Puxadinho
Publicado em 28 de outubro de 2021
Por Jornal Do Dia
O Procurador Geral da República Augusto Aras está num mato sem cachorro. O relatório da CPI atribui diversos crimes ao presidente Jair Bolsonaro, com riqueza de documentos e indícios os mais robustos. A independência da PGR sob a sua guarda será mais uma vez colocada à prova.
O presidente é apontado pela CPI como um dos principais responsáveis pelo agravamento da pandemia. O relatório sugere que ele seja responsabilizado e investigado por dez crimes. Entre as imputações ao chefe do Executivo federal estão crimes comuns, que têm pena de prisão e/ou multa, crimes contra a humanidade e crimes de responsabilidade, que podem resultar em impeachment, em última instância.
O desconforto de Aras em razão de ser. Para cair nas graças de Jair Bolsonaro, os candidatos à Procuradoria Geral da República realizaram uma verdadeira campanha política, incluindo conversas a portas fechadas no Palácio do Planalto. Extraordinária, a mobilização tinha motivo. Segundo declarações do próprio presidente, o indicado teria de ser um aliado.
Dito e feito. O sub procurador Augusto Aras, promovido por Bolsonaro, não constava na lista tríplice elaborada pelos membros do Ministério Público, por meio de votação interna. No entanto, algo do que o candidato falou em conversa privada com o presidente foi suficiente para fazê-lo merecedor de um suspeito voto de confiança. Uma vez empossado, Augusto Aras passou a lidar com o pé atrás da população e de seus próprios pares.
O procurador encontra-se hoje no vórtice de uma crise política ímpar, o olho do furacão. Se engavetar o relatório da CPI, Aras transformará a PGR em um puxadinho do Palácio do Planalto.