Leão faminto
Publicado em 28 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia
Poucas realidades traduzem com tanta exatidão um quadro de injustiça tributária. No Brasil, os mais ricos gozam privilégios escandalosos enquanto os trabalhadores, maioria expressiva da população, carregam o país nas costas com o suor do rosto e o peso desproporcional dos impostos.
A desigualdade não é um dado novo. Segundo dados do Atlas da Exclusão Social no Brasil, de 1980 a 2000 apenas cinco mil famílias possuíam estoque de riqueza equivalente a dois quintos de todo o fluxo de renda produzido pelo país ao longo de um ano, o que equivale a 42% do PIB brasileiro ou, em média, R$ 138 milhões. Também pudera. Quem vive montado na grana quase não coloca a mão no bolso.
Levantamentos já revelaram que o imposto de renda cobrado aos ricos brasileiros é menor que o praticado na grande maioria dos países do G20. Embora a comparação internacional revele que, aqui, os mais abastados pagam menos imposto de renda, a carga tributária brasileira – ou seja, a relação entre tudo que é arrecadado em tributos e a renda total do país (o PIB) – é mais alta que a média.
Está tudo errado, mas é possível remediar as distorções, a fim de promover a igualdade. Em campanha, o candidato Jair Bolsonaro prometeu corrigir a tabela do imposto de renda. Eleito presidente, contudo, não move um dedo para aliviar a carga descomunal de impostos sobre o orçamento dos trabalhadores.
De acordo com um estudo do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal, pelo menos 10,5 milhões de brasileiros cujos rendimentos terminam abocanhados pelo leão deveriam estar isentos da cobrança de imposto.
A fome do leão é maior do que a própria juba. O bicho é um faminto. Segundo os dados do Sindifisco, devido à ausência de reajustes e correções abaixo da inflação, a tabela do Imposto de Renda acumula uma defasagem de 113,09% desde 1996 até o ano passado.
Tanta valentia deu em nada. Na prática, Bolsonaro aumentou o imposto.