Sábado, 18 De Janeiro De 2025
       
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E O CORDÃO DOS PUXA-SACOS CADA VEZ AUMENTA MAIS


Publicado em 03 de julho de 2021
Por Jornal Do Dia


 

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Em 1945, um grande sucesso marcou o carnaval brasileiro, de autoria de Roberto Martins e Erastótenes Frazã: "O cordão dos puxa-sacos". A canção ficou famosa na interpretação do grupo "Anjos do Inferno". O Brasil vivia um momento decisivo do ponto de vista político, pois após a vitória dos Aliados sobre as forças nazifascistas na Europa, seu governo ditatorial estava sendo colocado em questão. Os políticos se mexiam em manobras as mais espúrias e ainda conhecidas de nosso tempo para retomar a democratização do país e garantir a ascensão aos cargos e funções públicas, à base dos conchavos e dos velhos "tapinhas nas costas". 
Entre os versos da famosa marchinha, chamo a atenção para o trecho a seguir, bastante atual: "Quem está na frente / É passado pra trás / E o cordão dos puxa-saco / Cada vez aumenta mais". Assertiva que hoje serve para todas as situações dos relacionamentos humanos, dos mais "cândidos", como os religiosos", aos mais distintos e com pessoas revestidas de dignidade ou que se dão ou se vendem como tais.
Não era a primeira vez que o carnaval trabalhava o tema do "puxa-saquismo". Outro clássico de 1909, "No bico da chaleira", de Costa Júnior, interpretado por Almirante, Pixinguinha e Orquestra da Velha Guarda, também tratou do assunto. A expressão "bico da chaleira" referia-se ao senador, o general José Gomes Pinheiro Machado. Como bom gaúcho, cultivava o hábito de tomar chimarrão. No seu gabinete político, ao ser visitado por seus correligionários e aliados políticos, estes seguravam a chaleira para pôr a água quente no chimarrão do Manda-Chuva. "Pegar no bico da chaleira" virou representação de bajulação.
Em 1972, José Gomes Filho, o inesquecível Jackson do Pandeiro (1919-1982), gravou a canção "O puxa-saco", um dos sucessos do disco "Sina de Cigarra", produzido pela gravadora CBS, destaque para a passagem: "Vou arranjar um lugar de puxa-saco / Que puxa-saco tá se dando muito bem / Tô querendo é chaleirar / Eu não quero é trabalhar / Nem fazer força pra ninguém". Observem que ele usa a expressão "chaleirar" que remete à marchinha "No bico da chaleira".
Em 1997, foi a vez de Sandro Becker "homenagear" o puxa-saco, em canção intitulada "O puxa saco", de autoria de Ismael Carlos e Junior Sobrinho. Com um humor escrachado, ele não poupa a figura, que "para não perder o emprego, bota todo mundo no buraco".
Em 2010, o puxa-saco ganhou uma ode a sua categoria. Na voz de Zeca Pagodinho, de autoria de Alamir Filho, Levy Viana e Roberto Lopes da Costa", o samba "O puxa-saco" discorre inúmeros sinônimos e "qualidades" para o tipo: de chiclete à cão de guarda, passando ainda por "baba-ovo". Uma genial representação musical do bajulador brasileiro.
Há uma versão sobre a origem da expressão "puxa-saco", atribuída ao meio militar, dos quartéis brasileiros. Segundo consta, dava-se esta alcunha aos soldados rasos, de baixa patente, que eram obrigados a carregar sacos de alimentos para seus superiores, nas mais diversas situações, notadamente humilhantes.
Do ponto de vista semântico diz-se de alguém que "bajula, elogia muito alguém, geralmente buscando obter vantagens ou benefícios; bajulador", ou ainda: "que faz muitos elogios a; que demonstra grande admiração por; adulador". Via de regra, aquele que busca vantagens, sobretudo para suprir alguma falta de talento e capacidade. Aquele que se vende para galgar postos de distinção, muitas vezes sem nenhuma condição técnica, meritória ou que o valha.
A bem da verdade e antes que eu esqueça de fazer esse registro que reflete em muito alguns de meus posicionamentos de vida e de criação familiar, não tenho paciência, vocação e nem talento para bajulação e para bajuladores. Gratidão é diferente de submissão! Essas palavras até que poderiam render uma boa rima, mas prefiro ficar com a certeza de que é melhor ter um saco vazio do que uma dignidade forjada e fabricada.

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

Em 1945, um grande sucesso marcou o carnaval brasileiro, de autoria de Roberto Martins e Erastótenes Frazã: "O cordão dos puxa-sacos". A canção ficou famosa na interpretação do grupo "Anjos do Inferno". O Brasil vivia um momento decisivo do ponto de vista político, pois após a vitória dos Aliados sobre as forças nazifascistas na Europa, seu governo ditatorial estava sendo colocado em questão. Os políticos se mexiam em manobras as mais espúrias e ainda conhecidas de nosso tempo para retomar a democratização do país e garantir a ascensão aos cargos e funções públicas, à base dos conchavos e dos velhos "tapinhas nas costas". 
Entre os versos da famosa marchinha, chamo a atenção para o trecho a seguir, bastante atual: "Quem está na frente / É passado pra trás / E o cordão dos puxa-saco / Cada vez aumenta mais". Assertiva que hoje serve para todas as situações dos relacionamentos humanos, dos mais "cândidos", como os religiosos", aos mais distintos e com pessoas revestidas de dignidade ou que se dão ou se vendem como tais.
Não era a primeira vez que o carnaval trabalhava o tema do "puxa-saquismo". Outro clássico de 1909, "No bico da chaleira", de Costa Júnior, interpretado por Almirante, Pixinguinha e Orquestra da Velha Guarda, também tratou do assunto. A expressão "bico da chaleira" referia-se ao senador, o general José Gomes Pinheiro Machado. Como bom gaúcho, cultivava o hábito de tomar chimarrão. No seu gabinete político, ao ser visitado por seus correligionários e aliados políticos, estes seguravam a chaleira para pôr a água quente no chimarrão do Manda-Chuva. "Pegar no bico da chaleira" virou representação de bajulação.
Em 1972, José Gomes Filho, o inesquecível Jackson do Pandeiro (1919-1982), gravou a canção "O puxa-saco", um dos sucessos do disco "Sina de Cigarra", produzido pela gravadora CBS, destaque para a passagem: "Vou arranjar um lugar de puxa-saco / Que puxa-saco tá se dando muito bem / Tô querendo é chaleirar / Eu não quero é trabalhar / Nem fazer força pra ninguém". Observem que ele usa a expressão "chaleirar" que remete à marchinha "No bico da chaleira".
Em 1997, foi a vez de Sandro Becker "homenagear" o puxa-saco, em canção intitulada "O puxa saco", de autoria de Ismael Carlos e Junior Sobrinho. Com um humor escrachado, ele não poupa a figura, que "para não perder o emprego, bota todo mundo no buraco".
Em 2010, o puxa-saco ganhou uma ode a sua categoria. Na voz de Zeca Pagodinho, de autoria de Alamir Filho, Levy Viana e Roberto Lopes da Costa", o samba "O puxa-saco" discorre inúmeros sinônimos e "qualidades" para o tipo: de chiclete à cão de guarda, passando ainda por "baba-ovo". Uma genial representação musical do bajulador brasileiro.
Há uma versão sobre a origem da expressão "puxa-saco", atribuída ao meio militar, dos quartéis brasileiros. Segundo consta, dava-se esta alcunha aos soldados rasos, de baixa patente, que eram obrigados a carregar sacos de alimentos para seus superiores, nas mais diversas situações, notadamente humilhantes.
Do ponto de vista semântico diz-se de alguém que "bajula, elogia muito alguém, geralmente buscando obter vantagens ou benefícios; bajulador", ou ainda: "que faz muitos elogios a; que demonstra grande admiração por; adulador". Via de regra, aquele que busca vantagens, sobretudo para suprir alguma falta de talento e capacidade. Aquele que se vende para galgar postos de distinção, muitas vezes sem nenhuma condição técnica, meritória ou que o valha.
A bem da verdade e antes que eu esqueça de fazer esse registro que reflete em muito alguns de meus posicionamentos de vida e de criação familiar, não tenho paciência, vocação e nem talento para bajulação e para bajuladores. Gratidão é diferente de submissão! Essas palavras até que poderiam render uma boa rima, mas prefiro ficar com a certeza de que é melhor ter um saco vazio do que uma dignidade forjada e fabricada.

 

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