NÃO SE DEVE COMPRAR CAVALO SEM VER
Publicado em 19 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia
* Ary Moreira Lisboa
Do folclorista e historiador Leonardo Motta colhe-se muitas falas do nordeste e seus exímios cantadores e improvisadores, entre os mais famosos: Severino Pinto do Monteiro, Inácio da Catingueira, o Cego Aderaldo, os irmãos Batista, Loro, Dimas e Otacílio, Geraldo Amâncio, João Furiba e muitos outros. Dentre outras pérolas podemos aprender que "Existe três coisas que o homem não deve fazer: comprar terra encrencada; comprar cavalo sem ver; casar com mulher falada: vai ser corno inté morrer". Ou aquela do padre que recomendava ao pinguço deixar de beber; "Quá seo vigáro, hoje em dia só ai duas nação que não bebe; é sino e ovo. Sino pruque tá de boca pra baixo e ovo pruque já véve cheio". Sendo eu do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, apesar dos meus 85 anos, ainda não me adaptei aos novos hábitos instituídos pela avançada tecnologia, uma delas a internet, grande invenção com ampla divulgação, mundo a fora, uma porta aberta para espertos inescrupulosos. Ensinava Juvenal que : Cave! Tu nisi ventis debes ludibrium (Cuidado! Não sejas nunca ludibrio dos ventos). Ao que tudo indica a internet veio para ludibriar os incautos, que compram cavalos sem ver, sobretudo nas vendas on line. Não tenho por hábito adquirir produto algum via internet, principalmente por não saber com manuseá-la. Foi assim, que acicatado por meu sobrinho, Sady Neto, misto de ETEVE JOB e técnico eletrônico que tentei comprar dois computadores ao Magazine Luísa, por sua indicação e operação. Um dos quais deveria ser entregue em Salvador, no endereço de minha irmã Maristela Lisboa, por ocasião de seu aniversário que ocorreria no dia 7 de novembro de 2020. A compra foi efetua no dia 04 de agosto de 2020, com a recomendação de entregar o computador em Salvador na data da aniversariante. Embora tivesse pagado pelos objetos somente recebi um computador. A compra foi feita com pagamentos em prestações, que já foram liquidadas SETE. Depois de muitas idas e vindas com trocas de mensagens a Magazine informou que o computador havia saído de Manaus e estava em determinada agencia dos correios em Salvador. Como o objeto não fora entregue o Correio, acionado, informou que nada tinha saído de Manaus. A empresa informou o dia da entrega, que até hoje não chegou. A d. Luisa proprietária da empresa que leva seu nome foi considerada a mulher mais rica do Brasil. Pudera! Encontrou ela um processo mais promissor do que o do rei Midas, que precisava tocar em algum objeto para transformá-lo em ouro. A invenção de d. Luisa, ao contrário dispensa qualquer objeto físico, basta a internet e pagamento eletrônico. Pois sabedora da qualidade do povo brasileiro repleto de necios e de boa fé, poderia vender-lhes cavalo sem que tivessem que inspecionar suas bocas. Fosse o Brasil um país nimiamente civilizado, e não uma Uganda qualquer, certamente, esta empresa de há muito estaria fechada e seus dirigente presos. Mas "o Brasil não é para principiantes" Tom Jobim.
Vendo que me encontrava no mato sem cachorro, resolvi ingressar na justiça, esquecido do que havia dito o Ministro Gilson Di, ao afirmar que no Brasil existia três tipos de justiça: a boa, a ruim e a da Bahia e a da Bahia para ficar ruim teria que melhorar muito. Parece que o estágio de ruim, preconizado pelo ministro se afastou mais ainda, com a prisão de toda a cúpula do Judiciário da Bahia, por corrupção, fato inédito no país, para gáudio de Otavio Mangabeira que certa feita disse: "Pense num absurdo a Bahia tem precedente". Enquanto que Rui, consagrou: "Que e tanto triunfar as nulidade; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer as injustiças. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos ma us, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto". Ao optar pelo caminho jurídico, fiz valer da prioridade estabelecida pelo senador sergipano Antonio Carlos Valadares no Estatuto do Idoso, que faculta aos idosos a prioridade em alguns setores, inclusive a justiça. Esquecido da ruindade da justiça baiana, ingressei em novembro com pedido tramitando pelo Juizado de Pequenas Causas, mais célere como o nome indica, na esperança de que o caso seria resolvido com brevidade.. Para, finalmente receber o computador. Ledo engano! Mudei apenas de vendedor de cavalos. Decorridos mais de CEM dias sem que um passo fosse dado além da autuação e primeiro despacho, conclui que voltara a comprar cavalo sem ver, mudando apenas de vendedor. O processo foi tombado sob o nº 8000420.72.2020.8.05.0123, tramitando na comarca de Itanhem,BA. Sendo o Brasil reconhecidamente refugio de bandidos e proscritos de todas as procedências, – vide os locais escolhidos pelos diretores de cinema, para refugiarem seus maus personagens, – não se poderia esperar que deixasse de prosperar os maus exemplos de falcatruas e espertezas. BASTITES, RONALDO BIGS, ladrão de banco na Inglaterra, militares fugitivos, todos aqui encontram, não só guarida, mas sobretudo refugio, com os beneplácitos e cobertura de autoridades superiores, do judiciário inclusive. Não se surpreendam se o Magazine Luisa, continuar com sua política de vender, receber e não entregar o objeto comprado, se ela, sua dona, não alcançar o topo da mulher mais rica das Américas. O veio de ouro por ela descoberto é inesgotável. Não se deve esquecer que comprar cavalo sem ver é tão nefasto e perigoso como casar com mulher falada. E "Lo único pior que la ma la. salud es la mala fama". Gabriel Garcia Márquez in EL Amor no Tiempo del Colera.
* Ary Moreira Lisboa é advogado