Domingo, 19 De Janeiro De 2025
       
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DE SÍLVIO PARA TOBIAS, COM A DEVIDA VÊNIA


Publicado em 18 de setembro de 2021
Por Jornal Do Dia


 

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
São notórios a admiração e o apreço pessoal de Silvio Romero por Tobias Barreto. Entretanto, isto não implicou numa subserviência absoluta. Nas inúmeras convergências entre um e outro, vale destacar que haviam divergências naturais, particularmente, no campo do pensamento.
Tobias é de 1839 e Sílvio, de 1851. Doze anos de idade separava o mestre do discípulo. Para além disso, também a lide com a filosofia e com as demais elucubrações mentais e discussões as mais aprofundadas possíveis, que fizeram da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século seguinte um dos mais promissores da intelectualidade nacional, em que eles figuraram como eminentes faróis, a iluminar e também a confundir as consciências.
Ambos, estiveram envolvidos na promissora Escola do Recife, às voltas com embates ideológicos em torno da liberdade, da abolição da escravatura, dos primórdios de um Brasil republicano, entre outras questões, inclusive no campo da sociologia, do direito, da história e da literatura. Críticos polemistas por natureza e com uma atitude contumaz, Sílvio e Tobias incendiaram a cena intelectual e política do país e seguem dando panos para as mangas em nosso tempo.
Com a morte precoce de Tobias Barreto, no dia 26 de junho de 1889, coube a Sílvio Romero propagar seu legado, sendo-lhe um dedicado editor. Em tempos recentes, essa tarefa ficou a cargo do saudoso Luiz Antônio Barreto, maior entusiasta de Tobias, depois de Romero, a quem lhe dedicou parte do tempo e dos esforços de escritor e pesquisador. 
Garantido o legado teórico de Tobias Barreto, coube também a Sílvio Romero a continuidade da militância diletante no campo da filosofia, entre outras bandeiras do genial filho de Campos. Afora isto, vale ressaltar o nível de intimidade e de liberdade entre eles que ficou registrada em várias correspondências, notadamente as que circularam entre os anos 1885 e 1889, de grandes reveses para Tobias, sobretudo no plano pessoal. 
Numa delas, implora Tobias a Sílvio: "Quero, pois, fazer-lhe um pedido: dada minha morte, salve a minha memória da garra dos infames". O escritor Hermes Lima (1939, p. 14), traduz assim o nível de proximidade entre ambos: "Sílvio Romero viu-o, muitas vezes, rir e chorar como uma criança, entregue ao drama da própria sensibilidade".
No conteúdo das cartas, além das demandas de ordem pessoal, do respeito e amizade entre eles, aqui e ali, também o que pensavam e discutiam, sem necessariamente concordarem. Para Luiz Antônio Barreto, em que pese o escopo aproximativo entre ambos, em quase toda a sua completude, em linhas gerais, o programa de Silvio Romero foi associado à denominação de culturalismo sociológico, alheia ao espírito filosófico do culturalismo praticado por Tobias Barreto, sem contar outros aspectos tão bem detalhados pelos que se dedicaram aos seus escritos diversos.
Dados a arroubos os mais enfurecidos, práticas muito comuns na arena intelectual e política da época, em que Sílvio Romero era impiedosamente virulento, ao mestre Tobias Barreto, a elegância no divergir e a devida vênia no contrariar e refutar, sem que ambos perdessem a serenidade, o respeito e a autoridade da qual eles gozavam entre seus pares e até mesmo, entre seus detratores e detratados.

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

São notórios a admiração e o apreço pessoal de Silvio Romero por Tobias Barreto. Entretanto, isto não implicou numa subserviência absoluta. Nas inúmeras convergências entre um e outro, vale destacar que haviam divergências naturais, particularmente, no campo do pensamento.
Tobias é de 1839 e Sílvio, de 1851. Doze anos de idade separava o mestre do discípulo. Para além disso, também a lide com a filosofia e com as demais elucubrações mentais e discussões as mais aprofundadas possíveis, que fizeram da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século seguinte um dos mais promissores da intelectualidade nacional, em que eles figuraram como eminentes faróis, a iluminar e também a confundir as consciências.
Ambos, estiveram envolvidos na promissora Escola do Recife, às voltas com embates ideológicos em torno da liberdade, da abolição da escravatura, dos primórdios de um Brasil republicano, entre outras questões, inclusive no campo da sociologia, do direito, da história e da literatura. Críticos polemistas por natureza e com uma atitude contumaz, Sílvio e Tobias incendiaram a cena intelectual e política do país e seguem dando panos para as mangas em nosso tempo.
Com a morte precoce de Tobias Barreto, no dia 26 de junho de 1889, coube a Sílvio Romero propagar seu legado, sendo-lhe um dedicado editor. Em tempos recentes, essa tarefa ficou a cargo do saudoso Luiz Antônio Barreto, maior entusiasta de Tobias, depois de Romero, a quem lhe dedicou parte do tempo e dos esforços de escritor e pesquisador. 
Garantido o legado teórico de Tobias Barreto, coube também a Sílvio Romero a continuidade da militância diletante no campo da filosofia, entre outras bandeiras do genial filho de Campos. Afora isto, vale ressaltar o nível de intimidade e de liberdade entre eles que ficou registrada em várias correspondências, notadamente as que circularam entre os anos 1885 e 1889, de grandes reveses para Tobias, sobretudo no plano pessoal. 
Numa delas, implora Tobias a Sílvio: "Quero, pois, fazer-lhe um pedido: dada minha morte, salve a minha memória da garra dos infames". O escritor Hermes Lima (1939, p. 14), traduz assim o nível de proximidade entre ambos: "Sílvio Romero viu-o, muitas vezes, rir e chorar como uma criança, entregue ao drama da própria sensibilidade".
No conteúdo das cartas, além das demandas de ordem pessoal, do respeito e amizade entre eles, aqui e ali, também o que pensavam e discutiam, sem necessariamente concordarem. Para Luiz Antônio Barreto, em que pese o escopo aproximativo entre ambos, em quase toda a sua completude, em linhas gerais, o programa de Silvio Romero foi associado à denominação de culturalismo sociológico, alheia ao espírito filosófico do culturalismo praticado por Tobias Barreto, sem contar outros aspectos tão bem detalhados pelos que se dedicaram aos seus escritos diversos.
Dados a arroubos os mais enfurecidos, práticas muito comuns na arena intelectual e política da época, em que Sílvio Romero era impiedosamente virulento, ao mestre Tobias Barreto, a elegância no divergir e a devida vênia no contrariar e refutar, sem que ambos perdessem a serenidade, o respeito e a autoridade da qual eles gozavam entre seus pares e até mesmo, entre seus detratores e detratados.

 

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