FRANCISCO ROLLEMBERG EM TEMPO DE TRAVESSIA
Publicado em 14 de março de 2021
Por Jornal Do Dia
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
A primeira vez que ouvi falar de Francisco Rollemberg, se a memória não me trair, eu devia ter coisa de seis a sete anos. Meu pai, José Almeida Monteiro, vereador de Lagarto à época, era um entusiasta de sua atuação política no Congresso Nacional. Ele vinha de seguidas vitórias como deputado federal por Sergipe e era um dos nomes mais laureados da política nacional.
Nos fundos da casa de minha mãe, na esquina da Travessa Municipal com a Rua Senhor do Bomfim, havia um pequeno quintal. No chão, encontrei vários santinhos de políticos, entre eles, um de Francisco Guimarães Rollemberg. Fiquei impressionado com o que vi e perguntei ao meu pai de quem se tratava e ele prontamente discorreu um rosário de elogios. Entre as qualidades do político, sua humanidade e lucidez intelectual.
Guardei aquele santinho por vários anos, até se perder. Mas ficou, definitivamente, gravada na minha mente e em minhas memórias aquela primeira impressão, que levei para toda a vida. Entre os políticos sergipanos, Francisco estava entre aqueles que eu mais admirava, sem nenhum tipo de reserva.
Quis o destino e a vontade de Deus que eu tivesse não só a honra de conhecê-lo, mas também de gozar de sua amizade, companhia e admiração. Foi quando da oportunidade de frequentar as reuniões da Academia Sergipana de Letras e ser eleito para ocupar uma vaga no Movimento Cultural Antônio Garcia Filho, em 2010.
Ao longo de dez anos, tive inúmeras oportunidades de estar com ele e de conversarmos demoradamente. Homem de fala mansa e riquíssima, passa uma serenidade e uma paz de espírito sem igual. Fala conosco olhando nos olhos e com expressão de ternura e de candura. Até hoje, absorto, me pego pensado: Meu Deus, será verdade? É aquele home cujo santinho da campanha eleitoral passei a admirar? Sim, era ele sim: Francisco Guimarães Rollemberg.
Esse mesmo tempo se encarregou de criar outras peripécias e Francisco Rollemberg esteve entre aqueles que, com muita generosidade, propugnava meu nome para ocupar uma cadeira na Academia Sergipana de Letras. Resistente à ideia, por não me considerar à altura da honraria, ele procurava me convencer que era uma questão de tempo e até mesmo de mérito. E o foi graças, não somente ao seu voto, mas também ao seu apoio incondicional.
Em novembro de 2019, precisei fazer uma cirurgia de apendicite. Foi grande a minha surpresa e alegria, recebê-lo em minha casa em Lagarto, numa visita de cortesia e de solidariedade. Ele me presenteou com um Tal franciscano, que trouxe da Europa. Disse-me que se tratava de um amuleto, que me blindaria dos últimos e dos futuros reveses da vida em razão da exposição natural e recorrente.
Para além de confrade, também meu amigo. Sinceramente, não posso reclamar da vida e a Francisco Rollemberg rendo as minhas mais sinceras homenagens. Uma figura humana singular, exímio médico e escritor, valioso nas palavras e majestoso nas atitudes de apreço para com os que dele precisam e acorre. Desprendido de vaidades, cultiva duas das qualidades mais nobres no ser humano: humildade e bondade.
Natural da cidade de Laranjeiras, Francisco Guimarães Rollemberg acabou de lançar seu mais novo livro, que li num fôlego só: "Tempo de Travessia", pela editora J Andrade. Com comentários e revisão de João Lover e prefácio do jornalista Cleiber Vieira, a obra reúne crônicas, ensaios e poesias do autor, além de um documento histórico importante, referente a sua participação na XXX Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1975, na condição de observador político.
Tempo de Travessia é o título de um texto em homenagem ao saudoso Luiz Antônio Barreto. Além deste, outras personalidades e sujeitos merecem a sua atenção, a exemplo de Armindo Guaraná, Zózimo Lima, Murillo Melins, Cesartina, Garcia Moreno, Luiz Garcia, entre outros.
Como bem definiu Cleiber Vieira, Francisco Rollemberg "usa a caneta como um bisturi para mostrar o homem por dentro e por fora, conduzindo-nos à reflexão". Artífice da bondade, ele faz da sua pena a arte de fazer o bem e contempla o tempo como quem tem consciência que tudo é nada mais do que uma travessia, em que são necessárias mais pontes e menos muros.