Quinta, 16 De Janeiro De 2025
       
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Aracaju coberta de luto


Publicado em 17 de março de 2021
Por Jornal Do Dia


A capital de Sergipe celebra hoje o aniversário mais triste de sua história.

Rian Santos

Às vésperas do aniver- sário mais triste já ce- lebrado em Aracaju, com a cidade sob incontornável toque de recolher, coberta de luto, o ufanismo me assalta na forma de uma crônica escrita por Cleomar Brandi. Tarado pela capital sergipana, o lobo velho romantiza tudo com a ponta de sua pena. O tom é de arrebatamento. Ali, a cidade inteira é mudada em paisagem. 
‘Aracaju’, o texto premiado em um concurso de crônicas promovido pela prefeitura, evoca formas e cores, sem jamais mencionar a cidade em carne e osso – ao contrário do que ocorre em outras passagens do livro ‘Os segredos da loba’, por exemplo. Eu leio tais linhas, o testemunho naturalmente fantasioso de um homem apaixonado, e quase me esqueço que o autor se refere às mesmas esquinas, calçadas irregulares e becos fedendo a mijo de uma cidade habitada por crianças nos sinais, a terra natal de todos os meus pecados.
Justiça seja feita, a verve poética de Cleomar é tamanha, a ponto de o leitor fazer vista grossa e deixar passar batido o pendor para a idealização. Em ‘Aracaju’ ele lembra, por exemplo, ruas simétricas e as praças arborizadas "onde o aracajuano vai buscar a tranquilidade do entardecer à sombra de antigas árvores". A imagem é bonita, admite-se. A composição revela o seu gênio. Nem por isso trisca a pele da realidade.
Aracaju é muito mais do que geografia, arquitetura e paisagem. E já inspirou uma literatura atenta às contingências próprias da vida real, como os leitores de Newman Sucupira, Fernando Sávio e Amando Fontes bem o sabem. 
Aracaju passou anos a fio sob a guarda de um prefeito que não tinha condições de responder pelos próprios atos, à base de pão e água, problema já resolvido pelo sucessor Edvaldo Nogueira, reeleito em plena pandemia. Agora, a cidade enfrenta uma questão de vida ou morte, à mercê de um presidente insano, sob a falta de comando do poder central encastelado em Brasília. Aos cidadãos, contudo, importa esticar o braço fim de viver a vida, festejar quando a ocasião for de festa, receber a salvação em forma de vacina.

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