O ônus do transporte coletivo
Publicado em 20 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia
Os empresários representados pelo Sindicato das Empresas do Transporte de Passageiros do Município de Aracaju (Setransp) estão acostumados a reclamar de barriga cheia. Entra ano, sai ano, pleiteiam o reajuste da tarifa de ônibus com os mesmos argumentos, amparados em uma planilha de custos flagrantemente fantasiosa. Ano passado, entretanto, sem que ninguém esperasse, eclodiu uma pandemia.
Pela primeira vez em muito tempo, apesar da choradeira habitual, o setor realmente está em apuros. Enquanto durou o isolamento social, boa parte dos trabalhadores esteve resguardada dentro de casa. A demanda por transporte coletivo caiu de maneira drástica. Os empresários de fato amargaram prejuízos.
Os trabalhadores rodoviários não querem saber dos protestos do patrão, com muita gordura pra queimar. Não aceitam arcar com os custos da crise. Ontem, pararam o trânsito. Sem garantia de reajuste salarial, articulam uma greve.
Poder de mobilização, os rodoviários já demonstraram. A pauta de reivindicações, as mais justas, também já foi posta à mesa. A categoria exige a contratação de cobradores, sem os quais motoristas de ônibus acumulam funções e ficam sobrecarregados. Também fazem questão dos benefícios cortados há quase um ano, desde o início da pandemia. Além disso, reclamam o pagamento dos salários atrasados por parte de uma das empresas que compõe o Setransp.
Nem os usuários do sistema, nem os rodoviários aceitam compensar as perdas dos empresários. O poder público municipal, por sua vez, não pode ceder à chantagem dos donos do dinheiro. Estes que invistam no futuro de suas empresas a fim de enfrentar a crise e sobreviver à pandemia.