava:
Hoje tem espetáculo ??
Os meninos respondiam:
– Tem sim senhor.
As 07 horas da noite?
-Tem sim senhor
Hoje tem palhaçada?
– Tem sim senhor.
Hoje tem marmelada?
– Tem sim senhor.
Hoje tem gargalhada?
– Tem sim senhor.
Arrocha negrada.
– Ieeeeeeeeeeeeeeeee
O palhaço o que é?
– Ladrão de mulher
Oh lêlê, tia Chica!
– arremexe a canjica.
Zabelê cantou no mato
Mato cru pegando fogo.
Arrocha negrada.
Ieeeeeeeeeeeeeeeeeee
O palhaço o que???
– Ladrão de muie
Arrocha negrada
Ieeeeeeeeeeeeeeeee
Novos bordões
Novos gritos e prosseguia

Até percorrem as ruas que obviamente não eram tantas. Os garotos que gritavam o palhaço, eram marcados no pulso com um sinal feito com carvão para exibir na portaria, a fim de poder assistir ao espetáculo, sem pagar a entrada.
A cidade ficava atenta.
O público comparecia acomodando-se nas arquibancadas ou trazendo seus bancos ou cadeiras para ficar mais confortável.
No horário previsto, com algum atraso, porque o circo era brasileiro, ao declarar aberta a função (o nome era esse mesmo e não entendi porque) o palhaço anunciava que o circo era pequeno no tamanho, mas grande nas suas apresentações artísticas.
Após saudar a distinta plateia, começavam as brincadeiras do palhaço, normalmente uma pergunta de duplo sentido bem como a resposta, a exemplo: em que lugar a mulher cheira bacalhau, o seu interlocutor respondia: no nariz; ou eu pensei q….. Dizia o palhaço e a plateia delirava e aplaudia; em que lugar a mulher tem o cabelo mais duro, o seu interlocutor respondia na África e daí por diante; trapezista que mais das vezes caia na rede de proteção já bastante remendada e que por isso fazia a plateia aflita prender a respiração; o malabarista atrapalhado que sempre deixava cair os malabares e finalmente o anúncio empolgado de alguém ao microfone:
Senhoras e senhores e agora o ponto alto do espetáculo, a internacional, a famosa artista chegada recentemente dos Estados Unidos com passagem pelo Caribe, a erótica e tão esperada rumbeira, que faz abalar os corações dos homens apaixonados.
E aparecia a musa da dança requebrada, e rebolada, sempre precedida de uma rumba que deixava enlouquecida a plateia.
O biótipo daquela vênus: normalmente era uma coroa de mais de 30 anos com as nádegas já flácidas e abundante celulite, vestindo um saiote tipo abajur, uma meia-calça surrada, com alguns fios esgarçados, mas nada disso importava. O que interessava mesmo era aquele monumento anunciado que se rebolava e dava umbigadas para a plateia masculina já erotizada, ao som de calliente rumba cubana. Era essa a parte mais demorada do espetáculo em face dos gritos de bis da plateia.
E finalizava o espetáculo ovacionada. Uma verdadeira loucura.

* Edson Ulisses de Melo é Desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe. Membro das Academias Sergipana de Letras Jurídicas e de Letras na Cadeira 36. Autor dos livros: Reflexões Cidadãs, Sabedoria Popular, Sabedoria Popular II e de diversos artigos jurídicos, notadamente na área de Direitos Humanos.

 

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