Hospitais se queixam da superlotação e da falta de insumos
Publicado em 17 de março de 2021
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
Representantes dos hos pitais da rede privada de Aracaju fizeram ontem de manhã uma reunião virtual com promotores do Ministério Público de Sergipe (MPSE) e do Ministério Público Federal em Sergipe (MPF/SE). O objetivo foi acompanhar a situação da ocupação de leitos para pacientes com Covid-19 nos hospitais particulares, diante do iminente colapso na rede de saúde. O relato dos representantes foi considerado preocupante, pois eles relataram altas taxas de ocupação das alas reservadas a casos de coronavírus, e que algumas dessas unidades já estão superlotadas.
"Assim como na primeira onda da Covid-19, os MPS estão monitorando a taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTI), dos apartamentos e enfermarias nos hospitais da rede particular. Lamentavelmente a situação atual é gravíssima! Dois dos grandes hospitais de rede estão com os serviços de urgência e emergência suspensos e não têm mais capacidade de ampliação. Quase 90% dos pacientes atendidos atualmente são de Aracaju. Nesta segunda-feira, 15, os Ministérios Públicos expediram recomendação ao Município de Aracaju para que amplie com urgência o grau de restrição das medidas atualmente implementadas", destacou a Promotora de Justiça de Defesa do Consumidor, EuzaMissano.
Durante a audiência, os MPs solicitaram à rede privada, em termos percentuais, o número de pacientes de Aracaju, considerando a taxa de ocupação de leitos, e informações sobre o atual cenário enfrentado pelas unidades de saúde. O resultado informado foi o seguinte:
– Hospital São Lucas: 97% de pacientes na UTI / 93% dos pacientes em outras alas – procedentes de Aracaju; dos 194 leitos do Hospital, 150 são pacientes Covid-19; mais de 90% são pacientes de Aracaju; possui estrutura física para aumentar a quantidade de leitos, mas não teria equipe médica, de enfermagem e de fisioterapia para atender os pacientes; recebe entre 18 a 20 pacientes com Covid-19 por dia, sendo que cerca da metade deles precisa de UTI.
– Hospital Primavera: 88% de pacientes na UTI / 88% em internamento – também de Aracaju; não há condições de ampliação de leitos, diante da ausência de ventiladores (respiradores); na primeira onda da Covid-19 chegou a 84 pacientes internados, enquanto na segunda onda chegou a 97 pacientes, registrados no dia 15; primeira onda cerca de 30% dos pacientes iam para UTI, na segunda onda acima de 50% dos pacientes necessitam de UTI.
– Hospital Unimed: 83% dos pacientes são de Aracaju; foram realizadas diversas adaptações no Hospital para atendimento aos pacientes, mas está esgotada a capacidade de ampliação, respeitando os espaços existentes e as equipes médicas para assistência; está em 126% da taxa de ocupação, com recursos humanos esgotados no mercado e sem vaga para pacientes graves; internou no mês inteiro de julho de 2020 (pico da primeira onda da pandemia) o mesmo número de pacientes em março de 2021 no período de 15 dias, demonstrando que a segunda onda é muito mais grave, devido a taxa de internação, gravidade dos casos e tempo de internação; os pacientes agravam em 24 horas, necessitando mais rapidamente de intubação.
– Hospital Renascença: 02 pacientes estão intubados na urgência e 06 pacientes estáveis esperando vaga na UTI, pois podem desestabilizar a qualquer momento; a urgência foi transformada em UTI de contingência para conseguir manter o atendimento para pacientes com Covid-19; 28 pacientes estão intubados na UTI.
– Hospital Gabriel Soares: atende apenas pacientes da Rede Hapvida; a média de ocupação é de cerca de 80 a 90%, já tendo atingido semana passada o patamar de 100%; 90% desses leitos Covid-19 são pacientes de Aracaju.
– Clínica Santa Helena: gestantes com Covid-19 são encaminhadas pelos hospitais gerais para realização dos partos na maternidade e posteriormente retornam para o hospital de origem; não possui UTI adulto.
Ao fim da audiência, os MPs informaram que vão adotar providências adequadas à gravidade da situação. Uma delas é o reforço da recomendação à Prefeitura de Aracaju, para que ela adote medidas mais restritivas para evitar a circulação de pessoas na cidade e a consequente disseminação do coronavírus. Outra será a abertura de um procedimento administrativo paramonitorar o fornecimento de oxigênio e outrosinsumos aos hospitais, já que as unidades se queixaram da falta do chamado Kit intubação COVID, de remédios como orelaxante muscular, e de objetos de uso hospitalar, bem como da dificuldade de fornecimento destes insumos.