Jogo torturante II
Publicado em 24 de agosto de 2021
Por Jornal Do Dia
* Cleiber Vieira
De todas as desgraças que penetram no coração humano e lhes arruinam o caráter pela fortuna, a mais grave, sem dúvida nenhuma, é o jogo. O jogo na sua expressão mãe, o jogo na sua acepção usual, o jogo propriamente dito. Ou seja: os naipes, os dados, a mesa verde. Assim se referiu Rui Barbosa ao jogo, num passado distante.
A palavra jogo nem sempre representa representa o latim (jocus), isto é: gracejo, brincadeira, divertimento… tanto que se fala em jogos de guerra, e hoje é aplicado à política (jogo político), à corrupção, à sedução, ao jogo de caráter em troca do vil metal, tornando o político, na sua maioria, um ladrão que passa, aqui e ali, por homem de bem quando o butim o enriquece.
Parodiando Machado de Assis, digo que não é a ocasião que faz o corrupto, o corrupto já nasce feito.
No Brasil, como na Roma de Salustio, tudo está à venda, tudo é negociado, tudo pode ser corrompido; é o que fazem esses políticos, com raríssimas exceções ao que Aristóteles classificou como ciência e que tem por finalidade a felicidade humana.
Entre os políticos brasileiros parece não ser difícil encontrar quem venda a própria mãe, traia o pai, mate o filho para galgar um posto qualquer. Somos forçados a concordar com Voltaire quando diz que a política tem a sua fonte na perversidade. Sabia das coisas o velho ensaísta e iluminista francês, derrubando antecipadamenteo o pensamento de Pierre-joseph Proudhon, outro francês que, um século e meio mais tarde, afirmaria ser a política a ciência da liberdade.
Será a política uma espécie de guerra? Seremos obrigados a concordar com Mao Tse-Tung, ex-presidente da República Popular da China, que disse ser a política uma guerra sem derramamento de sangue, enquanto a guerra é política com derramamento de sangue? O certo é que assistimos hoje o desfilar de políticos (em sua maioria) sem nenhuma capacidade moral e intelectual. Moral!!! Moral para eles não passa de algo que "usam" para lutarem contra a ordem universal. Fazem da política um jogo, cujo prêmio é a desordem, o roubo e até a carnificina, se necessário. Ética então, não é bom nem falar. Estão com a consciência anestesiada, se é que a tem. São homens sem princípios. Para eles a ética se define como querer roubar, dever roubar, poder roubar. E é nesse vácuo que se propaga a corrupção. Claro que a corrupção não é uma invenção brasileira, mostramos isso ao referir-nos a Roma Antiga, mas a impunidade é uma coisa nossa. Essa pustula chamada política brasileira, corruptora dos estímulos morais, zomba das leis do país e goza das nossas caras e nivela a todos nós por baixo, por conta de sua promiscuidade, e nos leva ao mais baixo lodaçal do lixo social degradando princípios, calando vozes importantes. Que política é essa: virulenta, azeda, vil, nefasta a todos nós e preste a jogar a nação brasileira no reino da morte? Os que descerem ao inferno, não subirão! Este é o jogo: diatese cancerosa própria desses canalhas que roubam à sociedade brasileira tantos talentos. Entre esses patifes o que há é uma comunhão odiosa, amizades inverossímeis arruinando ideias e ideais, tripudiando sobre nós. Precisamos "enterrar" esses leprosos cadáveres que nos assustam, porque a guerra civil está logo ali, não nos iludamos!
* Cleiber Vieira, presidente da Associação Sergipana de Imprensa.