General deve ir para a reserva
Publicado em 25 de maio de 2021
Por Jornal Do Dia
Há boas razões para o veto à participação de ofi- ciais das Forças Armadas em atos e eventos de natureza política. O esgarçamento das instituições promovido pelo governo Jair Bolsonaro, no entanto, ameaçava transformar qualquer regra afinada com o decoro em letra morta. Ao convocar o general Pazuello para o palanque fora de hora, último fim de semana, o presidente finalmente provocou uma reação à altura.
O comando do exército não aprovou a subserviência de Pazuello. E já abriu um processo disciplinar para apurar o ocorrido. As consequências ainda são imprevisíveis. Mas é certo que haverá punição exemplar. O comando também estaria pressionando para Pazuello finalmente passar à reserva.
É o que manda o bom senso. As ameaças autoritárias do presidente Jair Bolsonaro já conspurcaram por demais a imagem do exército brasileiro. Ao se referir à tropa como a uma milícia particular, pronta para defender interesses particulares, ao invés de obedecer à Contituição, Bolsonaro subordina todo o comando, dispensa aos generais da ativa o tratamento devido a uma reunião de velhinhas encarquilhadas.
Pazuello, o obediente, está em maus lençóis, mas não chegou lá sozinho. Há precedentes. Em março, na maior crise militar em mais de quatro décadas no país, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica. O novo ministro, Braga Netto, vem demonstrando alinhamento aos anseios do presidente. O general subiu num palanque em Brasília em ato de apoio a Bolsonaro, no último dia 15, quando chegou a reproduzir as asneiras já cometidas em diversas oportunidades pelo próprio Bolsonaro. A diferença entre Braga Netto e Pazuello é só uma: O ministro da defesa já passou à reserva.