MÚSICA E POLÍTICA NO BRASIL – A ESCALADA DO CONSTRANGIMENTO
Publicado em 28 de agosto de 2021
Por Jornal Do Dia
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Não é de hoje a relação tênue entre música e política no Brasil, sobretudo em sambas-enredo de carnaval. Também são de longa data as manobras governamentais para censurar canções que causam embaraço e desconforto a certos regimes autoritários. Sobre a Ditadura Militar no Brasil, Haroldo Costa afirma que: "Na ditadura o povo não canta. O que canta é o cacete no lombo dos presos políticos…" (2007, p. 11).
E nesse sentido, cabe pensar bem a diferença entre ativismo político do artista e senso crítico criativo. Ambos geram consequências e muitas vezes os agentes culturais não têm noção do problema que podem gerar com o que dizem e não necessariamente com o que cantam. Em tempo de incertezas sobre o futuro democrático do Brasil, esse debate está na crista da onda e no olho do furação.
Antes, permitam-me recordar um momento significativo da História do Brasil onde essa associação música e política foi primordial para a redemocratização do país. Durante o movimento Diretas Já (1983-1984), muitos artista e cantores se envolveram na campanha e deixaram um legado importante: Gonzaguinha, Fernando Brant, Chico Buarque, Milton Nascimento, Geraldo Vandré, João Bosco, Aldir Blanco, entre outros.
Suas canções, algumas delas produzidas durante o regime militar no Brasil, eram usadas nos comícios e como uma espécie de som da democracia, eivadas de conteúdo político em prol da liberdade e denunciando as atrocidades daquela forma de governo, que alguns hoje ainda curtem um saudosismo sem sentido e sem fundamento político e histórico.
Durante a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, uma canção da dupla de Zezé di Camargo e Luciano fez muito sucesso e embalou os eleitores no país inteiro, passando uma mensagem de denúncia, mas também de esperança. À época, segundo dados extraídos da imprensa, a dupla levou cerca de R$ 1,27 milhões. Hoje, essa mesma dupla prefere ver o cão na frente a Lula. Vá entender!
Zezé di Camargo e Luciano, Amado Batista e Sérgio Reis, a meu ver de forma atabalhoada, têm sido pivores de posicionamentos políticos e atitudes as mais inusitadas e bizarras possíveis, colocando em risco a sua credibilidade artística, seu talento e sua empatia. Sérgio Reis, "o menino da porteira", inclusive, disse bobagem e responde caro pelo que afirmou, com um possível crime de incitação à violência.
É duro e doloroso ver artistas desse nipe, altamente populares, envolvidos em todo tipo de constrangimento social. Longe de tolher ou defender a censura de seus posicionamentos políticos. Mas, no caso deles, como de qualquer pessoa pública, palavras têm consequências e em que pesem suas carreiras e legados artísticos, há muito o que pesar e ponderar antes de dizer e agir.
No que diz respeito a esse flerte perigoso entre música e política, prefiro a máxima da canção de Fernando Brant e Milton Nascimento: "Todo artista tem de ir aonde o povo está". O cheiro do povo é mais preferível aos podres poderes, as relações espúrias e à contaminação de toda uma carreira marcada por criatividade, carisma e sucesso. Trocar tudo isso para estar bem com o maior mandatário da República é suicídio artístico. É vergonha e constrangimento alheio na pior acepção da expressão.