Quinta, 16 De Janeiro De 2025
       
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Um ilustre desconhecido


Publicado em 24 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia


'Um som' deixa a desejar

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Em matéria de música, 
sou um amante à 
moda antiga. Escuto discos de cabo a rabo, sem pular as faixas. Jamais me dou ao trabalho de criar uma playlist. Há duas ou três coletâneas que fizeram a minha cabeça em tempos de carestia, eu confesso, antes de o Napster e o DJ Cafu facilitarem a circulação de cópias piratas na aldeia. Em geral, no entanto, escuto álbuns como quem lê um manifesto – ainda que este se detenha apenas sobre a dor de cotovelo, os apuros do coração.
Neste particular, o primeiro disco do sergipano Dami deixa a desejar. ‘Um som’ possui temas espertos e boas canções. O conjunto da obra, no entanto, peca por falta de unidade, não comunica um propósito, passa ao largo da coesão.
Competência não falta. Quisesse gravar um álbum de jazz calcado no balanço da boa música brazuca dos 70’s, por exemplo, Dami o faria. Infelizmente, contudo, o fruto parece ter sido arrancado ao galho ainda verde. Nesta primeira investida de fôlego, ele atira a esmo, sem alvo certo, sem a pretensão aparente de chegar a lugar algum.
Dami titubeia. Do mundão de referências apontadas no trabalho em questão, sobressai o afeto pela música afetuosa de Pantera (e, por extensão, a turma do Clube da Esquina), flertes astrais com Gilberto Gil e destacado pendor para as harmonias de quebrar os dedos. Ele próprio, contudo, não se afirma nunca como um ente criativo pleno da própria potência. Aqui, o compositor não propõe nada. Ao fim da reprodução, o ouvinte saberá de suas paixões musicais. O próprio autor, ao contrário, permanece praticamente anônimo – um ilustre desconhecido.

Rian Santos

Em matéria de música,  sou um amante à  moda antiga. Escuto discos de cabo a rabo, sem pular as faixas. Jamais me dou ao trabalho de criar uma playlist. Há duas ou três coletâneas que fizeram a minha cabeça em tempos de carestia, eu confesso, antes de o Napster e o DJ Cafu facilitarem a circulação de cópias piratas na aldeia. Em geral, no entanto, escuto álbuns como quem lê um manifesto – ainda que este se detenha apenas sobre a dor de cotovelo, os apuros do coração.
Neste particular, o primeiro disco do sergipano Dami deixa a desejar. ‘Um som’ possui temas espertos e boas canções. O conjunto da obra, no entanto, peca por falta de unidade, não comunica um propósito, passa ao largo da coesão.
Competência não falta. Quisesse gravar um álbum de jazz calcado no balanço da boa música brazuca dos 70’s, por exemplo, Dami o faria. Infelizmente, contudo, o fruto parece ter sido arrancado ao galho ainda verde. Nesta primeira investida de fôlego, ele atira a esmo, sem alvo certo, sem a pretensão aparente de chegar a lugar algum.
Dami titubeia. Do mundão de referências apontadas no trabalho em questão, sobressai o afeto pela música afetuosa de Pantera (e, por extensão, a turma do Clube da Esquina), flertes astrais com Gilberto Gil e destacado pendor para as harmonias de quebrar os dedos. Ele próprio, contudo, não se afirma nunca como um ente criativo pleno da própria potência. Aqui, o compositor não propõe nada. Ao fim da reprodução, o ouvinte saberá de suas paixões musicais. O próprio autor, ao contrário, permanece praticamente anônimo – um ilustre desconhecido.

 

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